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A historinha do dia

Gente,

a historinha do dia é curtinha e muito engraçadinha. Eu li quando estava no colégio, na época era a quarta série primária, em uma coleção da Ed. Ática chamada 'Para gostar de ler', que existe até hoje. Esta historinha está no volume dois, que traz textos de dois autores que gosto muito, Fernando Sabino - que escreveu a historinha de hoje - e Carlos Drummond de Andrade.

Fernando Sabino tem muitos livros bacanas, e eu me lembro do quanto eu gostei de ' O menino no espelho'. Não é um livro para criança pequena, mas é um livro que vale a pena ser lido. Escolhi esta historinha de hoje, 'Fuga', porque é realmente bonitinha, mostra o poder das crianças - o tal poder ultrajovem do CDA - e é de leitura fácil para os pequenos também. Porque nunca é muito cedo para apresentarmos nossos filhos aos nossos grandes autores, né? ;-)

É isto. Espero que gostem.

Mil beijos e bons sonhos!!!!
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Fuga - Fernando Sabino

FUGA - FERNANDO SABINO


Mal o pai colocou o papel na máquina, o menino começou a empurrar uma cadeira pela sala, fazendo um barulho infernal.

- Pára co
m esse barulho,meu filho - falou, sem se voltar.
Com três anos já sabia reagir como homem ao impacto das grandes injustiças paternas: não estava fazendo barulho, estava só empurrando uma cadeira.
- Pois então pára de empurrar a cadeira.
- Eu vou embora - foi a resposta.

Distraído, o pai não reparou que ele juntava ação às palavras, no ato de juntar do chão suas coisinhas, enrolando-as num pedaço de pano. Era a sua bagagem: um caminhão de plástico com apenas três rodas, um resto de biscoito, uma chave (onde diabo meteram a chave da despensa - a mãe mais tarde irá dizer), metade de uma tesourinha enferrujada, sua única arma para a grande aventura, um botão amarrado num barbante.
A calma que baixou então na sala era vagamente inquietante. De repente, o pai olhou ao redor e não viu o menino.Deu com a porta da rua aberta, correu até o portão:
- Viu um menino saindo desta casa? - gritou para o operário que descansava diante da obra do outro lado da rua, sentado no meio-fio.
- Saiu agora mesmo com uma trouxinha - informou ele.

Correu até a esquina e teve tempo de vê-lo ao longe, caminhando cabisbaixo ao longo do muro. A trouxa, arrastada no chão, iam deixando pelo caminho alguns de seus pertences: o botão, o pedaço de biscoito e - saíra de casa prevenido - uma moeda de 1 cruzeiro. Chamou-o, mas ele apertou o passinho, abriu a correr em direção à Avenida, como disposto a atirar-se diante do ônibus que surgia à distância.

- Meu filho, cuidado!
O ônibus deu uma freada brusca, uma guinada para a esquerda, os pneus cantaram no asfalto. O menino, assustado, arrepiou carreira. O pai precipitou-se e o arrebanhou com o braço como a um animalzinho:
- Que susto você me passou, meu filho - e apertava-o contra o peito, comovido.

- Deixa eu descer, papai. Você está me machucando.
Irresoluto, o pai pensava agora se não seria o caso de lhe dar umas palmadas:
- Machucando, é? Fazer uma coisa dessas com seu pai.
- Me larga. Eu quero ir embora.
Trouxe-o para casa e o largou novamente na sala - tendo antes o cuidado de fechar a porta da rua e retirar a chave, como ele fizera com a da despensa.

- Fique aí quietinho, está ouvindo? Papai está trabalhando.
- Fico, mas vou empurrar esta cadeira.
E o barulho recomeçou.
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A historinha do dia

Gente,

as postagens de hoje estavam prontinhas na caixa de saída. E aí, antes de abrir o blog, abri o meu email, para resolver umas coisinhas pendentes. E minha cunhada, uma das maiores incentivadoras do blog, que NUNCA me pede nada, pediu, pela primeira vez, uma historinha. E que não era para ela, e sim para a Cláudia, sua prima. Me contou o que eu já sabia, que a Cláudia tem quatro gatinhos que são filhos para ela. E me contou o que eu não sabia: que uma das gatinhas está doente há meses e que será sacrificada hoje. O pedido dela foi simples: 'escreva uma historinha para animar a Cláudia, que está muito triste.'

Eu não tive como dizer não. Eu não quis dizer não. Primeiro porque a Letícia nunca me pede nada, então só daí eu já atenderia. Depois, porque eu conheço e gosto muito da Cláudia. Por fim, porque eu me coloquei no lugar dela.

Foi a historinha mais difícil que já escrevi até hoje. Eu realmente me pus no lugar da Cláudia, senti a sua dor. Porque eu tenho duas cachorras, e duas gatas me tem. E o dia em que eu não as tiver mais, sofrerei muito...

Mas a história não é para ser triste! Ficou um pouco emotiva, porque este foi o estado no qual a escrevi. Mas acho que vocês vão gostar.

Cláudia, todo meu amor para você, hoje e sempre! Que a Kitty permaneça sempre no seu coração, te dando acalento nos dias frios e mantendo no seu rosto aquele sorriso gostoso da saudade. você tem meu telefone, precisando conversar, não hesite em ligar!

Para todos, um grande beijo. Para todos os que tem filhos em casa que não andam sobre duas pernas, mas deslizam sobre quatro patinhas, um beijo neles também.

