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A menina do cabelo de mola vira Princesa!!!



Naquela escola não se brincava de princesa. Isto desde que Jujuba disse que princesa tinha que manter a pose, ficar sentadinha quietinha acenando para todos – tal qual ela viu uma princesa de verdade fazer na televisão. E quem queria ficar sentadinha quietinha acenando para todos? Ninguém! As meninas tinham decidido que era melhor ser gente de verdade, para poder brincar de verdade. Então, elas prendiam os cabelos em rabos de cavalo e passavam o recreio brincando de pique-pega com os meninos, ou pulando amarelinha, ou brincando de elástico. Estavam sempre sujas e felizes. E é por isso que não brincavam de princesas.

Acontece que nem sempre o que as crianças pensam é igual ao que pensam os adultos. As meninas estavam todas muito satisfeitas com sua decisão de não serem princesas, mas a professora delas e a diretora da escola não sabiam disto. E, por isto, quando chegou a primavera, anunciou-se que a escola teria seu primeiro Baile das Flores, e que uma das meninas seria coroada Princesa da Primavera.

Claro que a professora e a diretora estavam fazendo isso para agradar as meninas. Elas estavam certas que o baile seria um sucesso e que todas as meninas iriam querer ser a Princesa da Primavera. Elas jamais poderiam imaginar a confusão que estavam causando.

O Baile Real, na verdade, não seria um baile. Seria uma festinha, no pátio da escola mesmo, numa tarde de sábado. Teriam um palco, onde uma banda de música ficaria tocando durante a festa e onde seria feita a coroação da Princesa da Primavera. Além disto, colocariam uns pufes espalhados ao redor do pátio e , na parede oposta ao palco, uma mesa grande com umas comidinhas boas. E, claro, flores espelhadas por toda parte! Ia ser tudo muito bonito.

Para escolherem a Princesa da Primavera, lançaram um concurso: 'quem é a menina mais legal da escola?' A menina que ganhasse mais votos, seria coroada princesa, ganharia uma tiara enfeitada, um manto cor-de-rosa com flores em lilás e uma faixa dizendo 'Princesa da Primavera'. A professora e a diretora tinham certeza que todas as meninas sonhavam com isso, que todas iriam querer ser a princesa da escola. Mas estavam enganadas.

Assim que foi anunciado o concurso, todas as meninas entraram em pânico! Nenhuma queria ser escolhida a Princesa da Primavera. Todas pensavam exatamente a mesma coisa: aquela que for escolhida não vai mais poder brincar de verdade na hora do recreio. Teriam que fazer alguma coisa, urgente, para impdeir este concurso.

Tônia tinha se tornado, de uns tempos para cá, a melhor amiga de Jujuba. Todo mundo gostava demais da Jujuba, que era um docinho de côco de tão doce! E, como Tônia era a melhor amiga dela, elas se tornaram as meninas mais populares do colégio. As duas sugeriam uma brincadeira na hora do recreio e todo mundo topava! E as duas eram bacanas mesmo: nunca decidiam uma brincadeira sem antes perguntar para turma o que eles achavam. Por isso até que todo mundo gostava delas. Agora, na hora do concurso, não teria escapatória. Decidir quem era a menina mais legal do colégio era fácil de dizer: seria uma disputa entre Jujuba e Tônia.

Foi a Tônia quem se deu conta disso. Não sozinha. Ela tava comprando chocolate na cantina quando o Cadu chegou e disse: ' Tônia, nós vamos dividir os votos. Eu, o Pereba, o Magrão e o Juninho vamos votar em você. O Luizão, o Marquinhos, o Mauricio e o Léo vão votar na Jujuba.' A menina, que tinha abocanhado um pedação do chocolate, se engasgou toda em desespero. Saiu correndo atrás de sua amiga, que estava do outro lado do pátio aprendendo como fazer pipas com o Zeca.

    • Jujuba, preciso falar com você agora, urgente!

    • Calma, Tônia – respondeu Jujuba – o que aconteceu?

    • Jujuba, nós estamos fritas!

    • Fritas? Por que? Nós não fizemos nada de errado!

    • O Cadu me disse que os meninos vão dividir os votos. Vão votar em nós duas para Princesa da Primavera! E se os meninos vão fazer isso, acaba que a escola toda vai copiar a ideia. Isto quer dizer que uma de nós vai ser a princesa da escola. Ou, pior: que nós duas vamos ser as princesas! Nunca mais vamos poder brincar de pique na vida!

