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Uma nuvem diferente








Uma nuvem diferente



Quando eu era menor, tinha muita vontade de ficar entre as nuvens. Esta vontade não veio de repente. Veio num dia de sol de inverno. O dia não estava quente, e também não estava frio. Estava assim, um dia morninho. O sol brilhava e brilhava no céu azul azul azul. E lá no alto do céu elas apareciam em todos os formatos e tamanhos. Nuvens.

Eu estava passeando de carro com meus pais neste dia. Estávamos no meio de uma ponte sem fim, que liga minha cidade à do meu primo. Eu olhava para cima e tudo o que eu via era azul, amarelo e branco. Mas eram elas, as nuvens branquinhas, que me prendiam a atenção. Eu ficava imaginando que gosto teriam, como seria deitar nelas. Como seria atravessar uma nuvem.

Durante muito tempo eu fiquei com esta ideia na cabeça. Fiz de tudo para tentar chegar às nuvens. Eu construi um foguete super legal, mas fiquei sem combustível na metade do caminho. Eu pedi que minha irmã me arremessasse usando um estilingue enorme, mas tudo o que consegui foi bater com a cara no muro. Eu tentei usar minha fantasia de anjo, batendo bem forte minhas asas para ver se eu saia voando. Mas nada acontecia.

Minha irmã, claro, me ajudou muito. Ela prendia balões de gás a mim e soprava com toda força para ver se eu saía do chão. Nunca conseguimos. Nem quando tentamos fazer isto do alto da casinha da árvore. Todas as nossas tentativas foram em vão e eu passei a achar que nunca alcançaria as nuvens.

Um dia meu pai trouxe a novidade: estávamos nos mudando. Eu e minha irmã não gostamos muito disto de ter que mudar de casa, de bairro, de cidade, de país. Deixar para trás escola, amigos, clube. Parecia muito trabalho e nenhuma recompensa. Mas quando somos crianças a vida às vezes é ter que aceitar o que os adultos falam. Mesmo que você não concorde.

Chegamos em nossa nova casa em uma dia muito muito muito frio, tarde da noite. Não vimos uma estrela no céu e achamos tudo esquisito e ruim. Eu e minha irmã dormimos na mesma cama. Só para ter certeza de que ainda éramos as duas.

O dia seguinte chegou como uma visita inesperada, que traz um presente com o qual não contávamos. Nós acoramos cedinho e saímos e, ao sair, levamos um susto daqueles.

Tudo à nossa volta era branco branco branco. Nunca tínhamos visto neve na vida, e estávamos fascinadas. Saímos correndo e nos jogamos naquela pilha de gelo que caía lentamente do céu. Rimos e rimos sem parar enquanto fazíamos bolas e jogávamos uma na outra. Nossos dias quentes eram passado e nossa nova realidade era muito mais divertida! Eu deitava e atravessava e comia e brincava com estas nuvens que ficavam aos meus pés durante todos os meses de frio.

Eu não consegui chegar – ainda – até as nuvens. Mas consegui algo tão bacana quanto: nuvens de gelo, o tempo todo ao meu alcance. O meu sonho se tornou enfim realidade, embora tenha vindo em outro formato. Porque às vezes os sonhos se realizam de uma forma inesperada. E ao invés de ganhar algodão doce, você ganha sorvete de baunilha. E se diverte muito com isso!

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