Narciso quer ir à lua - parte final
Narciso acordou antes do despertador tocar. Estava ansioso, ansiosíssimo! Contava os segundos para chegar à lua. Correu até o armário do pai e pegou outro cinto. Era preciso instalar mais um, para que Júlia pudesse viajar em segurança. Desceu as escadas voando até o quintal. Olhou sua nave, e só então reparou. As bombinhas não fizeram a nave levantar voo, mas queimaram parte da pintura. Pegou as tintas e, rapidinho, fez os retoques. Pronto. A nave estava tinindo de nova outra vez! Mal ele terminou e Júlia chegou sorridente.
Nossa, Narciso. Como a sua nave tá bonita!
Acabei de pintá-la de novo. Trouxe os biscoitos?
Trouxe. Posso pintar umas flores, para verem que eu também estou na nave?
Pode. Mas só duas flores, para saberem que a nave é de menino!
Quatro!
Três!
Está bem, três. Mas na parte de trás!
Eu pinto do lado. É mais bacana.
Está bem, mas anda logo. Temos que ir e voltar antes do almoço.
Tá, tá. Então me ajuda aqui.
Os dois viraram a nave de lado e a menina pintou três flores: uma rosa, uma vermelha e uma amarela. Em cima delas, escreveu: Nave do Narciso e da Júlia. O menino reclamou:
A nave é só minha, Júlia!
Se não for minha também, não te dou o combustível!
Os olhos do pequeno viajante brilharam. O combustível! Ela conseguira, afinal?
Você trouxe?
Claro que sim! Não disse que ia trazer?
Qual é o combustível?
Gasolina, claro.
Você acha que é o combustível certo?
Ora, Narciso, se faz carro andar, vai fazer a nave andar também!
E como você conseguiu gasolina?
Peguei da mobilete da minha irmã. Mas, olha... se ela te perguntar, não fui eu não, hein!
Tá, tá.
Promete?
Prometido! - disse Narciso, esticando a mão para outro aperto de mãos. Ele e Júlia tinham muitos acordos e segredos e um nunca seria capaz de trair o outro.
Então. Onde colocamos a gasolina? - continuou Júlia.
As bombinhas eu colei na parte de baixo da nave...
Mas a gasolina não dá, né, mané! Tem que ter um tanque.
Tanque? A gente vai lavar roupa ao invés de comer queijo, é? - debochou o menino.
Não, não. Ai, você não sabe de nada, mesmo. Tanque de combustível, óbvio!
Eu não tinha nem pensado nisto... - confessou Narciso.
Pois trate de pensar! A gente tem que colocar a gasolina em algum lugar, senão não saímos do chão.
Aguenta aí que eu já volto ! - disse Narciso, correndo para dentro de casa.
O menino foi até seu quarto e revirou tudo. Achou, enfim, o que buscava. Pegou e voou de volta para o quintal.
Pronto, tá aqui! - anunciou.
O que é isso? - Júlia não sabia o que era aquele brinquedo.
É meu batmóvel! Olha só, ele tem um tanque bem grande aqui atrás – disse Narciso, virando o carro para mostrar à amiga.
Então tira ele e põe do lado da nave.
É pra já!
Narciso tirou o tanque do batmóvel, um carro enorme no qual ele conseguia subir e pilotar até o ano anterior. Agora crescera mais e o brinquedo se tornara pequeno. Mas o tanque ainda serviria, com certeza. Pegou mais fita durex e, sob o atento olhar de Júlia, pregou o tanque na lateral da nave. A lateral sem as flores, claro!
- Pronto. Tá instalado – comunicou o menino.
- Então abre a tampa que eu vou colocar a gasolina – disse Júlia, tirando de dentro de sua mochila uma garrafinha de água cheia do combustível.
A menina despejou devagar todo o líquido dentro do tanque improvisado. Sem que precisassem dizer uma única palavra, os dois amigos se olharam. 'A hora é esta', era a frase dita no silêncio do olhar. Narciso puxou os dois cintos, pegou o menor e estendeu para Júlia. A menina afivelou-se sem problemas, enquanto o amigo fazia o mesmo. Num piscar de olhos a nave estava pronta para decolar, com o tanque cheio de combustível e a tripulação a bordo.
E agora, Narciso? - perguntou Júlia
Agora a gente liga a nave.
Como?
Bom, era para ser uma chave, mas eu instalei a lanterna. Serve de farol extra e chave de ignição.
