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Como pode o peixe vivo viver fora d'água fria?

Como pode o peixe vivo viver fora d'água fria?


Pepê é um peixe esperto e agitadinho que vive nas águas profundas do Oceano Atlântico. Como todos os outros peixes, precisa da água para viver. Só que Pepê, além de esperto e agitadinho, tem uma curiosidade danada. E a curiosidade de Pepê é esta: quer saber como é a vida fora d'água!

Já nasceu perguntando, querendo saber: 'como é a vida no seco?' No começo, seus pais e irmãos achavam graça, riam da curiosidade dele. Com o tempo, começaram a ficar preocupados. Por que raios aquele peixinho queria saber como era vida no seco? Faziam de tudo para distrai-lo, afastá-lo da ideia de sair do

mar. Mas não tinha jeito. Pepê tinha nascido assim, com esta pulga atrás da orelha – quer dizer, atrás da barbatana, porque peixes não tem orelha! - de saber como era a vida em terra.

A situação piorou quando Pepê conheceu Jota, a gaivota. Jota era uma gaivota viajada, conhecia um pouco de tudo – até no Oceano Índico Jota já tinha ido. Contava para Pepê das enormes baleias que conhecera, dos ferozes tubarões. Pepê bocejava. Estava cansado de saber como eram as criaturas marinhas. Queria saber como era o povo da terra.

Jota, ao contrário de Pepê, não livaga muito para o seco. Ficava sempre na costa, em cima de

umas pedras. Mas adorava a água, sempre que podia mergulhava, feliz, no fundo do mar. Só que Pepê tanto martelava querendo saber do seco que Jota foi, cada vez mais, começando a parar pelas praias. Quando voltava, estava cheio de novidades. Pepê aguardava o amigo como quem espera pelo Papai Noel: ansiosíssimo! Jota contava das crianças correndo na areia, da água de côco, do volley na areia. E, de tudo o que Jota experimentara, o que mais enchia o Pepê de vontade de ir ao seco era um tal de picolé! Jota explicara que era doce e gelado e tinha gosto de fruta. Pepê não conseguia imaginar algo melhor do que uma coisa doce, gelada e com gosto de fruta – mesmo sem saber direito o que fruta era...

Um dia, o inverno chegou, e Jota anunciou:

  • Pepê, vou passar uns tempos fora.

  • Por que?

  • O frio chegou e eu não topo frio! Vou procurar algum lugar mais quente. Quando o clima melhorar por aqui, eu volto!

  • Me leva com você, Jota!

  • Não dá! Se desse, eu levava. Mas não tenho como te carregar...

E assim Jota saiu atrás do sol. Pepê sentia a falta do amigo todos os dias. E, mais que tudo, sentia falta de ouvir histórias da terra.

Um dia, Pepê tomou uma decisão. Estava cansado de esperar Jota voltar contando notícias do seco. Iria, ele mesmo, ver como eram as coisas na terra. E assim, sem que ninguém soubesse, começou a nadar rumo à costa.

Como era um ótimo nadador, Pepê logo alcançou a praia, que estava bem vazia. Viu um casal que estava de mãos dadas olhando o mar, um senhor lendo o jornal, uma moça ao telefone. Nenhuma criança. Nenhum picolé. Ainda assim, quis ir até a areia. Aproveitou o ir e vir das ondas e pronto! Num piscar de olhos estava na areia.

Mas, chegando lá, percebeu que cometera um erro! Um peixe vivo não pode mesmo viver fora d'água fria! Começou a se debater na areia, quase sufocando. O rapaz, o do casal, percebeu sua agonia e correu até ele. 'Tá perdido, peixinho?', perguntou, enquanto atirava Pepê de volta ao mar.

Pepê estava tão feliz e tão triste! Estava feliz por estar de volta à água, que é o seu lugar. E triste por não ter podido ficar mais no seco, que parecia ser um lugar tão bacana.

Nosso herói passou dias e dias pensando no que fazer. Como

poderia voltar à terra em segurança? Foi então que lembrou de algo. Uma coisa genial! Já tinha visto muitas pessoas embaixo d'água. E as pessoas não podiam ficar debaixo d'água, porque precisam de ar. Como pode uma pessoa viva ficar fora da terra seca? Pepê sabia a resposta.

Pepê era um dos alunos mais aplicados da sua classe. E, por conta de sua curiosiade do seco, estudava muito a vida das pessoas. E sabia que, quando queriam mergulhar, levavam um tanto de ar junto com eles. Pepê já tinha visto mergulhadores e seus tanques. Sabia como funcionava.

E foi assim que Pepê teve outra ideia: faria um tanque de água para poder ir até o seco! Se funcionava para as pessoas virem para o mar, porque não funcionaria para os peixes irem para a terra? Começou então a fabricar um pequeno tanque d'água. Tudo pronto, Pepê tomou novamente o rumo da costa.

Como da outra vez, pegou uma carona com as ondas. Rapidinho estava na areia. Mas... como era difícil se movimentar ali! Não podia nadar, não tinha como andar. Estava preso na areia, sem poder se mexer. 'Ai, e agora?' pensou.

O tanque d'água de Pepê já estava pela metade quando um caranguejo saiu de dentro da areia e perguntou:

  • Tudo bem aí?

  • Mais ou menos... Não consigo me mexer aqui!

  • Ih, você atolou! Vou chamar meus camaradinhas para te ajudarem!

E então surgiu, do nada, uma legião de caranguejos, que se posiciona

ram embaixo do Pepê e o levaram de volta ao mar. Pepê agradeceu muito a ajuda dos novos amigos.

Depois de duas tentaivas fracassadas que quase lhe custaram a vida, Pepê conformou-se em ficar no mar. Percebeu, afinal, que um peixe vivo não

pode viver mesmo fora da água fria.

O inverno passou e Jota voltou. Encontrou o amigo cabisbaixo, tristinho. Pepê contou a Jota tudo o que acontecera em sua ausência. Jota riu da coragem do amigo e disse: 'não fique triste, Pepê! Eu fiz um amigo enquanto estive fora. Uma cara bacana que vai te ajudar a ver o seco, pode apostar!'

Pepê ficou cheio de esperanças. Conseguiria ele, afinal, saber como era a vida em terra?

No dia seguinte, Jota chegou junto com seu amigo. Ferdinando, o pelicano, era uma ave esquisita. Mas tinha um coração de ouro, e Pepê gostou dele de cara. Jota explicou seu plano e Pepê, que era bem corajoso, topou na hora!

E assim foi que Pepê conheceu o seco estando dentro d'água! Ferdinando enchia o papo d'água, Pepê pulava em sua boca. Ferdinando e Jota voavam até a areia e, quando chegavam, o Pelicano abria um tanto do bico. Pepê ficava ali, dento da bocona do Ferdinando, na água. Mas com os olhos bem vivos do lado de fora!

Pepê, Jota e Ferdinando agora viajam pelo mundo. Já conheceram diferentes praias, fazem amigos em todos os lugares. E Pepê descobriu que Jota falava a verade: de tudo o que viu e conehceu na terra, o melhor era mesmo o tal do picolé de fruta!



1 comentários:

Lucia Laureano disse...

Oi Dadá!
Hoje a história de Pêpe e Jota vai rolar lá em casa, pode ter certeza disso! Gui vai amar!
Estive no aniversário do Arthur e fiquei encantada pelo livrinho do menino dos carrinhos! Já contei pra todo mundo que o próximo será "O menino de chocolate e a menina de pitó", a familia toda está ansiosíssima!
beijos,

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