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O tigre e o medo do tigre

O tigre e medo do tigre



Os dois eram animais, é fato. Além disto, mais nada tinham em comum. Nem mesmo o fato de serem animais poderia ser considerado como um traço conjunto: um era um enorme mamífero, enquanto o outro, um minúsculo inseto.

Cada um tinha a sua existência própria, sem nem saber da do outro. O tigre, forte e ligeiro, era conhecido por toda a selva. Era um bom tigre, aquele. Não por ser tigre, porque isto não dá a ninguém a condição de ser bom. Era um um bom tigre porque era generoso. Ajudava aos animais que precisavam de ajuda, procurava ser solidário. Tinha muitos amigos, como era de se esperar. Mas tinha também um segredo.

Todos os dias, durante o dia, o tigre estava em todos os lugares. Se uma garça enfiasse os pés na areia movediça, lá ia o bondoso tigre socorrer. E era assim o dia todo: ajudava aos demais, sem esperar nada em troca. Durante a noite, no entanto, o grande tigre evaporava. Ninguém sabia onde ele estava, se dormia ou não. Só sabiam que, à noite, ele sumia.

Nenhum dos animais prestava muita atenção ao sumiço do tigre. Um animal tão grande e tão forte poderia enfrentar qualquer perigo, todos sabiam. Por isso, julgavam que ele deveria ter um sono muito pesado. Diziam: 'quando dorme, o tigre vira um urso: hiberna e ninguém consegue acordá-lo!' O tigre, por sua vez, nunca desmentiu esta história. Achava graça em ser comparado ao urso e não queria que soubessem a verdade.

O que o tigre não contava a ninguém, o que ele mantinha em segredo, era que tinha um medo. Um medo tão, mas tão grande, que o deixava pequeno. Ele não conseguia enfrentar seu medo. E por isso se escondia, todas as noites, para fugir de seu medo. O medo do tigre era maior do que ele, e por isso o dominava. O tigre tinha medo do escuro!

Todas as noite, conforme o sol começava a cair, o tigre corria para dentro de uma caverna. Quietinho, para não chamar a atenção de ninguém, o tigre acendia uma vela. Uma chama forte e quente, que o ajudava a manter a escuridão do lado de fora. E que o deixava dormir tranquilo.

Uma noite, no entanto, o tigre não pode dormir. Era uma noite de outono, mas que anunciava o frio do inverno por vir. Não chovia, é fato. Mas a lua se escondia no céu. E ventava, como ventava!

O tigre fez de tudo para manter acesa a chama da sua vela, mas não conseguiu: o vento era mais forte do que a chama. O vento era mais forte do que o tigre. E até mais forte do o medo do tigre. Quando se viu, sem sua vela acesa, dentro da caverna, o tigre percebeu quão escuro o lugar era. Em pânico, correu para longe da caverna, mergulhando na escuridão da selva. Olhava para todos os lados, em desespero. Nenhum sinal de luz. Ali, no meio do nada, sentia o medo invadir todo o seu enorme corpo. Sentia-se fraco, tomado por aquele medo que era maior do que ele.

E foi então que o impossível aconteceu. O tigre viu um ponto de luz. Ao longe, fraco, um pontinho de luz que ia e vinha. No meio de toda aquela noite negra, onde nada se enxergava, ele viu a luz.

No auge de sua agonia, só pensava em se livrar do escuro. Foi mais forte do que o medo, e conseguiu correr até a luz. Chegando ao pontinho, levou um susto. Um minúsculo inseto piscava sem parar, voando de um lado para outro. O tigre viu, ali, sua chance de se livrar do escuro. Aproximou-se e, gentilmente, pediu:

    • Olá. Será que você poderia parar de piscar um pouquinho?

    • Oh, desculpe! Não sabia que minha luz o atrapalhava! Vou parar agora de...

    • Não! - gritou o tigre – você não me entendeu. O que me atrapalha não é a sua luz, é a falta dela. Você pode ficar brilhando o tempo todo, por favor?

    • Sim, claro. Mas eu me canso demais.

    • Não podemos sentar e conversar um pouco? Daí você descansa e ilumina também.

    • Claro, claro. Boa ideia.

O tigre e o vaga-lume começaram a conversar. O tigre acabou confessando o seu medo ao vaga-lume, que se assustou. 'Como alguém tão grande pode ter medo de algo tão insignificante quanto o escuro?' Mas também o vaga-lume tinha seus medos, e os confidenciou ao tigre. Passaram a noite em claro, conversando. Só perceberam que não tinham dormido quando viram o sol raiando.

Deste dia em diante, o tigre não teve mais medo. Por menor que fosse o vaga-lume, ele trouxe luz à sua vida. Era um inseto tão pequeno, mas era maior do que o medo do tigre. Com o tempo, o tigre acabou perdendo o medo do escuro. Saber que tinha um amigo por perto para iluminar o seu caminho era o suficiente. Por isso é tão bom termos vaga-lumes em nossas vidas. Podem ser pequenos e ter uma luz fraquinha, mas é suficiente para nos livrar da escuridão e afastar os nossos medos...

1 comentários:

Flavia Bernardo disse...

Historinha linda! Adorei!

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