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Para onde voam os aviões de papel?

Para onde voam os aviões de papel?



Sookie é um menino inteligente, muito estudioso, obediente e um tanto levadinho. Gosta muito de brincar com seus carrinhos, de jogar bola e de despentear os cabelos das bonecas de sua irmãzinha. E gosta muito, muito mesmo, de fazer aviões de papel.

A brincadeira começou por acaso, despretensiosa. Um dia, longe de casa para visitar seus avós, sua dindinha pegou uma folha de papel e disse: 'Sookie, vamos fazer um aviãozinho?' Ele a olhou com espanto, pois nunca imaginara que um avião seria feito de papel. Quando o pegou, ficou encantado – jogou o aviãozinho longe longe, e ele saiu voando pela sala. A dindinha continuou fazendo aviõezinhos e logo estavam fazendo uma batalha aérea no apartamento. Sookie ria que só!

As férias acabaram e ele voltou para casa, deixando avós, dindinha, tias e um sol quente demais para trás. Em sua casa logo viria o inverno, brincadeiras dentro de casa, muitos e muitos jogos. E, vez em quando, uma saudade do calorzinho da casa da vovó. Quando a saudade apertava, o esperto menininho corria para fazer um aviãozinho de papel. Jogava-o de um lado para o outro, saía correndo atrás dele, rindo feliz.

Um dia o frio veio forte. Forte demais da conta. Seriam dias e dias em casa, sem poder sair por causa da nevasca sem fim. Tinha muitos livros para ler, muitos jogos para brincar, muitas bonecas da irmã para despentear. E tinha, mais que tudo isso, uma vontade danada de voltar pro calorzinho.

Sookie ficou pensando e pensando. Para onde voam os aviões de papel? Seriam eles capazes de levá-lo até a casa da vovó? Poderiam eles levá-lo para tomar um banho de piscina na casa da dinda? Sookie não aguentava mais de tanto frio. Chegou à uma conclusão: para onde quer que o levassem os aviões de papel, valia a pena arriscar. Por pior que fosse, pelo menos fugia do frio um pouquinho.

De tanto ficar trancado dentro de casa, Sookie já tinha uma coleção de aviõezinhos de papel. Olhou, um por um, com cuidado e atenção. Qual deles seria forte o suficiente para aguentá-lo? Viu que ele era muito muito muito maior do que os aviões. Como poderia fazer para caber neles?

Lembrou-se do livro do Peter Pan. Correu até a estante para folheá-lo. Nada. Que raios de livro era este que não trazia junto um tantinho do pó de pirlimpimpim? Ficou frustrado. Estava andando em círculos pelo quarto, pensando em como poderia fazer para caber em um avião de papel quando sua irmã entrou no quarto.

  • Que foi, Sookie?

  • Tô pensando, Juju, não me atrapalha!

  • Pensando o que?

  • Pensando pensamento. Agora chispa daqui!

  • Me conta, Sookie. De repente eu posso ajudar.

  • Não, não pode.

  • Tenta, ué!

Sookie deu um suspiro. O que fizera para merecer uma irmãzinha caçula tão tão tão insistente, que não o deixava pensar sossegado? Acabou falando, para ver se ela se desinteressava e ia embora.

  • É o seguinte. Eu tenho que achar um jeito de fazer o meu avião de papel ficar bem grande, para eu caber dentro dele. Ou de eu ficar tão pequeno que caiba nele deste tamanho de agora. Entendeu? Você pode me ajudar?

  • Posso! - Juju gritou e saiu correndo, deixando Sookie com uma cara apatetada. 'Como assim, posso?', pensava ele, quando sua irmã entrou rápido como um raio no quarto, trazendo uma boneca debaixo do braço. Sookie foi logo reclamando:

  • É para eu caber, e não a boneca, Juu!

  • Eu sei, bobo! Veja só isto.

Juju mostrou que a boneca vinha com uma pequena bolsinha. Sookie não entendeu nada. O que era aquela bolsinha e como poderia ajudá-lo?

  • Olha – continuou Juju – esta é a minha boneca mágica, a Fadinha dos Desejos. Ela vem com uma mágica dentro dela – e enquanto falava, ia abrindo a bolsinha da boneca, onde se viam pequenas estrelinhas coloridas.

