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O sapo que lavava o pé




O Sapo que lavava o pé



Era uma vez um sapo engraçado e esperto chamado Romildo. Romildo era simpático e falante e tinha uma porção de amigos – todos o chamavam de Romi. Romildo morava em um tronco, que ficava na beira de uma lagoa de água muito fria. Sua casa estava sempre muito arrumada, porque esta era uma mania de Romildo: gostava de tudo no lugar!

E, do mesmo modo que cuidava da casa, cuidava de si: tomava banho duas vezes por dia, e depois do banho se enchia de perfume. Estava sempre limpinho e cheiroso.

Um dia, Romildo estava tomando um pouco de sol quando chegaram algumas crianças para brincar na lagoa. O sapo, que adorava crianças, aproximou-se do grupo, pensando em fazer novos amigos. As crianças, ao verem um sapinho tão engraçadinho se aproximando, logo o chamaram:

  • Vem cá, sapinho!

Romildo, sorridente, se aproximou das crianças, que começaram a brincar com ele. Ele ficou tão feliz que dava pulinhos para lá e para cá. As crianças riam muito da bagunça. Só que a mãe de uma das crianças se aproximou. E, ao contrário dos pequenos, não viu a menor graça no nosso amiguinho:

  • Vocês estão malucos? Brincando com um sapo? Não sabem que sapos são sujos?

Uma das crianças, um menino sardento chamado Pietro, tentou argumentar:

  • Mas tia Celeste, este aí está parecendo bem limpinho...

  • Limpinho nada, menino! Sapo nem lava o pé, esqueceu?

As crianças se olharam com espanto. Ficaram imóveis, por um minuto, e então começaram a cantar:


'O sapo não lava o pé

Não lava porque não quer

Ele mora lá na lagoa

Não lava o pé porque não que

Mas que chulé!'


Riram e riram, até uma menina loirinha, chamada Mariana, dizer:

  • Mas isto é só uma música! Não tem nada demais!

  • Claro que tem! Cantam esta música porque o sapo não se lava, mesmo. Agora, vamos. Quero todo mundo para longe deste sapo imundo! - ordenou a tal Celeste.

Romildo assistiu a tudo mudo. O que poderia dizer? Ficou surpreso com o modo como tinha sido tratado. Justo ele, tão limpinho... Ficou pensando e pensando na música que as crianças cantaram. Aquilo era uma tremenda mentira, todos os sapos que conhecia lavavam os pés! Ainda assim, achou que era melhor verificar. Será que algum sapinho estava dando má fama a todos os demais?

Logo no primeiro dia, Romildo verificou todos os sapos que moravam em sua lagoa. Todos afirmavam que lavavam os pés, sim! Romildo viu que falavam a verdade: ninguém tinha o pé fedido por ali!

Romildo decidiu, então, rodar o mundo para procurar o sapo que não lavava o pé. Para ele, aquela tinha se tornado uma questão de honra: não ia levar fama de chulézento por conta de um sapo que queria ser porquinho!

E assim, nosso amigo rodou o mundo. Foi para outras lagoas, lagos, rios. Esteve em outros países, conheceu gente de todo canto. E, onde ia, encontrava sapos limpos. Até nos lugares muito muito muito frios, em que os sapos só tomavam banhos uma vez a cada três dias, ele não sentiu o tal chulé – os sapos ficavam sem banho, mas enchiam os pés de talco para não ficarem fedorentos.

Depois de muito andar por aí, Romildo chegou a uma lagoa longe de tudo, em um país muito distante. Nesta lagoa, vivia apenas um sapo, que tinha muita idade e sabedoria. Romildo, assim que o viu, não conteve a curiosidade e disse:

  • O senhor está com um cheiro tão bom... Eu já rodei o mundo procurando pelo sapo que não lava o pé. O senhor é mais experiente, já deve ter visto de tudo. Diga, sabe onde posso encontrar o sapo que não lava o pé?

  • Não pode, meu filho.

  • Como, não posso? Onde ele está? Como ele é? Por que ele não lava o pé?

  • Você não pode encontrá-lo simplesmente porque ele não existe.

Romildo arregalou os olhos. Não podia acreditar no que escutara.

  • O senhor que dizer... Este tempo todo, eu estive procurando por um fantasma?

  • Este tempo todo, meu filho, você esteve procurando por uma mentira.

  • E por que? Quem inventou isto?

  • Alguém que, há muitos e muitos anos, quis drenar uma lagoa para construir um grande edifício. Vieram pessoas para proteger os animais que moravam ali, e iam conseguir. Então, inventou-se esta mentira, que o sapo é sujo, transmite doenças. Conseguiram drenar a lagoa e ganharam muito dinheiro com o edifício.

  • Então... tudo isto é invenção! Mas por que continuam dizendo isto? Por que fazem com que as crianças pensem que isto é verdade?

  • Porque ainda há muitas lagoas a serem drenadas, muitos prédios a serem construídos. Justamente por estas crianças, que logo se tornarão adultos...

Romildo agradeceu a conversa e saiu. Novamente, nosso valente amigo estava disposto a rodar o mundo. Não mais procurando um fantasma, mas dizendo a

verdade. Não para os adultos, que não querem ouvir. Mas para as crianças, sempre tão sábias em suas dúvidas.

Ele ainda roda o mundo. Já conheceu muitas e muitas crianças que, hoje em dia, sabem que o sapo lava o pé. Mas ainda tem muitas e muitas outras por conhecer. E ele está feliz com isto. Melhor ser um sapo itinerante, que faz amigos contando a verdade, do que um sapinho conformado, que vive no seu canto aturando mentiras...

1 comentários:

carol disse...

Gostamos muito, estávamos com saudades do blog.

ah, a do Alecrim DOurado foi muito divertida.

bjos,
Letícia e Carol

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