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O menino que não acreditava em Papai Noel







O menino que não acreditava em Papai Noel





Téo era um menino engraçado e esperto, que sempre questionava o porquê das coisas. Filho único de um casal que adorava viajar, Téo conhecia diversos lugares e, onde ia, fazia amigos. Era falante e extrovertido. Todos gostavam dele.

Quando entrou para a escola, Téo virou o xodó da professora e, em uma semana, era o melhor amigo de todos. Participava das partidas de futebol e basquete, cantava no coral da escola, jogava capoeira e até xadrez! Gostava de participar de todas as atividades da escola, mas a sua preferida eram as aulinhas de teatro. Lá, Téo era a estrela da turma: sugeria enredos, ajudava a montar cenários, criava, sozinho, peças completas. Dona Mariana, a professora de teatro, encantava-se com a disposição do menino. 'Este nasceu para a arte', dizia em alto e bom som a todos.

O final do ano se aproximava e começaram a organizar as festividades de Natal. Dona Mariana, como as outras professoras, estava planejando sua parte na grande festa que a escola iria fazer. Reuniu seus alunos e disse:

  • Meninos, nossa apresentação será o ponto alto da festa de Natal. Todos estão contando que façamos uma apresentação muito bonita.

  • Vamos fazer, sim – disse um aluno.


  • E todos os alunos começaram a falar ao mesmo tempo, cada um mais
animado que o outro, sobre que peça iriam fazer, quem interpretaria quem, como seria a parte musical... A sala, em um instante, estava uma bagunça, como todos querendo sugerir algo.
  • Silêncio, silêncio, por favor! - pediu, rindo, Dona Mariana. - Fico feliz em ver a animação de todos. Mas vocês já aprenderam que, como tudo na vida, uma peça precisa de muito empenho e dedicação. E se todos falarmos juntos ao mesmo tempo não chegaremos a lugar nenhum.

  • Desculpa, professora. - todos os alunos disseram ao mesmo tempo.

  • Tudo certo. Agora, ouçam. Todo ano, a turma de teatro monta um Auto de Natal. Já temos um cenário pronto, em que mostramos o nascimento do Menino Jesus...

  • Com licença, professora- disse Laís, levantando a mão.

  • Pois não, Laís.

  • Não é meio chato fazer a mesma coisa todo ano?

  • É exatamente nisto que eu ando pensando. O que vocês acham de nós fazermos uma peça nova, algo que nunca foi feito na escola antes?

  • É!Isso aí! Vamos sim! - a sala virou uma alegria, com todos os alunos aprovando a ideia ao mesmo tempo.

    - Eu tenho uma ideia – disse Téo, já pensando em todo o enredo de uma peça. Podemos fazer uma peça musical, com as doze badaladas do sino de Natal como tema!

  • É uma ideia linda, Téo – disse a professora – mas, na verdade, a peça tem que ser aprovada pela diretoria.

  • Eu tenho certeza que a diretora vai aprovar a minha peça, se... - disse Téo.

  • Eu sei que a diretora aprovaria, sim – interrompeu a professora. - Você tem ótimas ideias. Só que eu já mandei a peça, que já foi aprovada.

  • E sobre o que é a peça? - perguntou Luís Cláudio, um menino tímido que quase não falava.

  • A peça é sobre... o Papai Noel!

  • Papai Noel! - as crianças bateram palmas, gritaram, ficaram felizes em homenagear o Bom Velhinho.

No meio de toda a algazarra, Dona Mariana percebeu que Téo estava mudo.

  • Téo, não fique chateado. Sua ideia foi ótima, só que a peça tinha que ser pré-aprovada, e eu a mandei para a diretoria há semanas. Não queria dar a notícia a vocês antes de ter algo concreto.

  • Eu sei, professora, não fiquei chateado com isto, não.

  • Mas, então, o que houve? Está tão quietinho! Olhe, eu preciso da sua ajuda para todos os detalhes da peça.

  • Desculpa, professora, mas eu não sei se vou participar da peça...
  • Como assim?- perguntou Laís. - Você adora todas as peças Téo, deixa de ser manhosinho...
  • Não é manha, não! - disse, firme, Téo. Só que a peça não tem a ver comigo.

