O Equilibrista (Fernanda Lopes de Almeida)
Era uma vez um equilibrista.
Vivia em cima de um fio, sobre um abismo.
Tinha nascido numa casa construída sobre o fio.
E já tinha nascido avisado de que a casa podia desmoronar a qualquer momento.
Mas logo percebeu que não havia nenhum outro lugar para ele morar.
O equilibrista ainda era bem jovem quando descobriu que ele mesmo é que tinha de ir inventando o que acontecia com o fio.
“_ Meu Deus! Que responsabilidade!”
Vivia em cima de um fio, sobre um abismo.
Tinha nascido numa casa construída sobre o fio.
E já tinha nascido avisado de que a casa podia desmoronar a qualquer momento.
Mas logo percebeu que não havia nenhum outro lugar para ele morar.
O equilibrista ainda era bem jovem quando descobriu que ele mesmo é que tinha de ir inventando o que acontecia com o fio.
“_ Meu Deus! Que responsabilidade!”
Se queria ter uma festa, tinha que fabricar a festa com o fio.
“_ Não há nenhuma festa pronta para as pessoas ali na esquina.
_ Não? Então vou fazer uma.
CONVITE PARA MINHA FESTA:
_ Eu que fiz.”
Se queria ir a Europa, tinha que construir a viagem para a Europa.
“_ Tem aí uma viagem para Europa já viajada?
_ Engraçadinho! Não quer mais nada não?”
Ele então transformava o fio em viagem.E a verdade é que não se arrependia:
“_ É incrível quanta coisa se pode fazer com este fio!”
Para ter amigos, o equilibrista tinha que procurar outros equilibristas.
As pessoas desequilibristas não queriam ser amigos dele:
“_ Que idéia essa, de viver assim! É louco!”
O equilibrista tentava se defender:
“_ A idéia não foi minha, já nasci assim!”
Mas as pessoas não queriam ouvir:
“_ Imagine se vou acreditar numa mentira dessas!”
Elas juravam que ninguém nasce assim.
O equilibrista então, ia se encontrar com outros equilibristas.
“_ Como vai?
_ Vou me equilibrando dentro do possível.”
O equilibrista ficava um pouco assustado com a conversa dos desequilibristas:
“_ Como vai?
_ Muito mal. Meu carro enguiçou.
_ Como vai?
_ Muito bem. Minha caderneta rendeu juros.
_ Mas então quem vai mal e quem vai bem não são vocês. São o carro e a caderneta.
_ Há! Há! Há! Olha o bobo!
_ Qual a diferença?”
Os equilibristas também podiam ir muito mal ou muito bem.
Mas a conversa deles dava para entender:
“_ Como vai?
_ Vou mal. Estou com um elefante na cabeça.
_ Como vai?
_ Vou bem. Hoje, pela primeira vez, eu verdadeiramente vi um beija-flor.”
É verdade que, às vezes, o equilibrista ficava morrendo de inveja de quem tinha um chão. Mesmo que fosse feinho.
Na mesma hora se desequilibrava e caía. Enquanto caía gritava.
O equilibrista fazia um esforço danado para saber onde era embaixo.
Afinal desistia:
“_ O jeito é ir desenrolando o meu fio!”
E desenrolava o melhor que podia.
“_ Pensando bem, gosto de ser equilibrista. Pensando bem, como é dura a vida de equilibrista! Pensando melhor, é ruim e bom. Tudo misturado.”
De vez em quando o equilibrista dava uma paradinha e olhava para trás:
“_ Puxa! Meu chão fui eu mesmo quem fiz!”
Tinha que ser uma paradinha rápida.
“_ Meu avô sempre dizia que quem pára demais para pensar acaba sem saber andar.”
Assim foi chegando ao fim do fio.
Antes de despedir-se, disse:
“_ Respeitáveis outras pessoas! Esta vida de equilibrista é perigosa, mas muito interessante. Por mim, fiz o que podia e achei que valeu a pena. Adeus!”
Umas pessoas concordaram. Outras, não.
“_ Eu também acho muito interessante! Viva o equilibrista!
_ Eu não acho graça nenhuma!
_ Eu acho que vale a pena! Vale muito a pena!
_ Não vale a pena nada! Eu acho uma boa droga!”
O equilibrista deu um risinho:
“_ Justamente o interessante é que cada um acha o que quer!”
E saiu.
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