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Uma estrelinha no céu - editado

Uma estrelinha no céu



No quintal da minha casa é sempre escuro de noite. Todas as casas da vizinhança apagam as luzes às nove horas, então às dez já não se vê mais nada. O céu torna-se uma imensidão azul, escura, escura. Vez por outra passam pontinhos luminosos que fazem um barulho danado. Alguns são aviões. Outro são helicópteros. Outros, não consigo saber. Estes, gosto de pensar que são naves espaciais. E eu gosto de pensar isso porque deve ser muito bacana ter gente vivendo em outro planeta. Gente que uma hora poderíamos conhecer, visitar. E quando eu digo gente, me refiro às crianças, claro. Adulto não entende estas coisas de visitar um amigo diferente, ia querer fazer uma porção de perguntas estranhas e sem sentido, como 'que tal o modo de vida em seu planeta, qual o seu trabalho, como você sustenta sua família...' Você sabe, perguntas de adulto. As perguntas que interessam eles sempre se esquecem de fazer, como 'qual a sua brincadeira favorita, no seu planeta você assiste a desenhos, como seus amigos te chamam...' Você sabe, perguntas de crianças. Eu estava pensando nisso tudo, olhando para aquele azul sem fim, quando percebi, no meio do azul, um pontinho. Não era avião. Não era helicóptero. Não era uma nave espacial – confesso que fiquei decepcionado ao perceber isso. Era uma estrelinha. Uma estrelinha quase sem luz, apagadinha mesmo, sozinha no céu. Cocei o olho, tornei a olhar. Ela ainda estava lá. Sozinha que só ela. Fiquei com uma peninha danada, ela tão solitária lá em cima. Daí, como não soubesse o que fazer, peguei o violãozinho que a vovó me deu. Comecei a tocar, em homenagem à estrelinha, dizendo 'brilha, estrelinha, brilha!' E fui tocando e tocando. Eu não sei o que aconteceu, mas de repente a estrelinha começou a brilhar mais forte. Era incrível, ela estava brilhando mais forte para mim! Eu também fiz a minha parte, toquei o meu violãozinho e comecei a cantar bem alto 'brilha, brilha, estrelinha!'. O papai veio me chamar para dormir. Então eu disse: 'não posso agora, papai, porque a estrelinha está brilhando para mim!' E voltei a tocar. O meu pai não é bem como os outros pais. Ele se lembra de quando era criança. Por isso, ele não insistiu para que eu dormisse. Ele entrou, pegou o violão dele, e veio para o meu lado. E disse: 'canta, Davi'. E eu cantei bem alto: 'brilha, brilha, estrelinha, brilha, brilha bem lindinha!' E eu toquei meu violãozinho. E o papai tocou o violão. E quanto mais nós tocávamos, mais ela brilhava, e crescia e se enchia de cor. Logo, logo, ela estava um ponto amarelo forte no céu, uma luz brilhando enérgica no meio do azulão sem fim. E tão, tão linda, que dava gosto de ver. Paramos de tocar, e ficamos olhando a estrelinha, que agora se exibia com orgulho para nós. Papai disse que estava muito tarde, e que deveríamos dormir. Na hora de me colocar na cama, papai me deu um beijo de boa noite e me disse assim: 'Davi, todo mundo tem uma estrelinha dentro de si. Mas às vezes ela está apagadinha. Daí, temos que cantar, tocar, fazer festa, lembrá-la do quanto ela é valiosa. E ela volta a brilhar com força.'

Eu não entendi direito o que o papai quis dizer. Mas, deste dia em diante, todas as noites tinha serenata para as estrelas na minha casa...

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