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Cadê?



Cadê?



Ela estava sentada na sala. Ouvia, pertinho, um latido inconfundível, alto, forte. Sabia de quem era e gritou: ' Fica quieta, Capitu!' Ficou. Pouco depois, um novo latido, rouco, mais baixo, Estranho. ' A Tina nunca late', pensou. Levantou-se e foi ver o que era.

Estavam as duas ali, olhando para fora do portão. A menor continuava latindo. A maior, obediente, calara-se, mas dava pulos pelo ar. O que estaria acontecendo, afinal?

Abriu a porta da sala sem fazer barulho, aproximando-se lentamente das duas. Capitu veio correndo até ela, deu um latido. Sabia o que significava aquele latido. 'Você precisa ver isso!' Ela sempre fazia isso. Não conseguia esconder segredos.

Chagou até o portão, onde a Tina latia deseperadamente, como se anunciasse uma grande tragédia. Teve um instante de receio. Queria mesmo saber o que acontecia ali? E se fosse algo catastrófico? Não seria melhor ficar na ignorância? Respirou fundo. Era preciso saber o que havia, bom ou ruim, acontencendo ali. Olhou do portão e percebeu uma sombra. 'O que é isso?'

As duas cachorras, agora, latiam com força. Estavam numa agonia estranha. 'Será que é um rato?' Arrepiou-se em pensar nisso. Tinha nojinho de ratos, não queria se deparar com um logo pela manhã. Abriu o portão, rezando mentalmente ' por favor, não seja um rato, por favor não seja um rato!'

A sombra estava atrás do pneu dianteiro do carro. Abaixou-se devagar, enquanto os latidos frenéticos começavam a incomodar-lhe mais e mais. 'Quietas, as duas!', ordenou. Uma obedeceu, como de costume. O latidinho rouco continuou, na desobediência eterna da menor.

Viu uma bolinha de pêlos escondida na roda. 'É um rato!', pensou. Mas ouviu, baixinho, um sonzinho fraco. Um miado. Não era um rato, então! Dotou-se de uma determinação que não sabia existir e enfiou a mão dentro da roda, de lá tirando uma pequena bolinha de pêlos amarela. Tão pequeno, tão frágil.

Levou-o para dentro e amou-o instantaneamente. Tivera coragem, afinal. Todos os outros já tinham feito isto, menos ele. O gatinho pulou do telhado! E tinha machucado uma patinha.

Cuidou dele com todo amor, viu-o fortalecer-se. Cresceu, encorpou, ficou lindo. Amou-o cada vez mais. Enfrentou os latidos para ouvir o seu miado.

Foi buscá-lo, uma manhã. Cadê? Levou um susto, desaparecera! Procurou no quintal, no terraço, pelos quatro cantos da casa. Não estava, não estava. Sumiu, mesmo.

Ganhou o mundo, o gatinho. Como todos os gatinhos ganham o mundo um dia. Na casa, a saudade. E a certeza de que um dia ele volta outra vez. Para animar o dia, enlouquecer as cachorras. Para encher-nos de amor, com esta bossa que tem os felinos - e também os pequenos meninos...

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