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Godofredo procura Ana Luiza

Godofredo procura Ana Luiza



Godofredo era um gato amarelo, todo listradinho de laranja, com o focinho branco. Era pequenino, peludinho e um tanto travesso. Morava em um apartamento bem grande, onde havia espaço de sobra para ele brincar. Tinha ido parar ali quando ainda era um bebêzinho, tendo sido presente de aniversário de uma menina, Ana Luiza. Desde que os dois se viram pela primeria vez, tornaram-se inseparáveis. O sonho da menina era ter um irmão, mas seus pais, ao invés, tinham lhe providenciado o bichano. Ela não reclamou. No final das contas, tinha conseguido a companhia que queria.

Na cozinha do apartamento, tinha um espaço reservado para o Godofredo. Ele tinha uma tigela vermelha de água e um ratinho de plástico para brincar. Na hora de comer, Ana Luiza tirava a água e enchia o pote de ração. Dizia com carinho: 'Godô, tá na hora de papar!' O gato era meio enjoado para comer, e achava a ração bastante insossa. Mas não gostava de desapontar a menina, então comia tudo. Ana Luiza sempre jantava enquanto ele comia e, quando acaba, o levava para seu quarto para brincarem. Ana Luiza dava-lhe novelos de lã, ele se enrolava, desenrolava, e os dois riam e brincavam até a hora de dormir.

Um dia, Ana Luiza saiu e não voltou. Godofredo, a princípio, achou que ela poderia ter ido até a casa dos avós, ou de uma tia, ou saído numa excursão da escola. Esperou por ela o dia todo, desde a hora em que ela voltaria da escola até de noite. Nada. Já era bem tarde quando voltaram os pais da menina, sozinhos. Pareciam cansados, e seus olhares eram de preocupação. Godofredo ficou angustiado: o que estaria acontecendo? Onde estaria Ana Luiza?

A inquietação era muito grande para que o gatinho conseguisse dormir. Ficou rolando na sua caminha até o dia amanhecer. Assim que viu a primeira frestinha de sol entrando pela janela, fez algo que nunca fizera antes: fugiu de casa! Foi bastante fácil, para ele que era ligeiro, dar um pulo até a janela, e de lá pular no toldo do vizinho de baixo e assim continuar seguindo até alcançar o chão. Em minutos, estava na rua. Tudo parecia grande demais, barulhento demais, bagunçado demais. Era assustador. Mas nada o assustava mais do que não ver Ana Luiza. E assim, determinado a encontrá-la, o pequeno animalzinho saiu à caça de sua amiga.

Godofredo andou um pouco, até chegar a uma encruzilhada. De lá, não havia como passar. Vários caminhões e barracas fechavam a rua. Sentiu um cheiro que lhe parecia familiar. Resolveu seguir seu faro e seu instinto, e, quando viu, estava no meio de uma feira. Claro que ele já tinha visto o que era uma feira na televisão, mas nunca tinha estado em uma antes. Eram diversas barraquinhas, onde se via de tudo: legumes, verduras, frutas... e peixe, muito peixe! Só de olhar seu apetite se aguçava. Mas não podia parar, tinha que continuar a sua busca.

Na feira, tinham vários outros gatos. A cada um que passava, Godofredo se apresentava e pedia que levassem adiante sua mensagem. A mensagem era simples e direta 'Godofredo procura Ana Luiza'. Todos os gatos entendiam na mesma hora, e iam passando-a adiante. Mas ninguém sabia dela, nenhum gato tinha uma pista sequer. O pobre Godofedo, a esta altura, já ia ficando cada vez mais apreensivo. Será possivel que Ana Luiza tivesse, de fato, partido?

Horas e horas de procura sem resultado. Godofredo, tadinho, estava arrasado. Sem saber o que fazer, resolveu voltar para casa. Quem sabe lá ele poderia achar alguma pista que o levasse até sua amiga?

Quando chegou no prédio, levou um susto! O porteiro, ao vê-lo, agarrou com força. 'Godofredo, seu danado, não faça mais isso!' E o levou até seu apartamento. Quando tocou a campainha, Ana Luiza abriu a porta. Estava com os olhos inchados de tanto chorar. Abraçava e beijava seu amigo, repetindo o tepo todo:' Godô, seu doido, onde você se meteu? Achei que você tinha me deixado de vez!' Godofredo não entendia nada, mas estava tão feliz em vê-la que achou que nada mais importava.

Mais tarde, no quarto, Ana Luiza lhe contou o que acontecera. Tinha saído da escola direto para a casa de uma amiguinha, onde tinha sido convidada para uma festinha. Acabou ficando para dormir. Ana Luiza contou que se divertira muito, e que agora já era gente grande, pois tinha dormido sozinha fora de casa pela primeira vez. E contou ainda que sentiu muitamuitamuita saudade de seu Godô e que por isso tinha voltado para casa bem cedinho, e que ficara nervosa ao ver que ele tinha fugido.

Godofredo percebeu, então, que ele e Ana Luiza tinham tido um tremendo desencontro. E guardou esta lição. Se novamente viessem a se perder, esperaria por ela. Cada um foi para um lado, ficaram os dois desesperados! O importante é saber que, se você tem um amigo de verdade, ele nunca irá desaparecer.

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