Bons sonhos!!!
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Para Cláudia, com um beijo de saudades da Kitty


Miau, miau, miau, miau



Aquele era um lugar feliz. Como muitos lugares felizes que existem. Mas ali, especialmente, o amor era muito. Era um amor destes grandes demais, que não cabem no peito. Era um amor incondicional, destes de mãe para filho. Era assim o amor ali, da mamãe para os seus filhos. Que não tinham nascido de dentro dela, e nem poderiam. Porque seus filhos não andavam sobre duas perninhas, como andam os bebêzinhos. Eles desfilavam sobre quatro patas, com todo o charme dos gatinhos.

Chamavam-se Brown, Bob, Sy e Kitty, os gatinhos. Iguais e diferentes, ao mesmo tempo. Iguais na graça, na bossa que tem os felinos. Igual o amor que a mamãe tem por eles. E tão diferentes... Um mia, o outro também, tudo igual. Mas um é mais carinhoso, outro é teimoso, outra faz birrinha. O tempo todo, querem atenção e carinho. O tempo todo querem dizer: estamos aqui!

A mamãe, que se chama Cláudia, desdobra-se em cuidados com os quatro, igualmente. Sempre fez isto, e estava disposta a continuar assim para sempre. Só que nem sempre a vida acontece do jeito que a gente espera, e aí foi que um dia tudo mudou.

Tão carinhosa, tão linda, tão companheira. Um dia o miado ficou baixinho, como num suspiro de dor. A Kitty estava dodói. A mamãe, claro, começou a dar uma atenção mais especial à sua gatinha. Os irmãozinhos entenderam, nem reclamaram. E assim passou o primeiro dia, o segundo.

O que era para ser um algo à toa, virou um algo a mais. Um destes algo a mais que não podemos controlar. E passou a primeira semana, o primeiro mês, o segundo. O tempo foi passando. E o miado foi sumindo aos poucos.

Uma noite, a mamãe estava muito preocupada com sua gatinha. Tinha dados os remédinhos, feito muito carinho, mas alguma coisa a inquietava muito. Foi dormir, e então, para sua surpresa, viu a Kitty. Miando alto e feliz, sem dor. Aproximou-se devagar, mas não era preciso. Ao vê-la, Kitty correu e se aninhou em seus braços, ronronando baixinho. A mamãe fazia-lhe dengos e perguntou:

  • Você está bem, Kitty?

  • Eu estou muito bem, mamãe – Kitty respondeu.

  • E o seu dodói?

  • Passou!

  • Como?

  • Passou como passa o tempo. Passou como passa a vida.

  • O que isto quer dizer?

  • Que agora eu já não estou mais nos seus braços, mamãe! Eu agora moro para sempre no seu coração.

Ao ouvir isto, a mamãe pôs-se a chorar. Queria sua gatinha ali, nos seus braços, para sempre. A pequena e doce criatura lambeu-lhe as lágrimas, e com um doce sorriso, disse:

  • Não fique triste. Eu não estou! Toda a minha vida tive seu amor, e continuarei tendo. Para sempre amarei a você e aos meus irmãozinhos. Mas agora eu vou para outro lugar. Do alto do Céu, sempre olharei por vocês. Continuarei mandando meu amor e meu carinho. E você, mamãe, não tem razão mesmo para ficar triste. Eu não preciso estar ao seu lado. Eu estou dentro de você, para sempre! Eu estou mais feliz agora, sem dor. E você tem que ficar feliz também!

Cláudia não sabe o que aconteceu. Mas acordou, naquela manhã, com uma dor no peito, como um choro de adeus. E ao mesmo tempo, acordou leve, tranquila. Por saber que Kitty não sentia mais dor. E que estaria ali, em seu coração. Para sempre.

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A historinha do dia

Gente,

um passarinho verde pousou no meu ombro e ficou! Ando assim, feliz da vida, sem motivo - além dos óbvios: viver é bom e eu sou abençoada!

Trouxe mais uma historinha felizinha da vida para vocês. Para quem está feliz ficar mais feliz ainda. E para quem anda resmugando saber que a vida é doce!
Podem ler sem medo! Apesar do título, não há nenhuma referência ao Beto Barbosa!!! :-D

É isto. Espero que gostem!

Mil beijos e bons sonhos!!!
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Adocica!

Adocica!




Ele era um menino todo bonitinho, todo cheirosinho, todo educadinho. Tinha uns pais muito legais, uma irmã que era um amorzinho, uma porção de livros e uma coleção de carrinhos. Era para viver com um sorriso largo no rosto, mas, por uma razão desconhecida, o menino bonitinho tinha uma peculiaridade. Era mal-humoradinho demais.

Tudo o que acontecia ele via pelo lado negativo, e por isso estava sempre de cara fechada. Se seu time perdesse uma partida de futebol, ficava danado da vida, reclamando que o juiz tinha roubado. Mas se seu time ganhasse uma partida, ele não comemorava. Com a mesma cara de zangado dizia que o 'time deu sorte, quero ver na próxima rodada!'

Na escola e na rua, todos o conheciam, e sabiam deste seu defeitinho de fabricação. Riam, faziam graça com ele. Ele, nada! Nem um esboço de sorriso dava. Os amigos o apelidaram de Camarra, que era a abreviatura de Cara Amarrada. Ele não se importou. Achou até graça no apelido. Mas nem por isto riu.

Quando entrava alguém novo na turma, logo estranhavam o Camarra. Ele era sempre muito bacana com todo mundo, mas sempre com aquela cara cada vez mais fechada. Daí a pessoa, um pouco sem graça, cochichava com outro alguém ' acho que o Camarra não gosta muito de mim...' E este alguém, que já conhecia bem o Camarra, ria e respondia ' não é contigo, não! Ele é assim mesmo. Sempre com esta cara de quem chupou limão com sal!' E então o Camarra fazia outro amigo, que ria do seu jeito azedo de ser.