  • Que mágica, Juju, é só um brinquedo!

  • Não é, não! - respondeu Juju, zangada com a desconfiança do irmão. Veja, estas são as estrelinhas da vontade. Você tem que fechar os olhos e desejar uma coisa. Mas tem que desejar de verdade, tem que desejar muito forte. Daí você põe uma estrelinha na pontinha do nariz e puft! Seu desejo se realiza.

  • Ah, Juju. Você espera que eu acredite nisto?

  • Tô te falando! É verdade!

  • E você já realizou algum desejo?

  • Vários! Ontem mesmo eu desejei mais que tudo na vida que a mamãe me fizesse um sanduíche de pasta de amendoim. Foi só colocar uma estrelinha no nariz e pronto! A mamãe me chamou para o lanche e adivinha só? Ela tinha feito um sanduíche de pasta de amendoim para mim!

  • Mas se você tivesse pedido ela também teria feito, Juju! O meu desejo é muito mais difícil do que querer comer um sanduíche.

  • É, mas se você quiser mais que tudo na vida, o desejo acontece. Testa.

  • Será?

  • Você não tem nada a perder, mesmo.

  • É verdade. Me passa aí uma estrelinha!

  • É prá já!

Juju olhou na bolsinha e pegou uma estrelinha que brilhava bastante. Azul, porque achou que combinava com o seu irmão. Deu um beijo na estrelinha e entregou-a ao irmão dizendo 'boa sorte!'

Sookie fechou os olhos e imaginou como seria bom voar no aviãozinho de papel. Imaginou-se no apartamento da vovó, comendo bolo de chocolate. Imaginou-se na casa da dindinha, fazendo festa nas cachorras. O desejo de voar no aviãozinho de papel foi tomando todo o seu corpinho, até invadi-lo por completo. Em um instantinho, estava completamente tomado pelo desejo, era o que mais queria na vida! Colocou a estrelinha azul na ponta do nariz e disse: 'eu quero caber no avião de papel!' E aí...



Zimzumzimzumzimzumzimzumzimzumzim



Tal qual uma bola de ar vai murchando, Sookie foi encolhendo e encolhendo, até ficar um pouco menor que a boneca. Juju assistia a tudo maravilhada. Quando se viu assim, tão pequeno, Sookie deu um pulo de alegria no ar.

  • Consegui!

  • Eu falei! - disse sua irmã. - E agora?

  • Agora eu subo no aviãozinho de papel e você joga ele longe. Combinado?

  • Combinado! E se a mamãe perguntar cadê você?

  • Diz que eu tô dormindo! Bota uns travesseiros ali na minha cama.

  • Tá certo.

Sookie entrou dentro do seu aviãozinho de papel preferido e fez um sinal para a irmã. Juju, mais que depressa, pegou o avião, abriu uma fresta da janela e arremesou-o longe, dizendo ' boa viagem!'

Juju voltou para seu quarto, guardou sua boneca mágica e pegou outra para brincar. Será que seu irmão demoraria muito para voltar? Ela não gostava de ficar ali sozinha. Pensou que deveria ter ido com ele. Mas se fossem os dois, quem arremessaria o avião de papel? A mamãe não ia concordar com isto, claro que não. Nem o papai, não adiantava pedir! Então achou que era melhor assim, mesmo. Sookie estava viajando primeiro, veria para onde voam os aviõezinho de papel. Da próxima vez, ele soprava o avião para ela viajar.

Sookie estava viajando em seu aviãozinho de papel enquanto sua irmã pensava nisto tudo. Para onde será que voam, afinal, os aviões de papel? Os dois estavam curiosos para saber. Mas não agora, porque por enquanto Sookie está aproveitando a viagem, enquanto Juju aproveita para arrumar os cabelo de todas as bonecas que o irmão despenteou...

1 comentários:

Aretusa disse...

Adoro historinhas com um toque de magia e muita curiosidade!!
Sim, Sookie, conta depois pra gente como foi a viagem!!
Beijocas e bom final de semana.
Aretusa, mamãe da Doce Sophia

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