O menino que não queria tomar banho

O menino que não queria tomar banho

'Não vou tomar banho'. Sem reclamar, sem fazer birra, sem nenhuma firula, Dudu anunciou. A mãe, claro, insistiu, argumentou, explicou o porquê do banho. Nada. O menino estava decidido. Não queria tomar banho. Sua mãe imaginou que ele estivesse fazendo isso para chamar sua atenção, já que seu pai viajara naquele dia a trabalho. Olhou bem para Dudu e viu que ele, na verdade, não estava sujo. Resolveu não discutir. Disse apenas: 'está bem, então lave o rosto, escove os dentes e vá dormir'. Dudu obedeceu, sem problemas.

No dia seguinte, a mãe disse: 'já pro banho, Dudu! Não pode se atrasar para a escola.' Ela nem se lembrava mais do que acontecera na noite anterior até o filho repetir seu intento. 'Não vou tomar banho'. A mãe, desta vez, não queria saber. Achava que ele tinha que tomar banho e pronto.

• Tá maluco, Dudu? Onde já se viu não tomar banho?

• Não vou tomar banho. Pronto, falei!

• Ah, mas vai. Vai, sim, agora mesmo!

• Não vou. Já lavei o rosto e já escovei os dentes. Estou pronto prá escola.

• Lavou o rosto, escovou os dentes? E isto lá é limpeza correta, Dudu? Tá virando Cascão? Já pro banho!

• Não vou tomar banho, já disse – o menino estava firme em sua posição.

• Escovou os dentes, lavou o rosto, e só? Está sem bafo, mas com chulé, Dudu!

• Chulé, não, mamãe! Eu sou príncipe! Chulé é da ralé.

A resposta foi tão espontânea que a mãe caiu na gargalhada. E o Dudu ganhou mais um round: foi para a escola sem banho.

Quando chegaram na porta da escola e a mãe foi se despedir, ela disse: 'na volta da escola, Dudu, você mesmo vai pedir para tomar um banhozinho gostoso!'

A mãe sabia do que falava. Dudu voltava da escola como quem volta da guerra: imundo, coberto de terra! A mãe dele achava aquilo estranhíssimo, já que a escola dele era toda de concreto e ela nunca vira terra em lugar algum por lá. Ainda assim, o menino, levadíssimo, dava um jeito. Voltava sempre muito muito muito muito sujo mesmo. E ela nunca precisava mandar: ele saía voando para o banheiro e ficava um tempão debaixo do chuveiro, esfregando tudo quanto era cantinho. Cada vez que escutava o chuveiro parar a mãe perguntava: 'acabou?' E ele dizia: 'tô lavando o suvaco', 'tô lavando a batata da perna', 'tô lavando as orelhas.' Esfregava tudo, cada cantinho. Saia do banheiro cheirando a sabonete e anunciava: 'tô limpo!' Fazia isto todos os dias quando voltava da escola, então a mãe sabia que era só esperar.

Quando Dudu voltou da escola, a mãe tomou um susto. O menino estava limpo, limpíssimo, mais limpo do que quando foi! Até o cabelo estava penteado. A mãe não acreditava. Perguntou: 'você tomou banho na escola, Dudu?' Ele respondeu:

• Lavei o rosto bem lavado. Tô limpo!

• Ah, mas não tá mesmo! Já pro banho, Dudu!

• Eu não vou tomar banho.

• Dudu, você está querendo me tirar do sério. Espera só o seu pai voltar de viagem que...

• Quando o papai voltar, eu tomo banho.

• De jeito nenhum! Seu pai só volta daqui a três dias!

• Daqui a três dias eu tomo banho, então.

• Você quer me enlouquecer, é isto?

• Não, mamãe. Eu só não quero tomar banho.

A mãe não sabia o que fazer. Argumentava, reclamava, e nada parecia surtir efeito. Colocou o menino de castigo e ele não mudou de ideia. Tentou forçá-lo ao banho, mas nem isto adiantou. Foram três dias insanos naquela casa, com mãe e filho em pé de guerra. O menino lavava o rosto muito bem lavado, escovava o dente várias vezes ao dia. Molhava uma toalha e passava no corpo. Mas banho que é bom, neca!

No terceiro dia, o pai chegou. Chegou com cara de zangado, pronto para dar uma tremenda bronca no filho sem banho. Mas, ao ver o sorriso enorme com que foi recebido, não aguentou. Deu um forte abraço no menino, cobriu-o de beijos e disse por fim: 'vai tomar banho, Dudu.' O filho, na mesma hora, disse: 'sim, papai.'

A mãe quase voou no pescoço do Dudu! Então ela estava há três dias implorando que o menino tomasse banho e bastava o pai chegar e ele ia de bom grado? Não se conteve:

• Escuta aqui, Dudu. Eu quero que o senhor me explique direitinho que história é esta. Então agora só serve o seu pai te mandar tomar banho? Você já é bem grandinho, não tem que ter ninguém dizendo que você tem que ir pro banho. Você não queria tomar banho só para me desobeceder, é isso?

• Não, mamãe. Eu te obedeço. Mas eu não queria tomar banho para não lavar o abraço do papai. Agora que ele voltou, eu já posso tomar – e, olhando para o pai, continuou – quando eu sair do banho você vai me abraçar de novo, não é, papai?

• Sim, meu filho, respondeu o pai, emocionado.

Agora, na casa do Dudu, eles fazem assim: quando o pai dele vai viajar, ele pega uma folha de papel para cada dia que vai ficar fora. Dá um beijo na folha e põe dentro do envelope. E escreve no envelope o dia da semana: segunda-feira, terça-feira, quarta-feira... Na hora do Dudu dormir, a mãe dele leva o envelope para ele. O menino abre o envelope e cola a folha no rostinho, para receber o beijo de boa noite do papai. Depois ele recebe o beijo de boa noite da mamãe. Durante o dia, a mamãe dá, ainda, o dobro de abraços e beijos no Dudu - por ela e pelo papai dele. Agora ele sempre toma banho direitinho. E recebe mais carinho do que nunca...