Apenas mais uma historinha de amor...
Era um pombinho. Comum, sem nenhum atrativo especial. Passava os dias em cima de uma linha de fio telefônico. Milhares de pombinhos, durante um ano, passaram ali por aquela linha. Mas aquele pombinho não ia e vinha. Ele ficava ali, todos os dias, o dia inteiro. Saía para comer algo e voltava depressa, como se fosse o vigilante da linha telefônica.
Esta linha telefônica ficava no meio de um emaranhado de fios, entres dois postes, numa rua qualquer. Era uma ruazinha tranquila, onde pouco passavam carros. A maior movimentação era a de pessoas passeando com seus cachorros, e de crianças andando de bicicleta. No meio da tarde sempre havia alguma algazarra: um cachorro normalmente se desprendia da coleira para perseguir uma das crianças que, rindo muito, acelerava provocando 'não me pega, não me pega, não me pega!' O pombinho assistia a tudo imóvel. Parecia uma estátua ali, assim, sem querer fazer parte de nada.
O pombinho poderia ter ficado ali para sempre, não fosse o dia do vento. Teve um dia que o tempo começou a mudar, anunciando o outono e as chuvas que viriam a seguir. Neste dia, o vento soprou tão, mas tão forte, que árvores caíram, telhas de casa voaram, muito estrago aconteceu. E a linha telefêonica arrebentou. Todas as crianças que passavam por ali ficaram aflitas, imaginando o que poderia ter acontecido ao pombinho. Esta preocupação não durou muito. No dia seguinte ao vendaval o pombinho já estava de volta. Como não tinha mais linha telefônica, arranjou um novo ponto de vigília. Instalou-se em cima da velha amendoeira.
Os dias se passavam sem que ninguém entendesse o que aquele pombinho solitário, com aquela carinha triste, fazia ali. Até que um dia todos pudemos ver.
Tinha sido um lindo dia de sol e no por do sol rosado no horizonte já se avistava a lua. Apenas duas estrelinhas no céu tinham começado a brilhar, e uma brisa suave tocava a todos com carinho. O pombinho estava no mesmo lugar de sempre, quietinho. E então, junto com a brisa, apareceu mais um pombinho. Que não era um. Era ela. Uma pombinha, que assim que chegou aconchegou-se no pombinho, que a enlaçou com delicadeza. Ficaram ali, neste abraço sem fim, durante mais tempo do que eu posso me lembrar.
Eu ainda era criança quando isto aconteceu, mas me lembro bem das palavras da minha mãe. Eu perguntei por que o pombinho tinha ficado tanto tempo ali, esperando pela pombinha, e não tinha saído voando atrás dela. Minha mãe apenas sorriu e disse: ' foi para que não se desencontrassem. O verdadeiro amor nos alcança, onde quer que estejamos.'
E assim foi que os dois pombinhos, apaixonados passaram o resto dos seus dias abraçadinhos. E eu aprendi esta valiosa lição: quando se trata de amor, é preciso ter paciência, tolerância, gentileza e cuidado. Nunca me esqueci destes ensinamentos. Talvez por isto tenha sido sempre tão bem amado...
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