O Camarra tinha mesmo uma porção de amigos, e nunca tinha parado para pensar que vivia assim, de uma forma tão azeda. Ele tinha uma família e amigos que o amavam, por que deveria se preocupar em sorrir?

Mas aí um dia a vida muda. E mudou no segundo semestre, quando entrou uma menina nova na turma. E ela era linda, linda demais da conta! Tinha um vestido amarelo com a saia rodada, e quando ela corria, o vento sacudia a sua saia, e parecia que saiam raios de sol das rodas de seu vestido. E ela ria, como ela ria! Um riso gostoso, aberto, verdadeiro. Estava sempre com um sorriso nos lábios. Um sorriso destes que corta o rosto inteiro, indo de orelha a orelha. E o Camarra, ao vê-la assim, sempre tão alegre, sempre tão radiante, teve uma vontade. Vontade de andar de mãos dadas com ela.

Passaram-se dias antes que ele tomasse coragem de perguntar. Os amigos insitiam 'tentar não custa, vai lá!' E então ele resolveu arriscar. Um dia, depois da aula de música, quando saiam da sala de concertos e voltavam para a sala de aula, sussurou-lhe:

  • Você quer andar de mão dadas comigo?

  • Que? - ele falou tão baixinho que ela mal ouvira.

  • Você quer andar de mãos dadas comigo?

Ela sorriu. E respondeu:

  • No dia em que você estiver bem-disposto, eu vou. - E saiu saltitando.

Camarra não entendeu nada. Ele estava bem-disposto aquele dia! Esperou, pacientemente, até o dia seguinte, e quando iam para o recreio, perguntou:

  • Você quer andar de mãos dadas comigo?

  • No dia em que sua cabeça estiver boa, eu vou.- E novamente saiu saltitando.

Aí Camarra entendeu menos ainda. E a cabeça dele estava doendo, por acaso? Esperou, e no dia seguinte, depois da aula de inglês, perguntou:

  • Você quer andar de mãos dadas comigo?

  • No dia em que você estiver contente, eu vou. - E já ia saindo saltitante, quando Camarra, sempre tão paciente, impacientou-se. Segurou em sua mão e lhe disse, sério:

  • Eu estou contente hoje! Podemos andar juntos, então?

A menina do vestido amarelo levou um susto! Não por ele ter segurado na sua mão. Mas por ele ter dito que estava contente. Nunca tinha visto alguém contente aparentar tanto descontentamento. E disse:

  • Contente? Com esta cara amarrada? Eu achei até que você estava com dorzinha de barriga!

  • Não, não, eu estou bem, nada dói! - apressou-se em dizer o Camarra.

  • Então porque esta cara tão azedinha?

  • Ah, é porque eu sou assim mesmo.

  • E por que você é assim, mesmo?

  • Porque a vida é assim, sabe? Tem muita coisa ruim acontecendo por aí. A vida é bem amarga.

  • Adocica!

  • Que?

  • Adocica, ué! Se a vida é amarga, arranja açúcar, põe mel, brigadeiro ou sorvete. Adocica. A vida tem um lado bem doce também.

Camarra sorriu. Não porque concordasse com ela. Mas pelo jeitinho que ela falou. Sorriu um destes sorrisos sinceros e impensados, e ela gostou disto. Gostou tanto que lhe deu a mão. E saíram andando de mãos dadas.

Deste dia em diante, Camarra deixou de ser Camarra. Deixou a cara amarrada para trás, começou a sorrir sempre. Mesmo quando a menina de vestido amarelo disse que não podiam mais andar de mãos dadas, porque agora ela queria andar assim com o Tonico, ele fechou a cara. Deram-se um abraço apertado e continuaram amigos. E o Camarra, que agora era um cara feliz, tratou de andar de mãos dadas com a Maria, depois com o Paty, depois com a Ana e depois com mais ninguém, porque casaram e tiveram três filhos.

E lá na casa dele, todo mundo sorri. E se alguém, por algum motivo qualquer, diz que a vida amargou e fecha a cara, eles dão as mãos. E vão para a praia, para o parque, ou para qualquer outro lugar legal. Correm como crianças, comem sanduíche de mortadela e tomam picolé de chocolate. Fazem estas coisas bobas, sem motivo, que nos fazem rir um pouquinho. Para dar uma adocicada, e nunca esquecer que a vida é doce, doce que só ela. Basta querer!

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A historinha do dia

Gente,

eu não escondo a felicidade que eu fico quando me pedem uma historinha! Umas saem logo, outras demoram mais. Outras, estão sendo feitas e as mães nem sabem, porque ao invés de histórinha estão virando livrinhos...

Enfim, a Anne Michelle me mandou um email lindo, emocionante, ótima energia, me pedindo que contasse a historinha de suas princesas - que inclui, além das princesinhas apressadinhas, um anjinho que olha por elas. Passei o feriado pensando na historinha delas. Queria contar, mas de um jeito tão alto-astral quanto o email da Anne Michelle. Acho que consegui! Está aqui a historinha das princesas Taís Luiza, Maria Tereza e Anne Michelle, a quem eu mando um beijo especial.

É isto. Espero que gostem!

Mil beijos e bons sonhos!!!!
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Uma história de princesas

Uma história de princesas



Era uma vez uma princesa. Uma princesa muito bonita, que tinha muitos amigos e se divertia muito. Gostava de ouvir música e ler bastante. Vivia a sua vida de um jeitinho só dela, um dia após o outro, na intensidade máxima da juventude. Esta princesa soube um dia, por um destes acasos da vida, que não poderia ser mãe. E ficou um pouco chateda com isto. Mas como levava sua vida um dia após o outro, achou que não deveria gastar muita energia pensando no que não seria.

