Beta era uma menina comum e diferente ao mesmo tempo. Comum porque gostava de tudo o que as outras meninas gostam, desde pular elástico até pintar as unhas. E diferente, porque tinha uma visão muito única das coisas. Tudo o que Beta via, via com poesia. Via em cores, em jogos de luzes. Criava, mentalmente, imagens de tudo o que via. E como eram lindas estas imagens! Assim, quando a escola de Beta anunciou que, a partir daquela data eles teriam aulas de artes, todos pensaram que a menina ficaria encantada c
om a ideia. Ficou encantada com a ideia, mas na prática, a coisa não funcionou.A aula de artes da escola de Beta tinha o nome errado. Devia se chamar aula de artesanato. A professora de artes achava que seus alunos não queriam aprender sobre pintores, escultores, fotógrafos. Sobre artistas, enfim. Ela achava que a arte deveria ser vivenciada na prática. Claro que esta também era uma boa coisa e todo mundo topou. E foi assim que a aula de artes virou aula de artesanato, com a professora indicando cortes e colagens dos mais diversos tipos.
Beta adorava, como era esperado. Só que ela e a professora não conseguiam chegar a um consenso. Era assim: a professora ensinava a turma a fazer um origami legal, um tsuru. E pedia que todos fizessem uns quatro ou cinco tsurus dife
rentes, para fazer um enfeite de porta. Beta não fazia quatro ou cinco. Ela fazia um. O mais bonito da turma. Mas só um. E a professora cobrava os outros:
Beta, só um? Eu pedi pelo menos quatro para o enfeite!
Mas o meu não quer ficar preso na porta! Eu estava aqui olhando para ele e, deste ângulo, nesta luz, eu pude sentir isto.
Sentir o quê, Beta?
Que ele quer sair voando alto, até chegar a um campo de girassóis. Muito melhor que ficar preso na porta, professora!
A professora ria e concordava. Via uma alma de artista em sua frente e sabia que não poderia cortar as suas asas. Também a menina ainda tinha voos altos para dar. Mas não poderia, do mesmo modo, ser injusta com os demais alunos, que tinham feito a tarefa como ordenado. Por isso, Beta sempre ficava na média. Só na média, apesar de ser uma aluna nota dez.
Um dia, a professora chegou com um papel muito bonito. De u
m lado, não tinha nada demais, era branco, liso. Do outro, no entanto, tinha uns losangos coloridos que pareciam milhares de pequeninas pipas, umas ao lado das outras. A professora, então, disse aos alunos que era para que fizessem um cartão muito bonito, que seria um presente para eles mesmos no dia das crianças. E completou: 'trouxe vários pequenos ramalhetes de flores. Depois cada um pega um para colocar junto com o cartão'.
As crianças adoraram a ideia. Começaram a recortar corações, desenhar dentro dos cartões, faziam cada coisa linda! Só Beta não fazia nada. Ela olhava para a folha, virava o lado branco, virava o l
ado estampado. Suspirava. Virava o lado branco, virava o lado estampado. Suspirava. A professora percebeu.
O que houve, Beta? - indagou a professora.
Não quero fazer cartão – respondeu a menina.
Por que? Você acha que não merece? - espantou-se a professora.
Acho que um cartão é pouco e eu mereço mais! - concluiu a menina.
Está bem, Beta. Então faça o que o seu coração mandar. - riu a professora.
Os olhos da menina encheram-se de alegria! Ela poderia criar o que bem quisesse. E foi rápida, já que era muito criativa. Num piscar de olhos, cortou, dobrou, transformou o papel em um lindo catavento. Foi até a professora, pegou um ramalhete de flores e um copo; ajeitou as flores dentro do copo e tacou o catavento em cina.
Ao ver o resultado do trabalho de Beta, a professora surpreendeu-se com a originalidade e beleza da coisa. Era uma contradição: tão simples e tão elaborado, simplesmente perfeito. A professora não conteve a curiosidade e diss
e:
Eu amei o que você fez, Beta. Mas por que um catavento ao invés de um cartão?
Porque eu precisava mais do catavento – repondeu a menina.
Para quê? - a professora aplaudia a genialidade da aluna.
Porque o catavento diz para onde sopra o vento, e me ajuda a saber para onde devo voar...




3 comentários:
Olha eu aqui!!!!
Simplesmente ameiii!!! Não tenho nem mais o que dizer... amei!!!
Obrigada pela sensibilidade e pelos olhos bons com os quais me vê! :))
Bjks, a menina do catavento!
Linda história, amei.
Essa Beta é muito criativa!!!! Parabéns!!!!!😘
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