4

A história de um mosquito engolido por uma menina

A história de um mosquito engolido por uma menina


Era uma noite comum, destas noites em que nada parece ser diferente da anterior. Um pouco mais fria, mas nem assim muito diferente da véspera: fazia muito frio aqueles dias. Ela estava confortavelmente sentada em sua cadeira de madeira, esperando o sono chegar. Enquanto ele não vinha, comeu um pedacinho de chocolate.Para dar uma esquentadinha naquela noite tão sem graça. E, se ela não tivesse comido este pedacinho de chocolate, esta história não teria acontecido.

Chamava-se Ana Paula, a menina sentada na cadeira de madeira. Morava em um lugar tão quente, com tanto calor humano, que era difícil aceitar aquele

mau tempo. O frio ela podia suportar até, mesmo torcendo-lhe o nariz. Mas a chuvinha insistente que a impedia de correr pelo quintal era demais para aceitar! Estava presa em casa há dias, esperando o sol lembrar de aparecer. Nem sol, nem lua: dias de chuva e noites de frio. Tudo igual naquele inverno que chegou cedo demais.

Ana Paula estava um pouco aborrecida aqueles dias. Queria correr, pular, dar cambalhotas pelo ar. Não podia fazer nada.'Você vai ficar gripada!', sua mãe dizia – e não lhe deixava brincar na chuva, como vinha pedindo desde o outono. Sua avó, percebendo o desânimo da netinha, tratou de arranjar um jeitinho de alegrá-la. Deste jeitinho mágico que só as avós conseguem, comprando uma barra enorme de chocolate. Além de grande, ela tinha algo de genial: de um lado, tinha chocolate preto, do outro chocolate branco. Ana Paula adorou isto! Uma hora, comia um pedaço de um sabor, depois virava a barra e tirava uma lasquinha do outro. Não tinha preferido, comia os dois com a mesma boa vontade...

Mas voltando àquela noite. Ana Paula acabara de tirar o último pedacinho do meio da barra.Eram os melhores pedacinhos, porque tinham os dois sabores de chocolate juntos. Mastigava devagar, curtindo até o último instante aquele gostinho bom. Distraída, bocejou, para ver se apressava o sono. Mas não foi o sono que chegou. E ela levou um tremendo susto.

Ele veio voando como um foguete, sem dar tempo dela reagir. Zapt- Zupt! Sem que ela percebesse o que acontecera, pronto! O engolira de uma só vez, junto com o restinho do restinho do chocolate que tinha ficado preso no seu dente da frente. Ele tinha sido rápido demais, e ela agora tossia, tentando colocá-lo para fora. Nada! Tinha engolido mesmo. Um mosquito!

O mosquito que Ana Paula engoliu não era um mosquito comum. Chamava-se Tico Senna, e era conhecido no meio de toda a mosquitada. Era metido a aviador, e dizia bem alto que seu voo era incomparável. Tico Senna tinha razão em sua vaidade. Era mesmo muito rápido voando. Deram-lhe o apelido de Senna por causa disto. Ninguém conseguia ganhar dele numa corrida de asas!

Só que Tico Senna, além de vaidoso, era imprudente. Não pensava muito nas consequências de seus atos. Quando queria alguma coisa, ia lá e fazia, sem pensar se poderia vir a se machucar. E assim foi que, naquela noite, acabou sendo engolido pela Ana Paula.

Tico Senna estava apostando uma corrida com Zé Magrão quando sentiu aquele aroma. Era um cheiro familiar, inconfundível, que ele conhecia bem demais. O cheirinho do chocolate! Como ele gostava demais de chocolate, não pensou duas vezes, tratou de ir atrás do cheiro. Porque era vaidoso, imprudente e faro fino: sentia um cheirinho bom há quilômetros de distância. Achou que, por ser rápido, não teria problemas: era entrar na boca, pegar aquele pedacinho esquecido no canto do dente e voar para fora de volta. Tinha certeza que iria conseguir.

Só que o que o Tico Senna tinha de rápido, a Ana Paula tinha de gulosa. E ela não ia abrir mão do seu último pedacinho de chocolate! Ao mesmo tempo em que ele entrara em sua boca, ela passava a língua no dente da frente, engolindo sua delícia de cacau. Nem percebera que Tico Senna tinha entrado em sua boca, no meio do bocejo, até sentir que o engolira. Tossiu, tossiu, tossiu. E só. Não ia forçar demais, porque senão, além do mosquito, voltava o chocolate pela boca. E ela ia ficar danada da vida de perder o chocolate! Suspirou: 'que situação horrível! Acabei de engolir um mosquito!'