Um dia, uma anjinha resolveu descer à Terra. Daí a Dona Cegonha disse: 'você não está pronta, tem que esperar'. Mas ela queria muito, muito, muito, descer. Insistiu. A Dona Cegonha continuou seu discurso: ' calma,não tem ninguém te chamando ainda!' E saiu para fazer suas entregas.

Mal sabia a Dona Cegonha que ali, junto com suas encomendas, a anjinha estava escondida, doida para descer à Terra e curtir sua vida como menina. Quando aterrisarram e a Dona Cegonha a viu ali, ficou sem saber o que fazer:

  • E agora, menininha? O que vai ser de você?

  • Ah, Dona Cegonha, vê alguém aí que me queira!

  • Muita gente te quer, meu anjo, mas não estão te esperando...

  • Então vê aí alguém que curta uma surpresa!

Dona Cegonha pensou e pensou. A menininha ia chegar de surpresa e, por ter sido tão apressadinha, ia chegar antes do tempo. Não bastava ser alguém que gostasse de surpresas. Tinha que ser alguém paciente, forte, com coragem e determinação. Lembrou-se da princesa. Disse para a menininha:

  • Olha, tem uma princesa aí que não estava contando em ser mãe e que...

Não conseguiu nem terminar a frase! A menininha, apressadinha que só ela, já foi logo dizendo:

  • Já topei! Se ela é princesa, eu serei sua princesinha. Acertou em cheio, Dona Cegonha, nasci para a nobreza!

E aí a Dona Cegonha deixou a menininha ali na porta da princesa. A princesa, ao receber a encomenda, levou um susto daqueles! Era o maior presente que já tinha ganhado na vida, ficou muito feliz com a surpresa da Dona Cegonha, agradeceu muito. Queria que sua filha se chamasse Luiza, porque este era um nome de princesa. Mas achava que a menininha tinha cara de Taís. Decidida como sempre, logo decretou:

  • Minha princesinha querida, seu nome será Taís Luiza.

A menininha adorou! Gostava de ser Taís e gostava de ser Luiza. Achava que ter dois nomes assim tão bonitos era sinal de realeza mesmo.

A princesa e sua princesinha logo se tornaram mais que mãe e filha. Tornaram-se amigas, grandes companheiras. Onde a princesa ia, a princesinha ia atrás. Divertiam-se muito juntas. A princesa era só felicidade, achava que sua vida não podia ser melhor!

Um belo dia, aconteceu um novo imprevisto. Desta vez, não foi uma anjinha que quis descer. Foi erro da Dona Cegonha mesmo! Eram tantas encomendas acumuladas, que a Dona Cegonha pegou todas de uma vez e desceu à Terra. Saiu deixando os bebêzinhos nas portas das mamães que os haviam encomendado. Entregou um por um, até que... Um susto! Ela tinha trazido uma menininha a mais, por engano. Não era para a menininha ter descido à Terra, era para ela ter esperado mais um bocadinho no Céu. Mas ali estava ela, na Terra, sem ter para onde ir.

Dona Cegonha pôs-se a pensar. E agora, quem ficará com esta menininha? Daí, de repente, Dona Cegonha lembrou-se da princesinha Taís. E lembrou-se que era seu aniversário. E decidiu:

  • Escuta, menininha. Eu te trouxe por engano. Mas tem aí uma princesa Anne que adorou receber uma menininha por engano, e fez dela uma princesinha. Se você quiser, eut e deixo lá também.

  • Eu quero! - apressou-se em responder a menininha-. Vou curtir muito ser princesinha também!

Tudo pronto para a festinha de aniversário da princesinha Taís Luiza, toca a campainha. A mamãe correu para atender, imaginando que seria um presente para a Taís. Na porta, uma menininha esperava com um recado da Dona Cegonha, que dizia assim:

'Princesa Anne Michelle, você gostou tanto de ganhar uma menininha que eu trouxe outra. É um presente para você e sua princesinha, que agora já não fica mais sozinha!'

A princesa Anne não podia acreditar na sua sorte! Ganhara mais uma princesinha, era muita felicidade em um só castelo! Mais uma vez, ficou tão tão tão feliz que não conseguiu decidir por um nome só. E a batizou:

  • Minha pequena princesinha, seu nome será Maria Tereza, um nome forte para te dar forças!

E funcionou! A segunda menininha, tão apressadinha quanto a primeira, logo, logo estava enorme e nem parecia ter chegado antes do tempo.

A vida ali, naquele castelo, era um sonho. As princesinhas faziam tudo juntas, brincavam o dia inteirinho. Tinham uma enorme coleção de bonecas e adoravam penteá-las e dar-lhes banho. Um dia, acharam que ter boneca era legal, mas que talvez fosse mais legal ainda ter um bonequinho. Como as duas conheciam bem a Dona Cegonha, escreveram uma cartinha:

'Querida Dona Cegonha,

A vida aqui está danada de boa! Nós somos as princesinhas da casa, amamos muito uma à outra e nós duas amamos demais a mamãe. Mas a gente estava pensando se você não podia mandar um bonequinho prá gente. Está faltando uns carrinhos por aqui.

Beijos, das princesas Taís Luiza e Maria Tereza.'

Dona Cegonha leu a cartinha, olhou para a Terra. Viu que as princesinhas realmente se divertiam muito juntas. Viu que ali naquele castelo tinha amor de sobra e que um bonequinho seria bem-vindo. Daí a Dona Cegonha procurou e procurou e achou o bonequinho perfeito para presentear as meninas. Colocou em sua sacola e tomou o rumo da casa delas.

