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Marta, a lagarta

Marta, a lagarta



Era uma lagarta igual a todas as outras: comprida, peluda e meio feiosa. E, como todas as lagartas, sabia que sua vida se dividia em duas existências. A primeira de suas existências era aquela na qual estava. Era a vida como lagarta. Mas chega um dia em que todas as lagartas renascem, vivendo uma nova existência como borboleta. Duas existências em uma única vida. Duas chances para tudo! O que seria um sonho para todos era, para aquela lagarta, um grande pesadelo.

Chamava-se Marta, a lagarta. Era uma lagarta comum, nem mais nem menos que nenhuma outra. De diferente, apenas o desejo. Ao contrário de todas as lagartas, que viviam esta existência pensando na próxima, Marta não queria virar borboleta.

As amigas de Marta não entendiam a razão desta vontade. Por que permanecer lagarta, tendo a opção de virar borboleta? Por que rastejar lentamente pelo chão, quando se tem a possibilidade de voar alto pelos céus? Marta ouvia o que as outras diziam e ria, respondendo: 'eu estou feliz com o que sou!'

E Marta estava mesmo feliz! E como poderia não estar? Tinha diversos amigos, era divertida e animada. Sua vida era uma grande festa e tudo para ela era motivo de comemoração. Seus olhos eram duas bolas pretas que brilhavam em seu rosto, e todos admiravam sua vivacidade. A felicidade da lagarta contagiava a todos, que adoravam tê-la por perto.

Um dia, o tempo passou. Assim, de repente, como o tempo sempre cisma de fazer. E Marta, a lagarta, não sabia dizer como, nem quando, nem porque. Mas acordou borboleta, e dona de uma beleza inigualável.

Marta, agora, tinha asas coloridas, e podia voar para onde quisesse. Suas amigas todas também passaram pela transformação, e estavam loucas para entrar em ação: 'vamos voar por aí, Marta, vamos conhecer o mundo!' E Marta, cabisbaixa, forçava um meio sorriso: ' não posso, sinto muito!'

Ninguém conseguia entender o que se passara com Marta. Ela, que era tão animada, de repente perdeu a luz. Justamente quando se tornou um ser tão colorido, sua vida estava sem tom. Era difícil para os amigos, que tentavam ajudá-la. Mas o mais difícil era a própria Marta entender o que acontecia. Ela estava triste, e não era isso que queria.

Aretha, a borboleta, era um pouco mais velha que Marta Tinha se transformado em uma bela borboleta pouco antes da transformação de Marta. Tinha sido, para ela, a melhor experiência de sua vida. Gostava de suas cores, gostava de suas asas, gostava de poder se movimentar com rapidez e graciosidade. Não conseguia entender porque Marta estava sofrendo. Mas, como boa amiga que era, decidiu conversar com ela.

  • Marta, o que está acontecendo? - perguntou Aretha.

  • Do que você está falando, Aretha? - quis saber Marta.

  • Estou falando de você. De sua transformação.

  • Ah, isso. Eu me transformei, como todas as outras lagartas se transformam.

  • Sim, mas ao contrário das outras, você não está feliz.

Marta não conseguiu disfarçar a tristeza e acabou confessando à amiga:

  • Aretha, eu não sou mais eu!

  • Como assim, Marta, como que você não é mais você se eu estou conversando com você agora?

  • Você conversa com a borboleta, e não com a lagarta Marta!

  • Mas vocês são uma só, criatura! Borboleta ou lagarta, as duas são você, Marta!

  • Não, não são. Eu vivi a minha vida como lagarta e nela eu fui feliz. Tinha amigos e sabia meu lugar no mundo. Agora, eu me olho no espelho e não me reconheço mais. Todos dizem que estou bela, e não é assim que eu me sinto. Me sinto perdida, confusa. Honestamente, Aretha, acho que este corpo não é meu!

  • Marta, este corpo é você agora. Você está diferente, sim, mas ainda é você. Ou pelo menos, era para ser assim...

  • Era para ser assim, mas no meu caso, não está sendo!

  • Não está sendo porque você não está se permitindo viver a transformação! É natural, faz parte da nossa vida, todas mudamos.

  • Eu me sinto estranha, feia...

  • Isto não é verdade, você está linda, você sempre vai ser linda. Não porque se tornou uma borboleta, porque isso é da vida. Mas porque você tem um brilho no olhar que é só seu. Olhe para dentro de você, Marta, reencontre-se! Você ainda está aí, por baixo destas asas. Você ainda é você!

Marta ficou dias e dias pensando na conversa com Aretha. Um dia, meio que sem querer, passou diante de uma vitrine espelhada. Ia passando direto, mas parou. Parou e se olhou. Não as asas, não as cores. Parou e se viu de verdade. Viu ali, no espelho, os mesmos olhos de sempre. Viu ali refletida não a sua imagem, mas a sua alma. E ela ainda era a mesma! Ela ainda gostava de festas, de fazer amigos e de tantas coisas boas. Marta, então sorriu. Olhou-se durante muito tempo, como se pela primeira vez estivesse se vendo de verdade.

Deste dia em diante, Marta foi a mais feliz das borboletas. Lançava-se aos céus em voos espetaculares, fazia rodopios no ar exibindo suas asas coloridas. E quando vinham lhe dizer quão bonita se tornara, Marta ria e respondia: 'a beleza está na borboleta como estava na lagarta! Não é a beleza do colorido das asas, é a beleza que vem do olhar...'

Marta descobriu esta verdade, e nunca mais esqueceu. A beleza vem de dentro, junto com uma porção de outras coisas. Não basta ter cores do lado de fora, é preciso deixar o coração colorido. Só assim vemos o mundo mais bonito. E é só assim que brilhamos para ele...

3 comentários:

analuz disse...

Ana Luz adorei essa hisetoria eu quero um Livro desse

Unknown disse...

Na minha infância os coleguinhas me chamavam de marta lagarta. Isso ha 24 anos atras!!!!

Professora Bernadete disse...

É uma grande lição. Tudo se transforma, muda e se renova.

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