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A Cinderela das Bonecas - RUTH ROCHA


A Cinderela das bonecas

Vovó Neném vivia numa casinha muito clarinha, cercada de flores e de passarinhos.
Ela sabia fazer as melhores balas do mundo, daquelas branquinhas que se desmancham na boca... E brigadeiros, daqueles cobertos de bolinhas coloridas, e doces de coco e bolos fofíssimos de chocolate!
Vocês já sabem por que os netinhos de vovó Neném adoravam visitar a avó. E todas as crianças que moravam por perto se consideravam seus netos.

Mas não era somente por causa dos doces gostosos que as crianças gostavam de ir à casa dela.
Vovó Neném era cheia de ideias, estava sempre inventando alguma brincadeira.
Foi ela que ensinou o Beto a jogar bolinhas de gude, ensinou o Catapimba a empinar pipa, ensinou a Mariana a pular corda.
Foi ela que fez a rede da cesta de basquete do Alvinho e ensinou todo mundo a brincar de mímica, de telefone-sem-fio e de pular sela.
Mas o que a vovó fazia como ninguém era contar histórias. Não que ela contasse muito bem, não. É que era uma graça o jeito que ela contava.

- Era uma vez uma menina muito bonitinha, muito boazinha, chamada Chapeuzinho Vermelho. Um dia ela ia andando pela floresta quando encontrou... encontrou... ah! encontrou a Bela Adormecida!
As crianças riam, riam...
- Não, vovó! A história é de Chapeuzinho! Chapeuzinho Vermelho! Ela encontra o lobo!
- Ah, é verdade, que cabeça! O lobo! Isso mesmo, o lobo. Então o lobo bateu na porta com toda força: "Abram, abram já, senão eu vou bufar, eu vou soprar e a casinha vai voar!"
As crianças adoravam:
- Não, vovó, não! A história é de Chapeuzinho Vermelho! Vermelho!
- É claro, é claro! Eu sei muito bem. Vermelho. Então a rainha disse: "Eu quero uma filha que tenha cabelos negros como o ébano, pele branca como a neve e lábios vermelhos! Vermelhos como o sangue!"
As crianças gostavam mais das histórias malucas de vovó Neném do que das histórias certinhas dos livros...

Quando as meninas do bairro resolveram fazer uma festa na casa da Gabriela e um concurso de bonecas, vovó gostou logo da ideia:
- Que bom! Eu adoro festas! Vou fazer bandeirinhas de papel de seda e lanterninhas de papel colorido e balas enroladas em papel celofane...
Todas as meninas ficaram muito assanhadas e trataram de enfeitar muito bem suas bonecas.

No dia do concurso, vovó foi à casa da Gabriela para levar os doces e os enfeites. Mas quando ela passou na casa da Mariana, viu que a menina estava muito triste, sentadinha na rede, com sua boneca no colo.
- Que é isso, Mariana? Você não está enfeitando sua boneca para a festa? - ela perguntou.

Mariana, muito desapontada, mostrou a boneca:
- Ah, vovó, eu nem vou levar a minha boneca na festa. Olha só como ela está feia! Eu pedi pra mamãe comprar uma nova, ela não podia...
- Mas, Mariana, quando os filhos ficam feios ou ficam doentes, a gente não joga eles fora...
Mariana não soube o que responder...
- Olhe, Mariana, avise sua mãe que nós vamos dar um pulinho lá em casa. Pegue seu carrinho, vá.
No caminho da casa da vovó, elas passaram pela casa do Beto. E vovó disse ao Beto uns segredinhos. Vovó Neném era cheia de segredinhos... Mas a gente gostava porque ela tinha um segredinho pra cada um. Então ela disse à Mariana:
-Deixe o seu carrinho um pouquinho com o Beto. Ele está precisando muito. Depois a gente vem buscar...

Assim que as duas chegaram, vovó levou Mariana para o quarto de costura. Mariana sabia que a vovó ia começar com uma conversa que ela gostava muito, que a gente não pode ir só comprando, a gente precisa aproveitar o que tem, consertar, remendar. Ela dizia sempre: "Costura uma vez que te dura um mês, torna a remendar que te durará".
As crianças achavam esta conversa meio chata, elas nem entendiam direito o que vovó Neném estava dizendo. Mas Mariana sabia que a vovó era danada para consertar as coisas. Quem sabe se ela não dava um jeito na boneca?