    • O quê? Mas você tem certeza disso?

    • Certeza absoluta! Estamos fritas!

    • Estamos fritas! - respondeu Jujuba, de imediato.

As duas continuaram sentadas na lateral do pátio, em silêncio, por alguns intantes. De repente, Jujuba deu um salto e exclamou:

  • Tônia, quem tá frita é você!

  • Como eu, Jujuba? Você não me ouviu dizer que os meninos vão dividir os votos? Vai ser tudo meio a meio, vamos ser princesas juntas!

  • Eu, não! Eu tenho o cabelo de mola! Princesas não tem cabelo de mola, não é?

  • E eu? E agora?

  • Agora precisamos dar um jeito de te tirar desta enrascada! - respondeu Jujuba, convicta de que sua amiga seria coroada princesa da escola.

Naquele mesmo dia começou uma estranha movimentação no colégio. Jujuba foi falar com o Cadu, que falou com o Léo, que passou a mensagem pro Magrão, que contou pro Mauricio, que espalhou a mensagem para todo mundo. O recado era curto e grosso: 'não votem em nenhuma menina para Princesa da Primavera.' Os meninos, claro, não discutiram a ordem diante do argumento dado: a menina que fosse coroada princesa não poderia mais brincar com eles. E eles não queria deixar de brincar com ninguém, por isso não tiveram o menor problema em obedecer as instruções. Quanto às meninas... nem precisa dizer que se uniram, estavam todas morrendo de medo de perder o direito de brincar de pique. Até a Gabi, que tinha mó pinta de princesa por natureza (era a cara Branca de Neve) só dizia 'Deus-me-livre-ser-princesa-eu-adoro-amarelinha!' o dia todo.

O dia do baile foi chegando. As urnas para saber quem seria a princesa da escola seriam abertas no dia do baile, diante de todos. Mas a professora estava de olho nos alunos. E sentia um clima esquisito. Resolveu então, sem que ninguém soubesse, dar uma espiadinha na urna que tinha ficado em sua sala de aula. Abriu o cantinho com cuidado, para que ninguém soubesse que ela tinha espiado, e... nada! Nem mesmo um único voto para contar a estória! Saiu feito um foguete para a sala da diretora.

Míriam, a diretora, era de uma calma inabalável. Estava no meio dos seus afazeres quando a professora Nancy entrou feito uma doida, descabelada e ofegante, em seu gabinete, gritando:

  • Diretora, diretora! Uma catástrofe! Uma catástofe sem igual!

  • Acalme-se Nancy, respondeu Míriam. Do que você está falando?

  • Eu abri a urna da minha sala e...

  • Você o quê? As urnas são lacradas, tem que ser abertas na presença de todos!

  • Me escuta, Míriam! Tem alguma coisa errada! As crianças não estão votando!

  • Como não estão votando?

  • Nao estão votando! As meninas não querem ser princesas!

  • Não querem ser princesas? Que absurdo é este agora?

  • É isto mesmo que você ouviu! As meninas não querem ser princesas, não deixam que os meninos votem nelas e se uniram para que nenhuma receba voto algum.

  • Mas isto não tem o menor cabimento! Todas as meninas querem ser princesas! Todas as meninas são naturalmente princesas, ora bolas!

  • Pois é, mas as daqui não querem ser.

  • Mas se até outro dia viviam brincando de princesas que eu lembro...

  • Isto foi há meses, Míriam. Agora só querem saber de pique, amarelinha e elástico. E não querem ser princesas, de jeito nenhum!

  • Ora veja se pode! Nancy, convoque uma reunião com a turma toda. Eu quero falar com eles.

Na hora da saída, as crianças não foram liberadas. A professora visou que deveriam ficar um pouco mais na escola. Ninguém entendeu nada. Passados uns minutos, foram avisados que poderiam ir para o pátio. À frente deles, a diretora Míriam, com seu ar sereno de sempre, tinha uma expressão confusa.

As crianças sentaram-se enfileiradas no chão do pátio. Trouxeram uma cadeira para a diretora Míriam, que começou a falar.

  • Crianças, pela primeira vez aqui na escola teremos um baile. O Baile Real. Vocês sabem o quanto eu estou feliz com isso? Vai ser uma festa linda, vamos ter música, flores, só coisa bonita. E esta festa é para vocês! Ou vocês não sabem disto?

  • Sabemos, diretora Míriam! - responderam as crianças em coro.