Só que a Dona Cegonha caprichou demais! Caprichou tanto que deu uma confusãozinha lá no Céu. Quando o bonequinho estava prontinho para ir para as irmãs, Papai do Ceú chamou a Dona Cegonha de volta, pensando que o bonequinho era um anjinho.

Dona Cegonha ficou bem chateada de não poder dar o boneqinhos que as princesinhas tinham pedido. E resolveu reclamar com Papai do Céu.

  • Escuta, Papai do Céu, eu não discordo de suas decisões, mas neste caso das princesinhas...

  • Sim, Dona Cegonha, o que tem?

  • Olha, elas me pediram um bonequinho, e eu já ia levando quando o Senhor o chamou de volta!

  • É verdade!

  • Mas então. Elas vão ficar danadas da vida comigo!

  • Não vão, não.

  • Ah, mas eu acho que vão, sim! Eu não entreguei o bonequinho que elas me pediram! Não dei o presente que eu havia prometido.

  • Pois você deu um presente muito melhor, Dona Cegonha!

  • Eu dei?

  • Claro que sim! As princesinhas já tem sua coleção de bonequinhas. Elas não precisavam de um bonequinho. Elas precisavam de um anjinho, e foi isso que eu providenciei. Agora, naquele castelo, além do amor que eles tem uns pelos outros na Terra, tem um grande amor, aqui no Céu, que vai para eles. Um anjinho muito especial, que sempre vai cuidar das princesinhas, as irmãzinhas que ele não chegou a conhecer, mas ama muito. E é por conta deste amor que ele ficou aqui. Para sempre proteger aquelas princesinhas...

E foi então que a Dona Cegonha se deu conta que tinha mesmo dado um presentão para as princesinhas. Elas eram uns amores, mas eram bem bagunceirinhas também! Era bom que tivessem mesmo um anjinho tão especial, só para cuidar delas.

E assim foi que o bonequinho virou anjinho, e as princesinhas não tiveram carrinhos...

Não tiveram? Qual o que! A princesa Anne tratou de encher as duas princesinhas de ainda mais amor e atenção, deu-lhes ainda mais bonecas e disse: 'se vocês quiserem brincar de carrinhos, é só me pedir! Não precisam mais encomendar nada à Dona Cegonha!'

E assim foi que aquele reino, que era para ser de uma princesa solitária, virou a vida de uma princesa e suas duas princesinhas. Um reino mágico, onde tudo era amor e carinho. Um reino lindo, todo cor-de-rosa, porque assim era para ser.

Do alto, Papai do Céu vê as três princesas juntas e sorri feliz. Ao seu lado, o anjinho está tranquilo. Tem feito um bom serviço em mandar cada vez mais amor às suas tão amadas princesinhas...



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A historinha do dia

Gente,

a historinha do dia fala de felicidade. E para falar de felicidade, uso a palavra tristeza muitas e muitas vezes. Não, não é um paradoxo. É uma complementação.

Quem nunca ficou triste na vida? Todo mundo fica triste, pelos mais variados motivos. E quem nunca teve um momento de grande felicidade na vida? Todo mundo também já foi feliz. Por isso, felicidade e tristeza andam juntas. Porque a tristeza existe, sim, é normal - e até saudável - que sintamos dor. Mas é mais saudável ainda não se deixar dominar pela tristeza, não ficar remoendo dores passadas, não cultivar um sentimento de melancolia, uma energia de insatisfação. Vivamos o presente. O nome já diz tudo: presente! Aproveitemos cada dia de nossas vidas com muita alegria, porque o ontem já se foi, o amanhã ninguém sabe. Mas hoje, o dia de HOJE, é maravilhoso! Porque estar vivo é uma grande benção e isto, por si só, já é motivo para muitas gargalhadas! :-)

Escrevi a historinha para uma pessoa muito especial na minha vida. Para que ela leve esta mensagem adiante. Mas serve para todo mundo. Que todos levemos nossa vida como no samba, dizendo 'é melhor ser alegre que ser triste, alegria é a melhor coisa que existe' - e sem continuar, porque o Samba da Benção é meio triste, né? :0)

É isto. Espero que gostem, que o feriadão de todos tenha sido nota dez e que a historinha os ajude a enfretar o domingão pré nova semana se inicia...

Mil beijos e bons sonhos!!!
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Bom dia, alegria!

Bom dia, alegria!



Era uma grande floresta, onde viviam muitos animais. O ar era fresco, a grama macia e o rio, cristalino. As cores da flores faziam com que todo o lugar parecesse um enorme e bem-cuidado jardim. Mas, ainda assim, por algum motivo desconhecido, a floresta era triste.

Os bichos que viviam ali estavam sempre com aquele ar de 'me-deixa-quieto-aqui', cada um curtindo uma fossa diferente. Uns desanimavam-se com o trabalho, outros com a falta de dinheiro. Havia quem se entristecesse com a situação política, outros choravam causas religiosas. E haviam muitas, muitas dores de amores. Cada um tinha um motivo, e todos eles eram válidos. E assim, naquela floresta a melancolia não tinha fim.

Só que tinha um bichinho, uma pequena lagarta, que descurtia aquilo tudo. Ela não tinha esta tendência dos outros a ficar triste, e passava a vida indo de um em um dizendo ' vamos lá, alegria!'. Sorria muito, e para todos, o tempo inteiro. Tentava irradiar bom humor, contagiar aos demais. Mas os outros estavam tão encimesmados em suas tristezas que não lhe davam pelota.