- Mariana - vovó perguntou - , você conhece a história da Cinderela? Aquela que dormiu durante cem anos?
-Ah, vovó, quem dormiu cem anos foi a Bela Adormecida... A Cinderela é aquela que não tinha vestido pra ir ao baile...
- Puxa, Mariana, parece a sua boneca, não parece?
- Parece sim, vovó! É pena que as fadas não existam mais...
- Mas não existem mesmo, Mariana?

Então vovó começou a abrir os seus baús e de dentro deles foi tirando umas caixas grandes e de dentro das caixas umas caixas menorzinhas e as caixinhas eram todas cobertas de papel brilhante, uns cheios de estrelinhas, outros cheios de bolinhas e outros cheios de coloridos.

E de dentro de cada caixa e de cada caixinha e de cada baú foram saindo os guardados da vovó: fazendas transparentes e rendadas, colares de miçangas, galões dourados, botões de cristal... Novelos de seda, pedrarias coloridas, plumas de avestruz... E uma cabeleira de cabelos loiros e sapatinhos de cetim, e tanta, tanta coisa linda e diferente, que Mariana achou que o baú de vovó Neném mais parecia o baú de uma fada!

Com a caixa de pinturas, vovó retocou o rosto da boneca, que foi ficando tão bonito que parecia novo.
E pôs na cabeça a cabeleira de cachos sedosos e dourados que ela tinha encontrado no baú.
E das mãos mágicas da vovó começou a sair uma porção de maravilhas: vestido brilhante, capa de lantejoulas, sapatinhos bordados, coroinha de princesa.
Enquanto ia trabalhando, vovó Neném ia conversando sobre aquelas coisas que ela gostava tanto de conversar, de como é importante guardar as coisas e conservá-las e usá-las de novo, mas desta vez Mariana não estava achando nada chato, pelo contrário!
Ela agora estava entendendo tudinho que a vovó dizia.
Quando a boneca ficou pronta, Mariana bateu palmas.
- Puxa, vovó! Você é uma fada!

- Ainda falta alguma coisa, Mariana. Chapeuzinho Vermelho foi ao baile de carruagem... Cadê o seu carrinho?
Mariana começou a rir, adorando a brincadeira.
- Não foi a Chapeuzinho, vovó, foi a Cinderela! O meu carrinho ficou na casa do Beto. Eu vou já buscar!

Mas no que Mariana chegou na porta, o Beto vinha chegando com o carrinho, que ele tinha consertado, tinha pintado e tinha enfeitado com umas flores que Mariana adivinhou que eram do baú da vovó.
Mariana gritou, animada:
- Venha ver, venha ver, vovó. Você não pode imaginar o que o Beto vem trazendo!
- Posso sim, posso sim... As fadas podem tudo! - disse a vovó sorrindo.

- Pronto! - disse a vovó. - Agora a mágica está completa. Escute só mais uma coisinha. A gente não pode desanimar quando as coisas estão difíceis. Se você prestar atenção nas histórias, você vai ver que todas as princesas precisaram coragem, de paciência e de esperteza para conseguir sair dos seus problemas... Vá para a festa, minha filha. E leve a sua Branca de Neve.
- Branca de Neve? - riu-se Mariana. - Este não é o nome da minha boneca, não!

Quando Mariana chegou, a festa estava animada. Cada menina, orgulhosa, mostrava a sua boneca. Todas as meninas correm para falar com Mariana:
- Mariana, Mariana, como é o nome da sua boneca?
- Minha boneca? Minha boneca se chama Cinderela, é claro...

FIM

7 comentários:

noemi disse...

LEGal vou fazer um teatro na escola vou representar a ruth rocha

karlla disse...

Essa historia e emosionante e muito legal de ler,gosto de ler livros de todos os tipos,cinderella,chapeuzinho vermelho,branca de neve,bela adormecida e etc...
:-)voce deve ler ela ,ela e otima

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

e gosto de ler seus livros e tenho 9 anos

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Valeria Mundim e Prado disse...

Linda está história. Vou conta-la em um evento para aposentados.

Unknown disse...

Nossa que linda história e traz valores importantes e esquecidos na sociedade hoje! Parabéns amei!

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