  • Então. Pois é uma festa para comemorar a estação das flores. E para receber as flores, vamos coroar uma princesa. Esta princesa vai ser eleita por vocês. Tem que ser uma meina muito legal, daquelas que todo mundo gosta. Eu tenho certeza que todos aqui estão em dúvidas, não é? Vocês acham todas as meninas legais, e são mesmo. Mas deve ter alguma que vocês achem que é mais legal ainda. Uma que é amiga, generosa, gentil... E é nesta que vocês devem votar. Agora que vocês já entenderam as regras, vocês podem votar em quem quiserem, está bem?

  • Não, diretora Míriam.

  • Quem falou isso? - perguntou a diretora.

E então aquele pingo de gente, aquele docinho de menina, levantou-se de onde estava sentada e respondeu, suave e firme ao mesmo tempo:

  • Eu, diretora Míriam.

  • Jujuba? Você não quer votar?

  • Não, diretora. Nem eu, nem ninguém vai votar. A Tônia não quer ser princesa!

Nisto a Tônia levantou-se e falou alto 'eu não quero ser princesa', enquanto a Gabi começou a murmurar 'Deus-me-livre-a-Tônia-ser-princesa-e-nunca-mais-pular-amarelinha', o Cadu começou a gritar 'abaixo a realeza!' e ficou todo mundo falando junto e foi uma confusão danada. A diretora Míriam, sempre tão calma, levantou-se da cadeira e deu um grito: 'SILÊNCIO!' E foi tão tão alto e tão tão inesperado porque ela não gritava nunca que fez efeito imediato: as crianças sentaram-se, mudas, num zás-trás.

  • Eu quero entender o que está acontecendo. Quero todo mundo quietinho. Só fala quem eu chamar. Muito bem. A Tônia não quer ser princesa. Vocês já fizeram a votação entre vocês, por acaso? Juuba, você parece estar por dentro desta estória. Quer fazer o favor de me explicar o que está acontecendo?

  • Diretora Míriam, com sua licença. Nós gostamos muito da estória do baile. Só não gostamos de ter que ter uma princesa, ainda mais a Tônia.

  • Ok. Eu quero entender o porquê de vocês não quererem ter uma princesa, primeiro. E depois quero que me expliquem porque acham que a Tônia seria a princesa da escola.

  • Bom, nós não queremos ter princesa porque a princesa não pde brincar de pique. E a Tônia seria a princesa porque é para escolher a menina mais legal.

Jujuba respondeu com uma certeza que confundiu ainda mais a diretora. De que raios aquela menina estava falando, afinal? E por que todas as outras crianças concordavam com ela?

  • Desculpa, Jujuba. Eu estou tentando entender o que você diz, mas não consigo. Não faz o menor sentido. Vamos por partes. Me explica, por favor, o porquê de princesa não poder brincar de pique.

  • Ah, isso. Todo mundo sabe. Princesa tem que ficar quietinha, acenando para todo mundo e sendo bem educada o tempo todo. Não pode se sujar, não pode pular, não pode correr. E nós gostamos de fazer isso tudo. Então não queremos ser princesas!

A diretora finalmente começou a entender do que as crianças tinham medo. Não se conteve, soltou uma gargalhada. A professora Nancy, que estava ao seu lado, também não conseguiu conter o riso.

  • Jujuba, quem disse que princesa não pode fazer isso?

  • Eu vi. Na televisão. No casamento da princesa com um príncipe em um país lá longe...

  • Jujuba, você assistiu a um casamento. Você não viu a infância da princesa. É claro que a princesa pode brincar do que quiser!

A expressão de Jujuba mudou na hora. Ela simplesmente exclamou:

  • Então a Tônia pode ser princesa!

  • Pode. Pode a Tônia, a Gabi, a Luiza... e você! Por que você só fala da Tônia? Eu ouvi dizer que muita gente também gostaria que você fosse coroada a princesa da escola.

A menina, sempre tão risonha, agora mostrava uma expressão séria. Respondeu a diretora com firmeza

  • Eu não posso ser princesa porque tenho o cabelo de mola!

A diretora quase caiu para trás! Quem teria dito tamanho absurdo a uma menina tão doce, tão amiga, tão linda quanto aquela?

  • Jujuba – a voz da diretora saiu tremulando – quem te disse uma insanidade destas?

  • A Tônia! - Jujuba apontou para a amiga, que levantou-se e explicou:

  • É diretora, as princesas tem o cabelo liso, como a Rapunzel, a Branca de Neve, a Cinderela, a Bela Adormecia, a...