A lagarta não desistia. Ela dizia que a felicidade está dentro de nós, tal qual a tristeza. E que ser feliz é uma escolha de vida. Repetia isto sem parar, nos quatro cantos da floresta, tentando influenciar alguém. Nada. O pessoal dali curtia muito ser triste. Especialmente os das dores de amores: ô gente para gostar de uma dor de cotovelo! A lagarta dizia que eles amavam mais a tristeza do que os amores perdidos, mas eles nem tchuns! Ficavam ali naquela, naquele marasmo eterno, olhando para trás e reclamando do que passou.

Por ser sempre tão alegre, a lagarta tinha o cuidado de não se deixar contaminar pelo clima do lugar. Quando ela achava que estava começando a ficar sem energia, corria para as flores. Ia de uma em uma, pulando como se pula amarelinha, indo para lá e para cá, sempre rindo, cantando alto, fazendo uma bagunça danada. As flores, que adoram uma gente feliz, adoravam tê-la ali e caprichavam em seus perfumes quando recebiam a ilustre visita.

Um dia, depois de pular e brincar muito no meio das flores, a lagarta sentiu um cansaço enorme, um destes cansaços mortais que dominam uma pessoa. Era chegada a hora, ela sabia. Aninhou-se em uma árvore e fez um casulo, dormindo um bom tempo aquele sono da transformação.

Enquanto a lagarta dormia, a floresta foi ficando cada vez mais e mais triste, com os bichos cada vez mais deprimidos, cada um amargando a sua dor. O lugar foi se tornando, aos poucos, uma floresta de vidas sem vida.

Até que, numa tarde de sol, a lagarta acordou de seu sono. Crec, crec,crec, o casulo começou a ser quebrado, de dentro para fora. E eis que saiu dele, então, não mais a velha lagarta, mas uma nova e linda borboleta.

A borboleta era a coisa mais linda do mundo! Tinha asas enorme, completamente coloridas. A borboleta trazia consigo as cores de todas as flores e uma felicidade do tamanho do mundo. Voava lindamente e estava disposta a afastar a tristeza dali, de uma vez por todas. Arranjou uma violinha e logo no seu voo inicial pela floresta, arriscou um sambinha 'é melhor ser alegra que ser triste, alegria é a melhor coisa que existe, é assim como a luz no coração...' Ficava repetindo estes versos como seu fosse um disco quebrado.

Parou ao lado de uma colmeia entoando seu sambinha. A rainha abelha curtiu o som, e mandou que as operárias acompanhassem a borboleta no sambinha. Em dois tempos não havia mais tristeza na colmeia, e a rainha mandou que algumas abelhas pegassem um bocado de mel e espalhassem por aí.

As abelhas foram seguindo a borboleta, umas acompanhando no samba, outras levando o mel. Iam numa felicidade de dar gosto e acabavam fazendo graça. Os outros bichinhos, aos pouquinhos, começaram a entrar naquela onda, e foram deixando a tristeza para lá. Alguns demoraram mais, estavam muito acostumados com a vida que tinham e não queriam mudar. Mas foram cedendo, também, com o passar dos tempo. O mais difícil foi convencer o pessoal das dores de amores. Estes ficaram tanto tempo naquela amargura do que tinha passado que não conseguiam ver que a vida é um grande presente, e por isso o samba existe.

Mas como a borboleta era teimosa que só ela, não se deixava vencer pela melancolia. E continuava cantando e cantando e cantando sem parar. Ficava sem voz e continuava ali, rouca, num samba sem fim. E aí não teve jeito. Até aqueles das dores de cotovelo cederam e caíram na música: 'é melhor ser alegre que ser triste, alegria é a melhor coisa que existe, é assim como a luz no coração...'

E aquela floresta, tão bonita e tão tristonha, agora só há cor e música! Os bichinhos que vivem ali estão sempre alegres, mesmo quando ficam tristes. Sim, porque a tristeza existe. Mas eles descobriram que a felicidades mora dentro de nós. Então, quando a tristeza chega, numa destes momentos de dor em que ela tem que chegar, eles param um minutinho. Ficam ali, de cara com ela, e choram um pouquinho. Daí, enxugam as lágrimas, deixam-nas ali, naquele instante solitário de melancolia. E se preparam para cair no samba: 'e melhor ser alegre que ser triste, alegria é a melhor coisa que existe...' Porque é muito melhor ser feliz mesmo!

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A historinha do dia + Artigo para os pais + Poesia


Gente,

a historinha do dia dispensa o uso de muitas palavras. Basta uma, aliás. Sensacional! Como muitas da Ruth Rocha, claro. Mas esta é realmente o máximo. Mostra
às crianças não apenas o valor do dinheiro, mas ensina o valor de suas opiniões. E é muito engraçada! Tenho certeza que todos irão gostar muito! :-)

Eu não tinha conseguido colocar ontem, hoje coloquei algumas fotinhas no artigo ' Como montar uma biblioteca mirim'. Este aqui em cima é o Davi, brincando com seus livros. Todos os dias eu sento com ele, espalho os seus livrinhos 'indestrutíveis' e digo, 'vamos brincar com os nossos amigos, filho!' E ele adora. Para ele, é farra mesmo. Você tem dúvidas de que ele vai crescer associando livro à algo prazeroso? ;-)

E temos, mais uma vez, uma linda poesia de Ivone Jorge para colorir o nosso dia. Obrigada, mais uma vez, por dividir conosco sua lindas palavras, Ivone!

É isto. Espero que gostem.

