Ele era grande e corpulento. Tinha um tom azul-acinzentado que lembrava o fim de uma tarde fria. Seu ânimo, no entanto, contrastava com a sua pele: brilhava como o sol! Estava sempre sorrindo, estava sempre feliz. Era Dante, o elefante.
Dante, a princípio, não parecia muito diferente dos demais de sua espécie. Também ele tinha uma tromba enorme e se divertia jogando jatos d'água no ar. Gostava de mergulhar as patas na lama e tinha um certo medinho de ratos. Um elefante comum.
Tinha, no entanto, algo que poucos sabiam. Era uma vontade que Dante tinha desde pequeno. E, como todas as vontades, começou pequenininha, pequenininha, mas foi crescendo e crescendo até se tornar tão grande quanto ele. Dante tinha vontade de dançar. Mais do que tudo na vida, Dante sonhava em ser um dançarino.
Quando a vontade se tornou tão gigante quanto ele, Dante resolveu assumir o seu desejo. Revelou então, à família e aos amigos, o grande sonho de sua vida. Alguns riram dele, e tentaram desencorajá-lo – 'elefante dançarino não existe! Cria outra vontade, Dante!' Mas também tiveram aqueles que o apoiaram – 'se este é o seu sonho, Dante, corra atrás dele!' No final das contas, ele ouviu mais palavras de incentivo do que de desencorajamento e, munido de uma boa dose de otimismo, resolveu começar a tentar.
Dante matriculou-se na escola de Dona Garça. Todo o reino animal sabia da graça de Dona Garça – era esbelta, formosa, de pasos delicadíssimos. Dona Garça, ao receber o novo aluno, olhou-o com espanto e admiração. 'Muitos passam a vida sem perseguir seus sonhos, Dante. Você está sendo muito corajoso, e eu farei tudo para ajudá-lo.'
Dona Garça estava sento honesta. Por toda a vida, ela e Dante se tornaram, desde este primeiro momento, inseparáveis. Chegava a ser engraçado ver os dois juntos, tal a diferença de tamanho e postura. Mas um amigo de verdade é o que nos apoia, e os dois sabiam disto. Dona Garça, em pouco tempo,virou só Gazinha, que era como Dante a chamava.
Logo nas primeira lições de dança de Dante, Gazinha soube que ali na sua frente estava um... elefante. Dante era era pesado, estabanado. Tinha a graciosidade de um...elefante. Tentava dar rodopios no ar, e colocar-se nas pontas dos pés. Mas tinha a leveza de um... elefante. Não tinha jeito. Dante era um elefante muito elefante mesmo!
Dante, ao perceber a dificuldade que encontraria pela frente, tratou de arranjar um dose extra de otimismo: 'Gazinha, eu faço tudo, o que eu quero é dançar!' A disposição dele contagiava a professora, que, sempre amiga, respondia ' o que mais importa é a força de vontade, Dante, e isto você tem. Uma hora a gente chega lá!' E assim continuavam os dois em ensaios intermináveis, tentando elaboradas coreografias que Dante nunca acertava.
Meses se passaram sem nenhum resultado. Dante era incapaz de fazer um plié sem cair desajeitadamente de bumbum no chão. Dona Garça, preocupada, não queria trazer-lhe más notícias. Mas via que só o otimismo e a força de vontade não seriam capazes de fazê-lo dançarino.
Um dia, por acaso, Dona Garça recebeu um convite. Uns amigos do tempo de escola estavam em uma cidade vizinha, fazendo algumas apresentações de dança. Empolgada em rever velhos companheiros de dança, chamou o amigo para acompanhá-la.
O espetáculo de dança foi uma surpresa para os dois. Dona Garça, renomada bailarina clássica, nunca enxergara nada além do balé. Mas foi ali, naquela apresentação de dança moderna, que ela teve um estalo. Deu um tapa na testa e exclamou: 'é isto, Dante! O problema não é você, o problema é a dança. O balé pode não ser ideal, mas se procurarmos achamos a dança certa para você!' Dante riu ao dizer: ' eu estava pensando a mesma coisa, Gazinha...'
Os dois lançaram-se, então, em uma nova busca. Qual seria a dança ideal para um corpulento elefante? Tentaram jazz, bolero, a valsa e o cha-cha-cha. Dançaram zouk, lambada, forró e o que mais há! De todos os tipos de dança tentaram um pouco, e o resultado era sempre louco: em umas, Dante caía de costas, noutras caía prá frente, mas em quase todas ele acabava com o bumbum no chão mesmo...
Parecia que não tinha jeito. Dante não conseguia dançar. Seu otimismo, sempre tão elevado, agora começava a desmoronar: ' eu acho que elefantes não sabem dançar mesmo...'
Por sorte sua amiga não se deixou contagiar. Disse bem alto, para todos ouvirem ' Dante, mande a tristeza prá lá!' E insistiu que se era aquele seu sonho, não poderia jamais parar de tentar.
E foi assim que outros tantos meses se passaram. Dante e sua professora, numa busca incansável. Dançavam todos os dias, treinavam até cansar. Dançaram e dançaram, até que um dia... voilá! Foi por acaso a descoberta, enfim a dança certa. Viram na televisão, e treinaram de montão.
Dante não era um bailarino clássico, nem também um de salão. Mas no hip-hop o elefante era uma graça de se ver! Rodopiava e pulava numa felicidade que só. Fazia passos elaborados e precisos, em uma alegria que contagiava a todos. Ele descobriu que não era feito para flutuar no ar com os passos leves de balé,e sim para dar as cambalhotas no chão que o hip hop pedia.
O gigante elefante tornou-se um dançarino conhecido, que fazia apresentações para plateias lotadas. Abriu, com sua professora e amiga Gazinha, uma grande academia de dança, onde ensinavam diversos tipos de dança, para diversos tipos de animais. Os pequenos e leves sobressaiam-se no balé e no jazz. Os casais gostavam de bolero. Os mais idosos curtiam uma valsa. Os corpulentos se jogavam no chão ao som do hip hop. E ensinavam a lição mais importante que tinham aprendido juntos: ' se você tem um sonho que é maior do que você, corra atrás, faça acontecer!' E esta é uma lição que vale para todos nós, mesmo não sendo elefantes...
2 comentários:
Dada, mais uma vez uma historinha linda, lúdica...falando de sonhos! Adorei! E é isso mesmo. Não basta sonhar, tem que acreditar e fazer por onde!
Bjs
Flavia.
Que história bonita, perseverança! Às vezes a gente só enxerga o que está na nossa frente, mas é quando abrimos espaço para coisas novas, que encontramos o caminho tão sonhado!!!
E eu adoro, sou apaixonada, amo elefantes!!!!
Beijocas,
Aretusa, mamãe da Doce Sophia
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