  • Pára! - a diretora interrompeu Tônia – sente-se, Tônia, por favor.

Tônia obedeceu na hora. A Diretora Míriam estava tão séria que nem tentou argumentar nada.

  • Eu quero que vocês, todos vocês, prestem atenção ao que eu vou dizer – continuou a diretora. Especialmente vocês duas, Jujuba e Tônia. O que vocês veem nos contos de fada, estas princesas que você mencionou, são apenas algumas princesas que existem. São princesas de contos de fadas. Mas, na vida real, já existiram, e ainda existem, milhares de princesas de cabelo de mola. Cabelos iguais aos seus, Jujuba.

Todo mundo olhou para a Jujuba nesta hora. Ela estava fixa olhando para a diretora Míriam, como se estivesse ouvindo a maior invenção do mundo pela primeira vez.

  • E o que todas estas princesas tem em comum? Não é uma tiara enfeitada, não é um manto bonito. Não é o tipo de cabelo, não é a cor da pele. O que elas tem em comum, o que toda princesa tem que ter, são os atos de princesa – a diretora Míriam falava com tanta certeza que ninguém discordava. Nem o Léo, que adora criar uma confusão . Vocês sabem o que são estes atos que tornam uma princesa, de fato, uma pessoa nobre?

  • Não, diretora – responderam todas as crianças juntas.

  • O que faz alguém ser nobre é ser justo, leal, amigo, generoso, caridoso. Isto tem alguma coisa a ver com cabelo, por acaso?

  • Não, diretora – as crianças ouviam fascinadas o que a diretora dizia.

  • Pois então. Guardem esta lição pelo resto da vida. Não se conhece uma pessoa pela cor, pelo tipo de cabelo, ou alguma coisa assim. E não é assim que devemos escolher nossos amigos. Ou alguém aqui escolheu o amigo por causa do cabelo dele?

  • Não, diretora – as crianças riram.

  • Isto mesmo. Porque isso não interessa. Importante é saber o que a pessoa leva na cabeça. E o que a pessoa leva no coração. Não se esqueçam nunca disto!

  • Sim, diretora! - as crianças gostaram disto e responderam felizes.

  • Agora, que vocês já sabem disto, também sabem que qualquer uma pode ser princesa, com cabelo liso ou de mola. E eu quero que vocês escolham alguém para ser a princesa da escola. Alguém de quem vocês gostem muito. Alguém que tenha a cabeça cheia de boas ideias e o coração cheio de amor. Combinado?

  • Combinado! - responderam todas as crianças, que foram dispensadas depois disto.

No dia do Baile Real, não houve nenhuma surpresa na hora de abrirem as urnas. Jujuba, que era a menina que tinha um coração transbordando de amor e a cabeça borbulhando de boas ideias, foi a que recebeu todos os votos. Foi coroada a Princesa da Primavera. E, como ela era cheia de boas ideias, decidiu que, dali em diante, todas as meninas da escola seriam princesas. E isto acabou acontecendo também na rua da Jujuba, no seu bairro, na sua cidade... E daí não teve jeito. Fizeram uma lei declarando 'a partir deste momento, todas as meninas são princesas!'

E vocês, que estão aí e já são princesas, lembrem-se sempre disto. Não importa o título de nobreza. Para ser princesa, tudo o que precisa é boas ideias na cabeça e amor no coração. E isto eu sei que vocês tem de montão!



http://bonequinhosdepalito.blogspot.com foi responsável pelas imagens maravilhosas desta historinha!!!!

7 comentários:

Beta Bernardo disse...

Coisa mais fofaaaaaaa!!!

Vcs arrasaram!!! ;)))

Bjks, Beta

Dadá disse...

Ficaram tudo de bom estas imagens, né? Eu caí de quatro quando vi!!! Estou preparando uma historinha para você, viu? ;-)

Beijos

Carla disse...

Lindo Dadá! Amei a história e os Bonequinhos de Palito. Bjks

Flavia Bernardo disse...

Historinha linda! E super sensível!
Amei!

Elaine Cunha disse...

História linda! Parabéns!
E as bonequinhas de palito, show!

Bjos, Elaine Cunha

Eunice disse...

Estou amando essas dobradinhas de estórias... primeiro a da bola de gude e agora a do cabelo de mola !!! A de hj está mt especial, parabéns para vc e p a Carol tb. Mt orgulho dessas Horácio. Bjs. Nine

ruama e leva noiz disse...

quero ser princesa tenho 8 anos moro,salvador,bahia bate coração e numero 2

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