Mil beijos e bons sonhos!!!
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Como se Fosse Dinheiro - RUTH ROCHA


Como se Fosse Dinheiro - RUTH ROCHA


Todos os dias Catapimba levava dinheiro para escola para comprar o lanche.

Chegava no bar, comprava um sanduíche e pagava seu Lucas.
Mas seu Lucas nunca tinha troco.

Um dia, Catapimba reclamou de seu Lucas:
- Seu Lucas, eu não quero bala, quero meu troco em dinheiro.
- Ora, menino, eu não tenho troco. Que é que eu posso fazer?
- Ah, eu não sei! Só sei que quero meu troco em dinheiro!
- Ora, bala é como se fossa dinheiro, menino? Ora essa...
Catapimba ainda insistiu umas duas ou três vezes.
A resposta era sempre a mesma:
- Ora, menino, bala é como se fosse dinheiro... Então, leve um chiclete, se não gosta de bala.

Aí, Catapimba resolveu dar um jeito.
No dia seguinte, apareceu com um embrulhão de baixo do braço. Os colegas queriam saber o que era. Catapimba ria e respondia;
- Na hora do recreio, vocês vão ver...

E, na hora do recreio, todo mundo viu.
Catapimba comprou o seu lanche. Na hora de pagar, abriu o embrulho. E tirou de dentro... uma galinha.
Botou a galinha em cima do balcão.
- Que é isso, menino? - perguntou seu Lucas.
- É pra pagar o sanduíche, seu Lucas. Galinha é como se fosse dinheiro... o senhor pode me dar troco, por favor?
Os meninos estavam esperando para ver o que seu Lucas ia fazer.
Seu Lucas ficou um tempão parado, pensando...
Aí colocou uma moedas no balcão:
- Está aí seu troco, menino!
E pegou a galinha, para acabar com a confusão.

No dia seguinte, todas as crianças apareceram com embrulhos debaixo do braço.
No recreio, todo mundo foi comprar lanche.
Na hora de pagar...
Teve gente que queria pagar com raquete de pingue-pongue, com papagaio de papel, com vidro de cola, com geléia de jabuticaba...

O Armandinho quis pagar um sanduíche de mortadela com o sanduíche de goiabada que ele tinha levado...

Teve gente que também levou galinha, pato, peru...
E, quando seu Lucas reclamava, a resposta era sempre a mesma;
- Ué, seu Lucas, é como se fosse dinheiro...

Mas seu Lucas ficou chateado mesmo quando apareceu o Caloca puxando um bode.
Aí, seu Lucas correu e chamou a diretora.

Dona Júlia veio e contaram pra ela o que estava acontecendo.
E sabe o que ela achou?
Pois achou que as crianças tinham razão..
- Sabe, seu Lucas - ela falou -, bode não é como se fosse dinheiro. Galinha também não é. Até aí o senhor tem razão. Mas bala também não é como se fosse dinheiro muito menos chiclete.
Seu Lucas se desculpava:
- É, mas eu não tive troco?
- Aí, o senhor anota, e no outro dia paga.

Os meninos fizeram uma festa, deram pique-pique pra dona Júlia e tudo.
Naquele dia, nem houve mais aula.
Mas o melhor de tudo é que todos do bairro ficaram sabendo do caso.

E, agora, seu Pedro da farmácia não dá mais compridos de troco, seu Ângelo do mercado não dá mais mercadoria como se fosse dinheiro.
Afinal, ninguém quer receber um bode em pagamento, como se fosse dinheiro. É, ou não é?
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Parque da fantasia - Ivone Jorge

Parque da fantasia

No parque de diverão
o mundo é encantado
roda gigante de alegria
sonho livre abençoado

No carrinho de faz de conta
o palhaço é brincalhão
a pipoca é colorida
até o doce é de algodão

A musica é divertida
a dançar bolas de sabão
a magia é iluminada
no espanto da multidão

Gargalhadas de alegria
fecha os olhos e ouve só
sorri e aprecia
o prazer que está em nós

IVONE JORGE
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A historinha do dia + Artigo para os pais

Gente,

a historinha de hoje não seria esta. Mas eu tomava banho e esta história me veio inteirinha à cabeça, da primeira à última linha. Daí, antes que ela fugisse de mim, resolvi postá-la. Espero que gostem.

Há muito tempo que eu não escrevia nada direcionado aos pais, além destes artigos que explicam a historinha do dia. Eu li, há alguns dias, um artigo da Flávia Thomé recomendando uns livros e dvds para crianças. Fiquei louca para fazer a mesma coisa! Com livros, claro, porque eu nem conheço tantos dvds assim ( O Davi vê mesmo a Galinha Pintadinha e o Doki, não tem jeito). Assim, escrevi um artigo para os grandinhos, 'Como montar uma biblioteca mirim'. O artigo ficou bem grande, porque dividi as fases das crianças, de recém-nascidos aos maiores de 10 anos. Dou, além de recomendações de autores e livros, dicas gerais para se montar uma boa biblioteca infanto-juvenil. Coloquei em uma categoria própria ' Montando uma biblioteca mirim', porque o acesso fica mais fácil. É só ir na barra lateral direita, na seção categorias e pronto! O artigo estará lá.


É isto. Espero que gostem.

Mil beijos e bons sonhos!
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Os donos da Verdade


Os donos da Verdade



Era uma casa que não era verde, era esverdeada. Talvez já tivesse sido azul, branca ou prata, mas agora tinha o mesmo tom em todos os cantos. Um verde monótono, que a cobria por inteiro. Tudo ali ficava verde, assim que entrava na casa. Podia se comprar algo novinho, como um suéter ou um par de meias. Era entrar na casa e pronto. Tudo ficava verdinho, verdinho.

