Passarinho

                                                          Passarinho  

Era uma vez um passarinho. Era muitas vezes um passarinho,
em diferentes histórias.
Este não era diferente dos outros. Pelo contrário,
era até muito comum.
Acordava, piava, cantava, comia, saía,
voltava para o ninho, piava, dormia.
Dia após dia, esta era a vida do passarinho.
Passarinho não se queixava, gostava da vidinha que levava.
Um dia, porém, a vida mudou.
Na árvore onde passarinho tinha ninho,
tinha gente interessada.
A árvore estava muito bem plantada,
e embaixo dela tinha um tesouro.
Tesouro de gente, porque tesouro de passarinho é minhoca.
Embaixo da árvore tinha minério.
E o dono da terra queria explorar este minério.
Passarinho piava, cantava, mas sua voz não era ouvida.
Passarinho não era gente,
e para o dono da terra sua voz não importava.
E assim foi que a árvore foi ao chão,
e com ela foi-se o ninho.
Passarinho não tinha mais árvore,
não tinha mais ninho,
no mundo estava sozinho.
Foi-se embora de vez. 

Debaixo da árvore não acharam minério.
Não tinha tesouro, não tinha nada além de  minhoca.
Comida tão boa para passarinho,
mas ele agora já não estava mais lá.
O dono da terra nunca tinha se dado conta
de que tinha uma árvore e que nela vivia um passarinho.
Mas, agora que já não os tinha, percebeu.
Não tinha mais uma sombra onde recostar,
não tinha mais uma música para escutar.
Que triste ter ficado sem sua árvore.
Que triste ter perdido o passarinho.
Foi atrás do  minério e acabou sem nada.
Passarinho era pequeno, mas lhe fazia companhia.
Desolado, o dono da terra resolveu
que nunca mais trocaria seu ouro.
Plantou uma mudinha, que cresceu muito.
Esperou, esperou.
Até que um dia, passarinho voltou.
Cantando, piando, feliz.
O dono da terra também estava feliz.
Tinha recuperado seu verdadeiro tesouro.