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O cochilo de São Pedro

O cochilo de São Pedro





A cada santo, uma função. Papai do Céu estabelece: você, cuida das causas perdidas; você, olhai os estudantes: você aí, os enfermos. E cada um aceita e cumpre bem o seu papel. Mas santo, às vezes, também dá uma dormidinha. E esta é a história do cochilo de São Pedro.

Entra ano, sai ano, e ele está lá, firme e forte, controlando as estações: aqui é verão, então do outro lado é inverno. Opa! A terra girou, chegaram a primavera e o outono: enquanto um lado floresce, no outros as árvores se despem...

São Pedro adora a sua função! Acha um barato isto de controlar o tempo! Claro que, vez por outra, se aborrece. Normal, todo mundo se aborrece! Outro dia mesmo, estava brincando de pique-esconde com São Longuinho e não conseguiu ganhar uma vezinha sequer. Também pudera, né, São Longuinho acha tudo! Daí São Pedro ficou tão bravo que, sem perceber, lançou um raiozinho prá Terra. O raiozinho não é nada demais. Mas como ele jogou do alto do Céu, virou um furacão... E assim é que volta e meia temos uns furacões por aí. Porque São Pedro adora brincar, mas é meio mau-perdedor, sabe? Fica logo irritadinho, vê se pode!

Junto com Santo Antônio e São João, aguarda ansioso o mês de junho. São feitas festas e mais festas para comemorar a vida dos três santinhos. E como são boas estas festinhas: aja milho e paçoca e pé de moleque e canjica!

Este ano, como em todos os outros, São Pedro estava ansioso para comemorar seu dia. Mas o de Santo Antônio vem primeiro, e ele quis participar da celebração. Foi, braços dados com Santa Catarina, à festinha junina do Céu.

Lá chegando, que farra boa! Dançou quadrilha, comeu pipoca, pulou nuvem – não tem fogueira no Céu, por uma questão de segurança. Se cai uma labaredazinha sequer é chuva de fogo aqui na Terra! E tomou quentão. Só que São Martinho tinha colocado um pouco de pinga no quentão, como manda a receita. Mas quando fez isto, estava sem seus óculos de leitura – onde estava escrito um copo, ele colocou uma garrafa interinha, vejam só! Daí...

Os Santos não estão muito acostumados a beber quentão, preferem um suquinho de tangerina. Mas, como era festa junina, tomaram um golinho. Logo, logo, todos começaram a ficar com sono, muito sono. E, num piscar de olhos a festa acabou, porque cada santinho foi para sua nuvem dormir um pouquinho.

Não teria problema algum, claro. Só que São Pedro, justo ele, não pode dormir! Ele tem que ficar acordado o tempo todo, de olho na temperatura. Foi só ele cochilar que pimba! O termostato quebrou. E aí aconteceu uma catástrofe!

Onde era para fazer um friozinho, fez frio, muito frio, frio demais! Com o termostato quebrado, as temperaturas foram caindo e caindo sem parar. Os dias tornaram-se monotonamente cinzas, erroneamente gélidos. O pessoal começou a ficar danado da vida. Todo mundo gritando 'manda o sol, São Pedro!' Mas ele, nada! Estava mesmo no maior ronco.

Estava a ponto de nevar no Rio de Janeiro quando um pessoal resolveu que não, assim não dá! Alugaram um aviãozinho e foram até o Céu. Chegando lá. Qual não foi a surpresa de verem todos os santos dormindo calmamente. Foram de nuvem em nuvem, até acharem São Pedro. Quando o acharam, que alegria! Foram logo o acordando. Ele, coitado, levou um susto!

  • Que houve? O que está acontecendo?

  • Acorda São Pedro! Tá frio demais no Brasil!

  • Ué, está inverno no Brasil. Tem que estar frio mesmo.

  • Não deste jeito! Não tem sol, está todo mundo congelando. O povo lá não está preparado para este frio, São Pedro.

  • Estranho, deixe-me verificar.

E aí São Pedro checou e viu que o termostato tinha quebrado. Consertou-o num zás-trás. Mas como tinha muito frio acumulado, não tinha como fazer o tempo melhorar de uma hora para outra. Avisou:

  • Olha, ainda demora um tempinho até esquentar! Mas como se trata do Brasil, fiz como todo brasileiro. Dei um jeitinho. Continua frio, mas mandei um solzinho para animar o dia!

E assim foi que o inverno foi o mais frio de todos os tempos. Uns dias com um solzinho tímido, outros, nem isso. E, nas festas juninas do Céu, ficou decretado. A partir do ano que vem, a responsável pelo quentão é Santa Luiza!

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