Ah, tá. Liga, então.
Vou ligar, se prepara!
Narciso ligou a lanterna. Nada. Desligou, ligou de novo. Nada. Tentou uma terceira vez. Júlia ficou impaciente.
Esta chave de ignição não funciona. Melhor a gente tentar outra coisa.
Como o que?
Não sei...
E se a gente jogasse uma bombinha de São João dentro do tanque?
Será que funciona?
Acho que sim.
É, não custa tentar.
Espera aí rapidinho que eu vou lá no meu quarto buscar e já volto.
Vai logo!
Narciso pegou a última bombinha que tinha, uma caixa de fósforos e foi para o quintal. Júlia já tinha tirado o cinto e o esperava do lado de fora da nave, com o tanque de combustível aberto e o forte cheiro de gasolina exalando pelo ar. O menino aproximou-se dela, mostrando a bombinha e os fósforos e...
Foi justamente neste minutinho que a mãe de Narciso chegou do mercado.
Chegou e levou um susto: de onde vinha aquele cheiro? Ao encontrar o filho e sua amiga à beira de tacar fogo na gasolina, perdeu a cor por um segundo. Apenas por um segundo, porque no seguinte ela já estava de fôlego refeito lhes dando uma tremenda bronca:
Vocês estão doidos? Querem incendiar tudo? Se jogarem fogo aí dentro não vai ter foguete indo pro espaço, vai ter vocês dois e a casa inteira junto, picadinhos pelos ares!
E foi só então que as duas crianças se deram conta do perigo que estavam correndo. Gasolina causa incêndios horríveis. Como não tinham pensado nisto antes? Envergonhado, Narciso disse timidamente:
Desculpa, mamãe, nós não pensamos direito. Tudo o que queríamos era ir até a lua para comer queijo...
Comer queijo na lua? - perguntou Dona Lúcia, mãe de Narciso.
Comer o queijo da lua – corrigiu Júlia.
Que história é esta?
E então Narciso e Júlia contaram para Dona Lúcia que a lua era feita de queijo – pelo menos foi isto que o primo da Júlia lhe dissera – e que estavam construindo uma nave espacial para ir até lá tirar umas lasquinhas.
Ao final da história, a mãe de Narciso já havia se esquecido do perigo, da bronca, de tudo. Estava às gargalhadas.
Só vocês, mesmo... - disse, rindo. - Em primeiro lugar, a lua não é feita de queijo, e sim de uma matéria rochosa. Em segundo, ainda que fosse feita de queijo, para chegar lá vocês precisariam estudar muito, tornarem-se astronautas e viajar numa nave apropriada. E em terceiro, para comer queijo vocês não precisam ter tanto trabalho. Eu acabo de trazer um queijo delicioso do mercado e vocês podem comer o quanto quiserem. Contanto que prometam se comportar e não se meter mais em confusão!
Nós prometemos! - disseram os dois, ao mesmo tempo.
Então Narciso e Júlia entraram e comeram queijo e queijo e queijo até se cansarem, sem nem precisar sair de casa.
E este seria o fim desta história, não fosse Narciso, além de guloso, curioso até não poder mais...
Ele ficou na dúvida entre quem estaria falando a verdade e resolveu tirar sua teima. Cresceu, sempre muito estudioso, e tornou-se um grande astronauta. Um dia ele chegou lá, na lua. Tocou no solo, viu do que era feito. Sorriu satisfeito e voltou para casa feliz...
Você quer saber se a lua é feita ou não de queijo? Então você pode ser um astronauta, como o Narciso. E, quando você descobrir, me conta!
Não gostou deste final? Tem outro:
E este seria o fim desta história, não fosse Narciso realmente o menino que mais gosta de queijo no mundo. Narciso cresceu sabendo distinguir os diferentes tipos, a origem, a
a consistência certa dos queijos. Tornou-se um renomado chef de cozinha, aplaudido no mundo todo por suas receitas de queijo. E Júlia, sua amiga de infância, continua sendo sua parceira. Até hoje é ela quem está ao seu lado, opinando na hora de decidirem o cardápio do restaurante que os dois montaram juntos...Quer mais um final?
Crie você! Coloque Narciso e Júlia na nave e os leve à lua; faça com que eles tenham uma dorzinha de barriga de tanto comer queijo; que eles se tornem amigos dos ratos de toda a vizinhança e dividam com eles todo o queijo do bairro. Invente o que quiser! E depois me conte como ficou! :)
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