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Uma galinha diferente

Uma galinha diferente





Desde que saiu do ovo, Zelda era uma galinha diferente das demais. Todos os pintinhos gostavam de ficar ciscando pelo pátio da granja, comendo milho e assustando as formigas. Mas aquela pintinha desajeitada não ciscava. Comia um tantinho do milho e ia para além do pátio, observar as flores no jardim. O dono da granja ria muito, dizia: 'esta pintinha acha que é abelha e quer viver no meio das flores!'

Quando cresceu, não teve escapatória e Zelda foi colocada dentro da granja, junto com as outras galinhas. E como todas as outras tinha uma função definida – era uma galinha chocadeira, assim como suas irmãs, primas e amigas. As galinhas adoravam a granja e divertiam-se pondo e chocando os ovos. Era um cacarejar sem fim, todas sempre tinham uma novidade para contar. Todas, menos Zelda.

Zelda sentia-se perdida ali, no meio das outras. Sabia que não tinha nascido para ser chocadeira. Queria uma vida diferente, queria flores, queria cor! E quando dizia isto para as outras galinhas, todas a olhavam com admiração e espanto: 'e o que você quer fazer da vida, Zelda?' Ela parava e pensava, pensava, pensava. Suspirava e dizia: 'não sei o que quero fazer. Mas sei que não quero ser chocadeira!' As outras diziam que se ela não sabia o que queria fazer ela tinha mais é que continuar chocando, mesmo. E assim os dias iam passando.

O dono da granja sempre ganhava novas galinhas. Um dia chegou uma nova galinha à granja. Esta galinha vinha de uma cidade grande e já tinha passado por vários lugares. Conhecia um pouco de tudo. E trouxe novidades incríveis. Contou para Zelda e as outras que havia uma galinha fazendo um sucesso tremendo como cantora. 'Vocês precisam ver, ela tem cd, tem dvd, é um estouro! Todas as crianças gostam dela.'

De todas as galinhas, Zelda foi quem mais gostou de ouvir aquilo. Era isso! Também ela sentia que tinha alma de artista. Pronto, estava resolvida a charada. Zelda não era chocadeira, era cantora. Anunciou aos quatro ventos sua descoberta e disse que daria um show na granja.

Zelda começou a praticar os seus popós. 'Po póóóó, Pó pó pó póóóó'. Mas era desafinada demais! Ela começou a achar que talvez não levasse jeito para coisa, mas resolveu insistir. Chamou algumas galinhas bem amigas e fez um mini show, para ver o que as outras achavam.

Coitadinhas! Ao final da apresentação de Zelda, as galinhas estavam numa agonia de dar dó. Nunca tinham escutado nada tão ruim na vida. Com jeitinho, disseram a Zelda que, cantora, ela não era.

Zelda ficou arrasada! Voltou a chocar, mas cada dia que passava era um martírio para ela. Até que teve outra ideia. E se fosse dançarina? Ela gostava muito de música. Se não sabia cantar, vai ver que daria certo dançando. Começou, imediatamente, a ensaiar seus passinhos. Dava rodopios, cambalhotas, divertia-se muito dançando. Mas... toda vez que dançava, caía. Caía de bico, caía de bumbum, caía com a cara no chão! Até que uma hora caiu feio e torceu a patinha. O veterinário veio, fez curativo, colocou Zelda de repouso. As outras galinhas começaram a ficar preocupadas: 'Zelda, você não quer ser chocadeira. Mas não é cantora e nem dançarina. Deste jeito, você sai da granja, mas para virar uma canja!' Zelda começou a temer que algo assim pudesse acontecer. E sofria, como sofria! Será que passaria a vida inteira chocando?

Enquanto estava de repouso, os sobrinhos do dono da granja vieram passar uns dias de férias por lá. Era uma criançada agitada, que não parava quieta um minuto. As galinhas ficavam numa inquietação só. As crianças gostavam muito de pintar, e levaram tintas das mais diversas cores para lá. Espalharam papel no chão e pintaram de tudo. Quando saíam, recolhiam os papéis. Mas deixavam uma sujeira danada: a areia ficava toda colorida. Zelda achava aquilo lindo demais.

Um dia, cansada de ficar de pé pro alto de repouso, Zelda resolveu dar uma olhada de perto na areia colorida. Pegou um grão, mudou de lugar com outro. Depois outro, e outro, e outro, durante horas, sem parar. No final do dia, cansada e feliz, observava o que tinha feito quando uma das crianças se aproximou e gritou: ' que lindo!' O dono da granja, sua esposa, as outras crianças e as galinhas vieram ver o porquê de tanto rebuliço.

De grão em grão, Zelda tinha mudado a ordem das cores e feito uma linda paisagem de areia no chão do pátio. Todos ficaram estupefatos com a beleza daquilo. O dono da granja, incrédulo, no dia seguinte deu mais areia colorida para ver o que Zelda era capaz de fazer. E novamente ela fez uma paisagem belíssima.

E assim foi que Zelda, que sempre soube que não era chocadeira, revelou sua inquieta alma de artista. O dono da granja começou a cobrar ingressos e todos queria ver a galinha que fazia arte. Zelda ensinava seus truques para outras galinhas – muitas delas também achavam que não tinham nascido para chocar – e, num piscar de olhos, a granja tornou-se um museu a céu aberto, com as lindas obras de Zelda e suas discípulas.

Zelda adora o que faz. Trabalha muito mais do que antes, mas ama cada minuto do seu dia. Para quem pergunta como sua vida mudou tanto, ela apenas diz: 'não mudou. Tomou o rumo certo! Às vezes todo mundo diz que você deve ser de um jeito, ou fazer algo de uma determinada forma. Mas, se você está infeliz, por que seguir o que os outros dizem?'

Na vida, muitas vezes, é difícil dizer o que é o certo para cada um. Mas o errado é bem fácil. Se você não está contente com o que é ou com o que faz, mude! Tente de outro jeito, faça diferente! Errado é deixar os outros decidirem a vida da gente...

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