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Recontando: 'O rato do campo e o rato da cidade'


O rato do campo e o rato da cidade




Há não muito tempo atrás, em um pequeno sítio, vivia uma família de camponeses. O pai, o Sr. João Ratão, acordava todos os dias junto com o sol e ia para a lavoura. Ele cultivava trigo, milho, arroz, feijão e algumas frutas. Seus filhos, João Ratão Júnior, Maria Ratinha e Tiago Rato, iam de manhã para a escola. Na volta,

faziam suas lições de casa e o ajudavam na colheita. D. Santana Ratazana, esposa do Sr. Ratão, era quem cuidava da comida de todos. E era uma cozinheira de mão cheia: os filhos adoravam tudo o que a mãe fazia!

Em um ano, o inverno foi muito rigoroso e a colheita, escassa. Ainda assim, a família não reclamava: havia comida suficiente para todos à mesa, e isto era o que

importava.

Um dia, porém, chegou ao sítio um sobrinho do Sr. João Ratão. Seu nome era Johnny Mouse e ele vivia em uma grande cidade perto dali. Johnny chegou em uma lambreta, trazendo uma caixa de bombons de presente para seus tios. Tinha a mesma idade de Tiago e, por isso, eram muito amigos.

D. Santana, querendo agradar ao sobrinho, tratou de caprichar no jantar. Pegou todas as sobrinhas de legumes e fez uma bela ratatouille, que serviu com uma deliciosa broa de milho. A família sentou-se à mesa, contentíssima com o banquete. Todos, exceto Johnny, que parecia torcer o nariz para as delícias preparadas pela tia. Perguntou, sem preocupar-se com as boas maneiras:

  • Tia Santana, onde tem queijo?

Todos se entreolharam, surpresos com a pergunta. A tia, sem graça, respondeu:

  • Johnny, este ano o inverno foi rigoroso e mal conseguimos o trigo. Leite, nem pensar! Há tempos que não comemos queijo.

  • Ora, como podem ficar sem queijo? - insistiu, rudemente, Johnny.

  • Do mesmo modo que você fica sem ar puro na cidade, meu sobrinho – interrompeu o Sr. João Ratão. - Cada um vive da forma que lhe convém.

  • Está certo, tio, me desculpe. Eu não quis ser rude – desculpou-se Johnny.

Depois do jantar, no entanto, Johnny chamou Tiago para darem uma volta. Assim que saíram da vista dos demais, Johnny começou:

  • Primo, primo. Por que você continua aqui, escondido neste fim de mundo?

  • Aqui é minha casa, Johnny!

  • Ora, vamos lá! Uma casinha simples, sem ter quase o que comer...

  • Não diga isto! - Tiago não gostou da observação – Nunca se passou fome nesta casa!

  • Está certo, não passam fome. Mas também não comem queijo! Que é isso, primo!

  • Não sinto falta – tentou desconversar Tiago.

  • Ah, tá bom. Até parece! Na cidade, é queijo todo dia! - continuou Johnny.

  • Queijo todo dia?- quis saber Tiago.

  • Queijo todo dia!

    E de tudo quanto é tipo! - insistia Johnny.

  • Mas... tem muitos tipos de queijo?

  • Primo! Você não sabe de nada! Fica aqui, no sítio, vivendo de broa de milho. Quando dá, come um queijinho caseiro. Isto pode ser suficiente para os tios, que estão velhos, mas não para nós! Na cidade, há fartura! Tem queijo que você nem sonha, que vem da França, que vem da Espanha, que vem da Grécia! Tem queijo salgado, temperado, pastoso e até mofado! Todos, deliciosos! Vem comigo pra cidade, primo! Você vai ver o que é a vida boa!

E assim foi que o Johnny tanto falou e falou que convenceu o Tiago. E, dois dias depois, quando Johnny foi embora, levou Tiago na garupa da lambreta.

Quando chegaram à cidade, Tiago levou um susto. Era tanta gente, tanto barulho, tantos sons e cores que o deixaram tonto! Mas, feliz. Era tudo tão bonito e excitante que ele estava mesmo feliz em estar ali. Johnny o levou para sua casa, e Tiago não pôde acreditar no que via. A casa de Johnny era grande e bem iluminada, com móveis de madeira escura contratando com o chão e a parede bem claras. Tudo era muito luxuoso e bem cuidado. Pela primeira vez, Tiago via a riqueza de perto.

Na hora do jantar, Johnny pediu que o primo sentasse à mesa, pois lhe traria tudo do bom e do melhor. Johnny, então, preparou uma enorme tábua de queijos e frios, trouxe diversas variedades de pães, manteiga, geléia e patê. Tiago não sabia nem por onde começar: nunca havia comido nada daquilo antes! Colocou um pedação de pão na boca e comeu com queijo brie.

  • E então? - quis saber Johnny – é ou não o paraíso?

  • O queijo é perfeito – admitiu Tiago – mas o pão não ganha da broa que minha mãe faz.

  • Ah, tá! Prova o pão australiano primeiro, depois a gente conversa - desdenhou Johnny. - Vamos, continue comendo.

Os primos comiam e conversavam felizes, como se não houvesse amanhã. E, de repente, quase que não há mesmo!

Surgido sabe-se lá de onde, um enorme gato pulou em cima da mesa e interrompeu a refeição dos dois. Ao contrário dos primos, seu interesse não era devorar os queijos. Seu banquete eram os ratos, ele estava disposto a caçá-los de qualquer jeito.

Johnny, num instinto, pulou para dentro de um buraco. Lembrou-se do primo e gritou: 'para a esquerda, Tiago!' Tiago obedeceu e achou um pequeno esconderijo escondido na parede, à esquerda de onde estava.

O enorme gato peludo

farejou os dois e tentou enfiar as patas para pegá-los. Mas era muito grande para conseguir entrar em buracos tão pequenos. Ficou rondando e rondando durante horas, até desistir e ir embora. Quando finalmente se viram sozinhos, Johnny e Tiago saíram de seus esconderijos.

  • Que bagunça este danado fez! - exclamou Johnny. - Mas, não se preocupe primo! Em dois tempos eu arrumo tudo e nos faço uma ceia!

  • Está louco, Johnny? Você não viu o que aconteceu aqui?

  • Ah, era só o gato da vizinha! De vez em quando ele aparece para me azucrinar, mas eu sempre me safo. Bom, vou preparar uma ceia super caprichada para nós dois, combinado?

  • Desculpa, primo, mas não vai dar. Volto neste mesmo instante para o campo. Você, na cidade, tem à vontade gorgonzola. Eu, no campo, tenho paz e ninguém me amola!

E assim, Tiago voltou para seu sítio no campo, longe dos queijos e dos perigos da cidade grande...



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