  • E eu achando que você ia ser o primeiro a se voluntariar para ser o Papai Noel – disse, meio que rindo, Dona Mariana.

  • Ora, professora, como eu posso ser alguém que não existe?

  • Que você disse? - perguntou Jonas, um menino da turma.

  • Que Papai Noel não existe. Não existe!

Todas as crianças pareciam querer voar no pescoço de Téo e a sala, novamente, virou uma bagunça, com todos falando ao mesmo tempo exaltados.

  • Silêncio! Turma, silêncio! - pediu, séria, Dona Mariana.

  • Professora, a senhora sabe que eu estou falando a verdade.

  • Téo, nem mais uma palavra. Depois da aula conversamos. Você tem o direito de não participar da peça, mas não de estragar o Natal dos outros.

  • Está bem, professora.


A aula continuou, com Dona Mariana explicando como seria a peça de Natal. No final, chamou Téo para uma conversa:

  • Téo, me explica isto direito. Por que você acha que Papai Noel não existe?

  • Eu não acho, eu sei!

  • E quem te disse isso? - questionou a professora.

  • Meus pais. Me disseram que o Papai Noel é invenção de uma

    indústria de refrigerantes para aumentar o consumo em dezembro. A senhora deve saber disto, não?

  • Sei, sim. Já ouvi isto antes. Mas, e você? Sabe que é São Nicolau?

  • São Nicolau... não, não sei.

  • Téo, vamos combinar assim. Você é livre para acreditar no que quiser. Eu tenho pena que você não acredite em Papai Noel, mas vou respeitar. Mas, do mesmo modo, eu exijo que você respeite seus colegas. Deixe quem acredita continuar acreditando, está bem?

  • Está certo. Mas... eles não deveriam saber a verdade?

  • A verdade Téo, é que você me disse que Papai Noel não existe. E para mim, ele existe. Cada um pensa uma coisa, e devemos sempre respeitar a opinião do outro.

  • Tudo bem, professora.

Téo saiu da sala. Do lado de fora, Jonas esperava por ele.

  • Eu ouvi o que você e Dona Mariana conversaram, Téo.

  • Não era segredo.

  • Mas, eu não entendo. Como você pode dizer que Papai Noel não existe?

  • Se você ouviu a conversa, sabe o porquê.

  • Sim, ouvi. Como já tinha ouvido o que você disse antes, da fábrica de refrigerantes, também.

  • Então você sabe que eu falo a verdade.

  • Então eu sei que você não tem fé!

  • Fé? Numa campanha publicitária?

  • Fé de que houve alguém, há muitos anos, que ajudava as crianças pobres. Que distribuía presentes.

  • Mas isso sempre há!

  • Nem sempre houve, Téo. Teve que haver o primeiro.

  • E você acha que foi Papai Noel? - disse, ironizando, Téo.

  • Eu acho que foi Jesus, que deu a vida por nós. O que celebramos no Natal, antes de mais nada, é a sua vida. O seu nascimento.

  • Pois então. Até aí, tudo bem. Concordo. Não tem nada a ver com esta historinha de Papai Noel!

  • Como não? Tem tudo a ver!

  • Ora, por favor! Você sabe, como eu, que Papai Noel não existe! - respondeu Téo, irritado.
  • Não. Você acha isto. E eu discordo. Porque eu tenho certeza que Papai Noel existe!

  • Lá vem você... Escuta, estou cansado deste papo, então...

  • Escuta só uma coisa, por favor -interrompeu Jonas.

  • O que é?

  • Como eu disse, houve alguém que, há muitos anos, primeiro se preocupou com as crianças. Até aí você aceita?

  • Sim, claro.

  • Pois bem. Esta pessoa, São Nicolau, distribuía presentes na época de Natal.

  • Sim, conheço a história.

  • Então. Mas ele fez mais do que isto.

  • Mais do que distribuir presentes?

  • Sim. Ele distribuiu algo muito maior.

  • O que?

  • Amor. Ele nos deu amor. Ele aproveitou a data em que comemoramos o nascimento de Jesus para fazer com lembremos da mais valiosa de suas lições: “Amemos uns aos outros”.

  • O que você está dizendo, então, é que...

