Meu querido
elefante
Se conheceram por
acaso, sem que ninguém pudesse adivinhar o quanto se amariam. Ele,
com apenas dois anos de existência, não sabia dizer quando o vira
pela primeira vez. Ele estava ali, ao seu alcance, desde sempre:
estava em seus livros, em um brinquedo de pelúcia, em um jogo de
memória e até mesmo em uma de suas camisetas. Mas ele o amou mesmo,
de verdade, quando o viu através da tela da televisão da sala.
Estava em todo seu esplendor, rolando na lama, jogando água para o
alto, correndo. Ele, o elefante. E o menino encantou-se com aquele
novo amigo.
O elefante,
claro, o amou de volta. Porque elefantes são bichos grandes, com
corações imensos que amam enorme. O menino sentia este amor. Logo,
tornaram-se melhores amigos. Dia e noite o menino repetia que queria
ver o elefante. O pai ligava a televisão e lá estava ele, fazendo
graça, rindo feliz. A cada dia os dois se enamoravam mais um do
outro. O elefantinho de pelúcia, até então apenas mais um
brinquedo, passou a ser o companheiro da hora de dormir. Os livros
iam com ele para a escola, onde ele mostrava a todos os amigos seu
maior amigo. Todos gostavam dele, todos o queriam por perto.
Um dia, o menino
resolveu que era muito chato ele ficar sentado na sala, com o
elefante dentro da televisão. Era muito melhor se o elefante
estivesse ali, ao seu lado, brincando de carrinho com ele. Pediu para
a mãe, para o pai, para a avó, para o padrinho. Pediu para quem
estivesse por perto. Queria muito, muito, muito um elefante de
estimação. Um elefante só para ele, para lhe fazer companhia o
tempo todo. Nada. Todos disseram a mesma coisa: 'elefante não é
animal de estimação!'
Ficou triste,
triste. Queria tanto um elefantinho para chamar de seu... Passou dias
amuado, pensando nisso. O pai notou. No sábado, deu-lhe banho,
colocou uma roupa de sair e anunciou:'tenho uma surpresa!' Saíram de
carro. Quando pararam, o menino não sabia onde estava. Mas gostou do
que viu.
Aquele era um
sábado de sol, um dia perfeito para ir ao zoológico. O menino já
tinha estado ali com os pais, mas era tão pequeno que não se
lembrava mais. O pai o pegou pela mão e, pelo caminho inverso,
entrou no zoológico buscando o elefante. No caminho, pararam para
ver os macacos, o leão e a girafa. O menino gostou de todos. E
então, no canto, ele estava parado. Enorme, enorme, enorme. Muito
maior que nos livros e na televisão. Quieto, melancólico. O
elefante.
O pai tinha
certeza que o menino daria pulos de alegria. Mas, ao contrário do
que se pensava, o menino olhava para aquele animal imenso com um
misto de curiosidade, respeito e medo. Não esboçou um sorriso, não
faz uma gracinha. Olhava-o fixamente, como se quisesse gravar cada
detalhe do bicho. Ficou parado, diante dele, durante um bom tempo.
Até que o animal levantou de seu cansaço e aproximou-se deles. O
menino pediu colo e quis ir embora. Dormiu no caminho de volta para
casa.
Quando chegaram,
o menino não pediu para ver o elefantinho na tevê. Foi para o
quarto, pensativo. Brincou de carrinhos durante horas. Então, saiu
do quarto e pediu à mãe lápis e papel. Rabiscou, rabiscou,
rabiscou. Ao final, disse alto: 'elefante!' e deu significado àquelas
linhas disformes. O pai e a mãe aplaudiram: 'muito bem!' Ele sorriu.
Dobrou o papel em quatro partes, colocou no pequeno bolsinho que
ficava na camiseta, com todo cuidado. A mãe estranhou:
- Filho, você vai guardar seu desenho na blusa? Vai acabar perdendo! Vamos colocá-lo na geladeira, para todo mundo ver.
O menino olhou-a
com espanto.
- Não é um desenho, mamãe. É um elefantinho. O meu elefante! Ele veio comigo escondido e agora mora aqui no papel, dentro da minha blusa.
A mãe sorriu,
feliz, da doçura do filho. 'Como é bom ser criança e ter tanta
imaginação.'
O filho sorriu,
triste, do ceticismo da mãe. 'Como é ruim ser adulto e esquecer que
podemos guardar quem nós quisermos dentro do coração'.
4 comentários:
Oi, Dadá! Estava com saudade das sua histórias e a sua imaginação. Muito bom abrir o blog e ver uma historinha nova. Adoro sua forma de escrever, sua linguagem: "Porque elefantes são bichos grandes, com corações imensos que amam enorme." Bjo! Ana.
Que linda história!
Amei!
Muito linda!... 'podemos guardar quem nós quisermos dentro do coração'.
Ao passar pela net encontrei o seu blog , que me chamou à atenção li a primeira postagem e folhe-ei mais algumas, é um blog feito com muito entusiasmo, e dedicação, gostei do conteúdo e quero deixar os meus parabéns, quando encontro um blog bom deixo sempre um comentário e um convite.Ficarei grato se me der a honra da sua visita no meu blog O Peregrino E Servo. Se desejar seguir eu sempre vou retribuir seguindo seu blog também.
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