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Na casa da Bisa

Na casa da Bisa


Nasceram com apenas duas semanas de diferença. Ele não foi cavalheiro: nasceu antes! Assim como sua mãe nasceu antes do pai dela. Seus pais eram primos e grandes amigos. Deste modo, todos sabiam que também aqueles dois seriam companheiros.


Durante os primeiros meses de vida, puderam aproveitar vários momentos juntos. E não apenas nas festas de família: qualquer motivo era uma desculpa para se verem. E como se viram! Seus pais os cansavam com tantos flashes, e eles sorriam para as fotos alheios à razão de tanto alarde.


O que os dois não sabiam – e ainda não sabem – é no quanto foram esperados. Por seus pais (especialmente as mães, ambas ansiosíssimas!), por seus avós, por seus tios, por seu irmão e primo – Lucas. Mas, ninguém esperou mais do que ela. Ninguém quis mais do que ela. Ninguém merecia mais do que ela. Ela, a Bisa!


A Bisa reclamava que, com mais de noventa anos, era a única de suas amigas com netos que ainda não era bisavó. A reclamação era justa: com sete netos, será que nenhum poderia logo providenciar um bisnetinho? Os dois netos mais velhos ouviram sua avózinha amada e trataram de atendê-la. E, como ela esperou muito, resolveram atendê-la ao mesmo tempo – e por isso aqueles dois nasceram com apenas duas semanas de diferença.


Quis o destino que, antes dos seis meses, tivessem que se separar. Por uma boa, nobre causa: o pai dela mudou de emprego, e, com isso, de cidade também. Foram morar longe, longe. Os contatos se tornaram escassos, e a saudade, inevitável.


E muita coisa acontece em pouco tempo. A saudade é ainda maior porque perdemos uma pessoa que amamos, e não pudemos estar juntos, todos os dias, num abraço coletivo. Mas o amor, este não muda. A distância não o apaga, sequer o diminui. E por isso, mesmo na tristeza, o amor nos une. Independente do quão longe estamos.


A Bisa sente saudades, muitas saudades. Dos que partiram. E dos que ficaram e estão longe. Vê o bisneto com frequência, mas quer ver os dois juntos novamente!


E eis que chega maio. No mês das mães, o presente é para a Bisa. A bisnetinha vem visitá-la, e a saudade vai embora. No lugar, muita bagunça!


Davi e Fernanda passam a tarde juntos e de tudo fazem. Brincam de carrinho e de boneca, comem a comida um do outro, trocam mamadeiras e copinho, correm, gritam, distribuem carinhos, assistem televisão. Resolvem fazer música com panelas - ficam stompeando durante horas!!! Ninguém aguenta o barulho do panelaço.


Mas a Bisa... Ah, a Bisa! Do alto de seus noventa e cinco anos, vê as duas criaturinhas bagunceiras e sorri! Um sorriso gostoso, sincero, de quem vê um pedacinho de si ali. E se eles crescerem para ter metade da bondade da Bisa, o mundo será um lugar muito melhor.

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