Nesta casa, vivia uma família que se julgava muito, muito importante. Eles diziam ter o maior dos bens, diziam-se detentores de grande poder. Diziam ser os donos da Verdade. Os pais eram os donos da Verdade absoluta: o que diziam era lei, todo mundo tinha que concordar e ponto final. Os filhos eram os donos da Verdade relativa: eram os donos de todas as verdades do mundos, desde que não contrariassem as verdades dos pais.

As pessoas que ali viviam, ao contrário da casa, não eram verdes. Eram acinzentadas. Pareciam fotografias muito antigas que foram esquecidas dentro do armário. Tinham uma não-cor esquisita. E não se incomodavam com isto.

A casa esverdeada não recebia muitas visitas. Isto porque as pessoas acinzentadas não tinham muitos amigos. O que era estranho, porque as pessoas acinzentadas eram novas, saudáveis e bem dispostas. Era para adorarem ter um montão de amigos! E elas gostavam de conhecer gente nova. E, quando as pessoas as conheciam, até gostavam delas. Mas, com o tempo, iam ficando um pouco enjoadas. É muito difícil ser amigo de um dono da Verdade! Você pode ter uma ideia ou um pensamento legal, daí você conta, mas... o dono da Verdade diz que você está errado. Sempre, sempre. Se não é o que ele considera certo, está errado. E sendo ele o dono da Verdade, não há argumento. E é por isso que os donos da Verdade não tem amigos.

Os donos da Verdade, por acharem a Verdade um bem valioso demais, não a deixam respirar. A Verdade deles fica trancada dentro de casa, coitada, sem poder sair para tomar um ar! E aí as ideias das pessoas cinzas ficam assim, sempre presas, sempre trancafiadas a sete chaves. Não passeiam, não conhecem gente, não se inovam. Estão sempre ali, no mesmo lugar, paradas. Ficando cada vez mais velhas, cada vez mais verdes. Vão mofando e mofando, como tudo que tem naquele lugar.

Um dia, os vizinhos da casa esverdeada venderam a casa. E a família que se mudou para ali era genial.

Os novos vizinhos eram pessoas coloridas. O pai era preto, a mãe amarela. O filho mais novo tinha cabelo marrom, a filha mais velha tinha bochechas rosadas. E a avó, de mais de cem anos, tinha cabelos azuis. Tudo ali tinha cor, tudo ali era novo, tudo tinha um frescor e uma suavidade de quem acabou de chegar. Até a avózinha parecia jovem. E era mesmo.

As pessoas acinzentadas estranharam os novos vizinhos. Olhavam aquela casa, sempre cheirosa e com as janelas abertas, com desconfiança. Por que eles deixavam tudo seu exposto? Será que eles não percebiam que suas ideias podiam fugir pela porta?

Aí, aconteceu o que era esperado. Numa tarde, uma criança cinza cruzou na rua com uma criança acinzentada. Disseram oi, e só. Mas eram dois meninos, e dois meninos não conseguem parar no oi. Marcaram de se ver de novo. No dia seguinte, jogaram bola. No outro, andaram de bicicleta. No terceiro dia, o menino acinzentado tentou impor a sua Verdade para o menino do cabelo marrom. Mas o menino do cabelo marrom não se importou com isso. Ouviu o que seu amigo disse e não discordou. Encerrou o assunto, afirmando ' você tem a Verdade, eu tenho a minha!'

O menino acinzentado voltou prá casa injuriado. Que petulância tinha o seu vizinho em não aceitar a sua Verdade. Quase não conseguiu dormir, de tanta raiva. Mas, no dia seguinte, acordou pensando no que acontecera. E, curioso, resolveu ouvir a Verdade do amigo.

E então o menino acinzentado procurou o menino do cabelo marrom e pediu que ele lhe contasse a sua Verdade. E o menino do cabelo marrom riu muito, e explicou que casa um tem a sua Verdade e que todas são válidas. O menino acinzentado ficou confuso.

Com o passar do tempo, o menino acinzentado foi ficando cada vez mais amigo do menino de cabelo marrom e de sua família. E foi descobrindo que o amigo estava certo. Cada um tinha a sua Verdade. Ao notar isto, soube que nem ele e nem seus pais eram donos de Verdade alguma. E foi comunicar isto aos pais.

Os pais dele, claro, não aceitaram as novas ideias do filho e queriam mantê-las ali, trancadas junto das outras. Mas o menino acinzentado já estava deixando de ser cinza, e o pais não podiam fazer nada.

O menino acinzentado, que agora já estava ficando meio clarinho, começou a abrir as janelas da casa para arejar. Aos poucos, as ideias foram saindo, saindo. Voltavam, mas voltavam renovadas. As coisas foram, devagarzinho, perdendo o tom esverdeado.

Demorou ainda bastante tempo até que toda a família acinzentada ouvisse o menino, e seguisse o que ele pedia. Mas, com o tempo, o menino, o ex-acinzentado, conseguiu ser ouvido. Todas as Verdades daquela casa puderam sair para dar um passeio. Conheceram outras verdades, conheceram novas ideias e ideais. E remoçaram-se.

E assim foi que, um belo dia, a casa deixou de ser esverdeada e as pessoas deixaram de ser acinzentadas. E quando alguém, brincando, perguntava: ' e então, como vão os donos da Verdade?', eles apenas riam e diziam: ' a Verdade não tem dono. Ela pára aqui e ali, muda de dono, muda de ares. Tem que se movimentar o tempo todo, tem que se renovar. Senão, não tem jeito. Mofa.'