Do espetáculo da noite anterior só havia restado sacos de pipoca vazios e chicletes colados nos assentos, papéis de bala, palitos de algodão-doce e todo resto de diversão daquelas pessoas que foram ao circo à procura de um punhado de alegria.
Da fenda da lona listada em vermelho e branco, por trás do picadeiro e indo em direção à plateia vazia, surge uma vassoura que ia e voltava recolhendo aqueles restos de felicidade espalhados pelo chão.
Quem guia a vassoura é um magro e tristonho palhaço. Seu sapato é grande e vermelho, seu macacão é longo e colorido, e no rosto pálido coberto de maquiagem, tem pintado logo abaixo do olho direito uma lágrima, que nunca desliza, e fica ali, lembrando-o de sua tristeza. Ele é o palhaço mais triste do mundo por que não sabia fazer rir e se sentia vazio por isso. O dono do circo, já zangado por ter o palhaço mais sem graça do mundo, lhe deu uma vassoura e o serviço de faxineiro do circo.
Naquela noite, enquanto varria, notou algo diferente entre os restos de lixo no chão. Olhou encantado por toda a volta, e se perguntou como não havia visto antes o monte de risos e sorrisos ali soltos, espalhados pelo chão. Correu para recolher aquela porçado de felicidade em forma de risada. Eram risadas ardidas e explosivas. Outras baixinhas e contidas. Tinha até algumas risadas que pareciam soluçar.
Pegou algumas e juntou em suas mãos. As risadas tinham cheiro doce. Comeu, e tinha gosto de felicidade. Comeu, comeu e comeu até se encher de risadas. Apagou a lágrma em seu rosto e desenhou uma estrela.
Na noite seguinte, quando as cortinas se abriram, o palhaço fez sua melhor palhaçada. As risadas da platea lotada lotaram o picadeiro e eram sem fim.
Sentada assistindo ao maior espetáculo da Terra e com a barriga doendo de tanto rir, a menina apontou para o palhaço e disse bem alto, sem pensar em mais nada: “Vejam! O palhaço é um homem todo cheo de risada”.
Alexandre Rampazo
Escritor e ilustrador de diversas obras - como A Menina que Procurava - deixou o trabalho como diretor de arte para se à paixão pela literatura infantil
HISTORINHA PUBLICADA NA REVISTA CRESCER
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