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Narciso quer ir à lua - Parte 1

Narciso quer ir à lua



Narciso acordou com uma vontade danada de ir até a lua. Estava com esta vontade desde a tarde do dia anterior quando, no recreio, Júlia lhe disse que a lua era todinha feita de queijo. E Narciso era o menino que mais gostava de queijo no mundo: branco, amarelo, cremoso e até aqueles bem fedidinhos –

Narciso devorava todos! Quando soube, então, que a lua era feita de queijo, nasceu nele uma vontade grande, grande, grande, de ir até lá.

Depois do café da manhã – onde sempre comia um queijo-quente, como era de se esperar -, começou a arrumar sua bagagem. Pegou uma mochila e abasteceu-a com tudo o que precisaria para sua viagem: um pacote de torradinhas, um pãozinho francês, três fatias de pão de forma e meio pacote de biscoito cream cracker. 'Vou ter bastante coisa para acompanhar aquele queijo todo', pensou. Abriu a geladeira e pegou ainda duas caixas de toddynho. Porque queijo dá um pouquinho de sede, vocês sabem.

Narciso saiu de casa e, logo na esquina, parou no ponto de táxi. Os motoristas conversavam distraídos, mas um logo reparou no menino. Foi até ele:

  • Olá, filho. Você quer ir para algum lugar?

  • Quero sim, senhor, e tenho pressa!

  • Sua mãe sabe que você está aqui na rua, sozinho?

  • Sabe, sim. Deixei um bilhete dizendo que daria uma saída e já voltava.

  • Muito bem. E para onde você quer ir?

  • Para a lua!

  • Para a lua?

  • Sim, eu quero ir para a lua! Me leva lá?

  • Desculpa, filho, mas eu não posso levá-lo até a lua.

  • Por que não? Eu tenho dinheiro, olha! - disse Narciso, catando várias moedinhas do bolso.

  • O problema não é este, garoto. O problema é que meu táxi não pode te levar até a lua.

  • Não pode?

  • Não. Não pode. Para isso você precisa de um táxi espacial.

  • E onde fica o ponto do táxi espacial?

  • Ih, rapaz, nesta você me pegou! Olha, eu acho que fica longe, em outro país.

  • Em outro país?

  • Pois é. E não sei se levam meninos, não. Acho que você teria que crescer mais um bocado...

Narciso voltou para casa triste. Como faria para pegar o tal táxi espacial? Como chegaria neste outro país onde fica o ponto? Pensou e pensou. Viu que era muito difícil pegar o táxi espacial, então teve uma ideia: construiria sua própria nave para ir até a lua!

O menino juntou tudo o que precisava para construir uma boa nave espacial. Pegou algumas caixas bem grandes de papelão, muitas tintas – era importante fazer uma nave bem colorida, para que os passarinhos saíssem de seu caminho – um farol quebrado de bicicleta, uma buzina, sua lanterna de escoteiro, tachinhas, fita durex e, claro, algumas bombinhas de São João.

A tarefa era dura, mas Narciso estava empenhado. Começou cortando as caixas de papelão. Com a fita durex, unia as pontas – que pregava com tachinhas, para ter certeza que aguentariam a viagem. Pintou a nave bem bonita, cheia de cores. Na parte da frente, colocou o farol (ele conseguiu ajustá-lo usando um tantinho de papel alumínio e nem dava para ver que estava

quebrado); acima dele a lanterna. Por dentro, instalou a buzina. Em toda a lateral, as bombinhas de São João. Agora só faltava zarpar rumo à lua! Pegou um cinto de seu pai, amarrou-o em volta da nave e se colocou dentro dele. Era muito importante estar com um cinto de segurança em uma viagem à lua, como vocês devem imaginar. Acendeu as bombinhas e…tec, tac, tec! As bombinhas estouraram, sem que a nave levantasse nem mesmo um tiquinho do chão.

  • Narciso, vem almoçar! Anda, senão você se atrasa para a escola!

  • Já vou, mamãe!

Narciso estava arrasado! Uma nave tão bonita, mas que não levantava voo. E agora já estava na hora da escola, hoje não conseguiria chegar até a lua.

Foi para a escola, cabeça baixa e ar distraído. Não prestou muita atenção ao que a professora dizia. Seu pensamento estava muito distante dali. Na lua...

Na hora do recreio, sentou num canto da quadra. Júlia chegou num pulo, perguntando de uma vez:

  • Ei, que bicho te mordeu hoje?

O menino contou, tintim por tintim, tudo o que acontecera. A amiga riu:

  • Você é bobo mesmo, hein, Narciso! Você acha que bombinha de São João é combustível de foguete?

  • Eu achei que dava para...

  • Deixa de falar besteira! Tem que ter algo que funcione de verdade.

  • Como o que?

  • Não sei... Vou pensar em alguma coisa e amanhã de manhã eu vou lá para tua casa. Mas você tem que prometer que me leva junto!

  • Eu te levo. Mas se você levar mais biscoitos, para podermos comer o queijo todo!

  • Combinado!

Os dois apertaram as mãos, selando o acordo. Amanhã, enfim, viajariam até a lua...

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