Ideias Cacheadas - Mirna Brasil Portella
Embaixo de cada caracol do cabelo castanho cacheado daquele menino brotava uma ideia. E como cada cachinho nunca é igual ao outro, também cada ideia era uma ideia única. E acada primavera, verão, outono e inverno o menino era outro também. Com outros cachos e outras ideias que iam crescendo sem parar. Algumas ideias cresciam tanto que pareciam derramar dos cachos da cabeça, e foi bem assim que um dia uma ideia fugiu. Quando ele viu, ela já tinha corrido pra longe. O menino ficou encafifado, queria achar a ideia de qualquer jeito. Procurou por todos os cantos da casa, embaixo da cama, dentro da geladeira, atrás do sofá, dentro do armário e nada. A ideia não estava em lugar nenhum. Um dia, ele resolveu arrumar sua caixa de guardar achados do chão – que foi coisa que ele tinha aprendido com um poeta, o Vinícius de Moraes, conhece? E não é que a danada da ideia estava lá, guardadinha da silva, escondidinha, dormindo? O menino ficou com pena dela, tão esquecidinha, coitada. Resolveu então que não ia mais prender ideia na cabeça. E, aos poucos, ele percebeu que as ideias saíam mesmo era pela boca, pelas mãos, através, de uma cantoria, de um rabisco, de um desenho, de um conto, de uma escrita maluca que, às vezes, parecia não ter fim, nem meio, nem começo. Naquele dia o menino entendeu que era preciso deixar as ideias saírem da cachola. Ideia presa não serve mesmo pra nada. Ideia gosta de passear! E você, tem alguma boa ideia pra contar?
Publicado em março de 2011 na Revista Crescer
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