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Uma historinha de Kidilândia

Uma historinha de Kidilândia



Era uma vez um lugar perdido no mundo, onde reinava a alegria e a tristeza não tinha vez. Neste lugar mágico e feliz viviam apenas crianças, e por isso sempre tinha muita festa por lá. Tudo era motivo para uma baguncinha boa. Todo dia tinha competição para ver qual o aviãozinho de papel que voava mais longe, o carrinho mais rápido, a pipa que subia mais alto no céu. Tinha também a hora de colocar as bonequinahs para dormir, depois de terem mamado e sido ninadas. A vida era realmente muito boa ali.

O nome deste paraíso era Kidilândia, e lá se produziam heróis e princesas. Não era preciso muito esforço para produzi-los. Todas as crianças dali tinham muita imaginação e eram cheinhas de amor. Por isso, bastava dizerem: 'sou um herói', e pronto! Já saía dali de capa de herói pronto para salvar o mundo. As meninas, a mesma coisa, era só dizer ' sou uma princesa!' - e todas as meninas são! - e, num piscar de olhos, já recebiam o título de nobreza, que vinha com uma tiara de diamantes e um sapatinho de cristal. E toda princesa também era uma heróina, e todo herói também era um príncipe, porque em Kidilândia a vida era assim, sem muita explicação.

Cada nova pessoa que chegava à Kidilândia era recebido com todas as honras. Faziam uma enorme festa no centro da cidade, que era onde ficava o Grande Parque. Tinha sempre pipoca, bolo, brigadeiro. Tinha tudo que é tipo de fruta, de todo jeito: cortadinha, em suco, em sacolé - este então, as crianças amavam. Todos que chegavam ali encantavam-se com a simplicidade e beleza do lugar.

Os habitantes de Kidilândia, as crianças, viviam como todas as outras, em todos os outros lugares do mundo: iam à escola, estudavam, faziam as lições de casa. A diferença era o modo como faziam tudo isto: sempre sorrindo, sempre cantando, sempre no espírito feliz daquela cidade.

Só que Kidilândia, apesar de tentar ao máximo, não podia esconder-se para sempre. Quero dizer, podia esconder-se de intrusos, porque ficava muito escondida, muito embrenhada no meio de uma mata densa, cortada por um grande rio. Só chegava ali quem sabia onde estava a cidade – ou porque tinha o mapa, ou porque conhecia alguém que indicasse o caminho. Kidilândia escondia-se dos estrangeiros. De todos, menos um.

Por mais que tentasse, Kidilândia não conseguia se esconder do Sr. Tempo. O Sr. Tempo não era inimigo de Kidilândia. Também não dá para afirmar que era amigo. Era apenas um senhor, muito distinto, que aparecia ali, vez em quando, e dizia a alguém: ' seu tempo acaabou, está na hora de sair de Kidilânida.'

A pessoa que saía parecia estar, normalmente, pronta para isto. Às vezes, até mesmo ansiosa, como se dissesse:' já não pertenço mais a este lugar!' As que ficavam, no entanto, sentiam a sua ausência. Uma saudade apertada daqueles que saíam e não iriam mais voltar...

O Sr. Tempo encarregava-se para que a pessoa se adaptasse à vida longe de Kidilândia, e que guardasse boas memórias do lugar. E, na maioria das vezes, o Sr. Tempo ia fazendo com que os dias da pessoa se tornassem cada vez mais curtos, cada vez mais atarefados. Até que chegasse um momento em que Kidilândia não parecesse nada mais do que um sonho muito distante.

Estas pessoas, uma vez afastadas de Kidilândia, com o Sr. Tempo tomando todos os minutos de todos os seus dias, iam levando suas vidas da forma que melhor lhes parecia. Chegava uma hora em que estavam prontas para se esquecer completamente de Kidilândia. E não se importavam com isto, estavam conscientes de deixar este lugar encantado para trás. Preocupavam-se mais com todos os minutos de todos os seus dias tomados por tantas coisas tão tão tão tão importantes!

E então o Sr. Tempo sentia-se culpado por isto. Por que afastara aquelas pessoas dali? Por que eles tiveram que deixar de ser crianças para se ocupar com tantas outras coisas? Teria sido justo com eles?

O Sr. Tempo achava que não era justo que as pessoas se afastassem do reino dos sonhos para sempre, e então encarregava-se de levá-los para lá novamente, assim que surgia a primeira oportunidade. E surgiam várias! Os novos habitantes de Kidilândia apareciam, e, tomando-os pelas mãos, levavam-nos de volta à terra da magia.

E assim é que o Sr. Tempo se redime. Quando nasce uma nova criança, nasce também um pai e uma mãe. Nascem avós, tios, padrinhos. Nascem novas oportunidades. Daquelas pessoas já tão esquecidas de Kidilândia deixarem para trás seus afazeres tão tão tão tão importantes e permitirem-se, novamente, fazer parte daquele lugar. Daquele universo tão particular, onde todos somos heróis e princesas e tudo é possível.

Ah, que saudades de Kidilândia! Um lugar de sonho e encantos. Agora estou de volta à velha Kidi. Com outra pessoa me conduzindo, novos sonhos e desejos. E a mesma sensação de que ali, onde reina a alegria, serei sempre feliz.



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