Sua mãe, que estava perto, deu uma risada. A menina enfezou-se:

  • Não é para rir! A vida dele tem tanto valor quanto a minha e eu acabo de engoli-lo!

Ao ouvir isto, a mãe não conseguiu conter uma gargalhada, o que deixou Ana Paula ainda mais zangada. Foi para o quarto batendo os pés, querendo dar uma bronca na mãe. Sentou-se na cama, tristinha. 'E agora? Será que eu matei mesmo o mosquitinho?'

Alheio a tudo isto que acontecia do lado de fora, Tico Senna fazia uma farra tremenda do lado de dentro! Quando percebeu que tinha sido engolido, pensou: 'bom, vou ter que arranjar uma maneira de sair daqui. Enquanto isto não acontece, o negócio é aproveitar para me divertir!'

E assim foi que Tico Senna desceu pelo esôfago e fez uma bagunça tremenda no estômago da Ana Paula. Os pedacinhos de chocolate ainda estavam ali, e tudo o que o mosquito pensava era ' achei o paraíso!' Mordia lascas do chocolate enquanto dava voos de um lado para o outro do órgão da menina. 'Algumas pessoas tem borboletas na barriga. Aposto que ela não vai se incomodar de ter um mosquito por aqui!', dizia enquanto dava pulos no mar de chocolate à sua frente.

Ana Paula, por sua vez, não sabia da felicidade do mosquito, e sentia-se culpada por tê-lo engolido. Estava tão chateada que resolveu dormir de uma vez. Deitou na cama e, exausta, desmaiou de sono.

No dia seguinte, ao acordar, a menina já tinha se esquecido do chocolate, do mosquito, de toda a tragédia da noite anterior. Acordou feliz, mas amarrou a cara ao abrir a janela e perceber que, novamente, o sol tinha esquecido de surgir. 'Que chato!', pensou. E foi tomar o café da manhã.

Como fazia bastante frio, sua mãe preparara-lhe um chocolate quente bem gostoso. Ana Paula passou manteiga no pão e aproximou a xícara da boca. 'Que delícia!', disse, tomando um golinho.

Dentro do seu estômago, Tico Senna foi acordado com o gole de chocolate quente. 'Que delícia', também disse o mosquitinho. Lembrou-se, então, que tinha que sair dali. Aproveitou que Ana Paula abriu a boca para dar outro gole no chocolate quente e saiu voando, mais rápido do que nunca. Passou pelo esôfago, subiu a garganta, atravessou a língua e puft! Saltou para fora da boca da menina, indo pousar bem no cantinho da xícara de chocolate.

Ao ver o mosquito ali, inteirinho da Silva, Ana Paula deu um grito de alegria ' você está vivo!' Tico Senna riu, e disse: 'claro que estou vivo!'

Ana Paula e Tico Senna conversaram durante horas. Descobriram que além do chocolate, gostavam de várias outras coisas em comum. Tico Senna se despediu, mas combinaram de se encontrar sempre.

E assim foi que o inverno não foi mais frio. Sempre que estava aborrecida com o mau tempo, a menina providenciava um bocadinho de chocolate. Sentava-se no seu quarto quietinha, esperando seu amigo aparecer para lhe fazer companhia. Sempre de boca fechada, claro, porque não queria correr o risco de engoli-lo outra vez...



4 comentários:

KIRIMURÊ disse...

E quando é que Tico Senna vai voltar pra conversar com ela?

Ana Paula Almeida disse...

E foi assim mesmo que aconteceu... Ai, ai, agora vou pegar mais um chocolate quentinho! :)

Dadá disse...

Cuidado com este chocolate quente, Ana Paula!!! O Tico Senna pode estar na beirinha da xícara e você engoli-lo de novo sem perceber!!! :))

KIMIRUÊ, o Tico Senna vai voltar sempre para conversar com ela, é só ela continuar comendo um chocolatinho vez em quando! :))

Beijos mil, Dadá!

Ana Paula Almeida disse...

Gente, preciso contar pra vocês que os amigos de Tico Senna, vieram procurá-lo ontem a noite dizendo que ele não voltou pra casa!Hum... então pensei: Onde será que esse meu mais novo amiguinho está? O que será que está aprontando dessa vez?? Sabe notícias dele Dadá? :))

Postar um comentário