  • O que eu estou dizendo é que o Papai Noel existe, sim. Existe dentro de cada um de nós que acreditam nele. Porque ele é uma luz, ele é a figura que nos lembra, nesta época, da importância em sermos solidários, generosos. Ele é amor! E, enquanto acreditarmos no amor, acreditamos nele!

  • Eu nunca tinha pensado assim...

  • Então, peço-te isso: vá para casa, pense em tudo o que conversamos. Na aula de teatro de amanhã, você dá sua opinião.

  • Está certo- disse Téo, despedindo-se do amigo.

  • Até amanhã.

Téo foi para casa e pensou em tudo o que Jonas tinha dito. Quase não dormiu aquela noite, tentando entender o sentido de tudo o que conversara com o amigo.

No dia seguinte, Dona Mariana reuniu a turma e perguntou se alguém tinha tido alguma ideia para a peça.

  • Eu tive! - disse Téo, levantando a mão.

  • Ora, que bom que você resolveu participar da peça.

    - Sim, resolvi. A minha ideia é simples: vamos fazer algo diferente. Não vamos dizer que Papai Noel trabalha o ano inteiro, que distribui presentes em uma noite. Vamos dizer a verdade!
  • Téo, eu fui bem clara, ontem, quando... - interrompeu Dona Mariana,

  • Me escuta, professora, por favor – pediu Téo. - Vamos dizer a verdade. Que Papai Noel não distribui presentes. Ele distribui amor. O Amor de que Jesus falava, o Amor Maior. O Amor que temos sempre que ter, uns pelos outros. O Amor que nos faz querer ajudar ao próximo, querer estar perto de nossa família e amigos. Porque cada presente, por menor que seja, tem um significado. Cada presente é um símbolo de carinho. E é isto que Papai Noel faz, de fato: dá carinho, dá amor.
  • Que lindo, Téo! - disse a professora.

  • Eu acho, professora – interrompeu Jonas – que o Téo entendeu o verdadeiro significado do Natal, e está cheio de ideias para a nossa peça!

  • Ah, estou, mesmo! - disse Téo.

Todos começaram a conversar, sugerir temas, cenários, músicas. O resto da aula, e as aulas seguintes, passaram voando até a apresentação.

No dia da apresentação, a peça foi um sucesso: todos aplaudiram de pé a linda montagem que os alunos fizeram e emocionaram-se com o texto. Os alunos e a Dona Mariana não cabiam em si de tanta felicidade.

No final da apresentação, Jonas despediu-se de todos e sumiu, sem que os demais percebessem. Num piscar de olhos ele estava no pólo Norte, com roupas verdes, ao lado do Papai Noel.


- É, Papai Noel. Mais uma criança que ouve mentiras a seu respeito.

  • Eu sei, meu filho. Eu não entendo como podem acreditar...

  • Eu também não entendo. O senhor tem aparecido cada vez

    mais, tentando conversar com mais e mais crianças, e ainda assim...

  • Tem aquelas que acham que eu não existo! - disse Papai Noel.

  • Exatamente.

  • Mas eu tenho sorte de ter ajudantes fiéis como você, Jonas. Que saem pelo mundo disfarçados para levar a minha mensagem de amor.

  • A sorte é minha, Papai Noel, de trabalhar aqui.

  • Pois é, e falando nisto temos muito trabalho a fazer. Vá descansar um pouco, que a noite vai ser longa...


E então Papai Noel levantou-se e pediu que seus ajudantes começassem a arrumar seu trenó. As renas estavam preparadas e, em poucas horas, começaria mais um voo. Um voo que acontece todos os anos, na noite de Natal, para levar amor às crianças do mundo todo!




Para todos vocês, meus queridos amigos,

um Natal abençoado! Que todos possam

sentir, todos os anos, a magia do Natal

invadir seus corações. Exatamente como uma

criança que, ansiosa, não consegue

dormir, esperando encontrar o Bom Velhinho...

2 comentários:

carol disse...

Eneida,
linda historinha, é este mesmo o espírito de natal. Papai Noel é um símbolo
maravilhoso.
bjos
Letícia

Pati Alves disse...

Que lindo....
Emocionante...
Parabéns!

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