0

Casinha de Passarinho



Casinha de Passarinho



Quando eu era pequena, queria ter um bicho. Queria ter cachorro, gato, papagaio ou tartaruga. Queria ter um bicho, qualquer que fosse. Mas a minha mãe não era como eu – ela não queria bicho nenhum! Não que ela tivesse alguma coisa contra os animais. Não era isso. É que ela tinha medo, muito medo, de tudo quanto era

bicho. Para ela, todo cachorro era um lobo, todo gato era um tigre, todo papagaio era um gavião e toda tartaruga... Sei lá o que ela pensava que a tartaruga era, mas até dela minha mãe tinha medo! Eu não era assim. Eu tinha medo de gente que mentia, de gente que era desonesta, de gente que não era confiável. De bicho, nunca tive medo nenhum.

Todo ano era mesma coisa. Passava meu aniversário, Natal, dia das crianças. Quando me perguntavam o que eu queria ganhar eu dizia: 'eu quero ganhar um bichinho, para me fazer companhia e ser meu amiguinho!' E eu ganhava: dezenas e dezenas de bichos de pelúcia! Eram lindos, é verdade. Mas não latiam, não miavam, não falavam e nem mesmo andavam devagarzinho, devagarzinho. Não faziam nada, só ficavam ali, lindos e imóveis na minha estante.

Um dia, perto do meu aniversário, me perguntaram: 'e então, o que você quer ganhar de presente este ano?' Fiquei com medo de dizer que queria um bicho. Eu já tinha tudo quanto é tipo de bicho de pelúcia na estante – até um ornitorrinco eu tinha ganhado de uma tia! Pensei, pensei, pensei. E decidi:

  • Este ano, eu quero ganhar uma casinha de passarinho.

Riram de mim, achando graça em eu querer uma casinha, mesmo sem ter o passarinho. Sugeriram:

  • Não quer uma gaiola com um passarinho, ao invés?

Fui firme. Sabia o que queria.

  • Não. Não gosto de passarinho preso. Quero mesmo só a casinha, sim?

  • Está bem, se você quer...

Meu aniversário chegou e eu ganhei a minha casinha. Pequena, toda branquinha, linda. Eu peguei uns retalhos de tecido e enfeitei toda minha casinha. Ela tinha rosa, vermelho, amarelo, azul. Muitas cores. Ficou ainda mais lindinha. E então eu a coloquei na janela pendurada.

Passou um dia, passaram dois, três, vários dias. Eu, ansiosa, achava que ninguém queria vir me visitar. Mas aí, um dia, cheguei da escola e ele estava lá. Meu passarinho!


Veio assim, sem avisar, um passarinho de bico vermelho, que parecia uma andorinha do mar. Ficou comigo por muito tempo. Voava durante o dia e à noite vinha se abrigar na casinha.

Depois deste, vieram muitos outros passarinhos morar na minha casinha. Eu dava nome para cada um deles e os amava com toda a força. Eles viviam comigo por algum tempo e então alçavam voos mais longos. Eu sofria com cada partida - como se fosse eu suas mães, lhes ensinando a voar e ganhar o mundo.

Um dia, bateu um vento muito forte e a casinha caiu da janela e se espatifou no chão. Não tinha nenhum passarinho na hora, por sorte. Fiquei triste, por um instante apenas. Depois fiquei muito feliz por ter tido a casinha e tantos passarinhos me fazendo companhia durante tanto tempo. Pensei na violência do vento, mudando meu destino, e sorri. Para o vento e todos aqueles que atravacam nosso caminho, devemos sorrir. 'Eles passarão, eu passarinho'.

0 comentários:

Postar um comentário