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Teo, o terrível!

Teo, o terrível!



Teodoro era o primeiro filho. O primeiro e único filho de uma mãe que achava que não poderia ter filhos. Sua vinda foi uma verdadeira surpresa. Seu nascimento, apoteótico. Aguardadíssimo, queridíssimo, amadíssimo. Tudo íssimo.

Teodoro, que logo virou Teo, foi um bebê bem fofo. Ria bastante, e fez tudo cedo: engatinhou cedo, andou cedo, falou cedo. Sua mãe considerava-o um gênio. Talvez por causa disso, começou, aos poucos, a permitir que Teo fizesse tudo o que lhe viesse à cabeça.

O problema é que nem tudo o que vem à cabeça de um menino pequeno é coisa que o valha. Teo, lentamente, começou a se tornar bagunceiro. Daí para se tornar uma peste completa foi um pulo.

Teo, aos quatro anos de idade, fazia a mãe de gato e sapato. Como não tinha irmãos, a vida da família girava em torno de suas vontades. E suas vontades eram muitas. Uma hora queria ir ao zoológico, no minuto seguinte andar de patinete, no outro queria ir à praia. O menino tinha tanta, mas tanta energia, que todos que o observavam pensavam 'quando será que acaba a bateria deste menino?' Mas a bateria dele não acabava nunca.

Por ter todas as suas vontades atendidas, Teo, obviamente, sentia-se o rei do pedaço. E achava que suas ações não tinham consequência. Ou melhor: achava que todos deveria acatar suas decisões, quaisquer que fossem as consequências. Claro que isto não poderia dar certo.

Ao lado da casa de Teo, havia um casal com um filho pequeno, Gabriel. Gabriel era um doce de menino, carinhoso e obediente – o contrário do seu vizinho. Gabriel era um ano mais novo que Teo e, como era suposto, adorava brincar com ele. Só que Teo, por alguma razão desconhecida, batia no Gabriel.

De início, não era nada demais. Disputaram um brinquedo, Teo deu um empurrão no Gabriel. Outra vez estavam no escorrega da pracinha e Teo puxou o Gabriel pelas pernas. E assim ia. Normalmente, a mãe de Gabriel o levava para casa e tudo ficava por isso mesmo. Até que, um dia, Gabriel voltou da casa de Teo com uma mordida no braço, e sua mãe não poderia ignorar este fato.

Lily, a mãe de Gabriel, era uma flor de pessoa, delicada em tudo. E foi muito, muito suave ao conversar com Luciana, a mãe do Teo. Explicou-lhe o que estava acontecendo, que achava que o Teo estava sem limites, que era preciso que seus pais conversassem com ele. O que Lily falou era bastante razoável, já que nenhum pai quer que seu filho se torne o valentão do pedaço. Para sua surpresa, no entanto, Luciana parecia alheia a tudo o que estava se passando.

  • Mas você tem certeza, Lily? O Teo e o Gabriel sempre brincam juntos...

  • Exatamente, Luciana, e é por isso que eu vim conversar com você. Porque eu espero que eles continuem brincando juntos.

  • Mas por que você não falou com o Teo? Podia ter-lhe dado uma bronca!

  • Porque eu não sou a mãe dele, é você que tem que fazer isso, Luciana.

  • Eu vou conversar com ele.

Não se sabe se Luciana conversou ou não com Teo. Fato é que, na vez seguinte em que brincaram, Teo novamente machucou Gabriel. Lily, sempre muito tranquila, começou a ficar preocupada. Conversou novamente com Luciana. E assim foi a primeira, a segunda, a terceira vez. Aquilo estava se tornando rotina: Teo batia em Gabriel, Lily conversava com Luciana, que dizia que iria tomar uma providência. Mas nada mudava. Aliás, mudava: para pior. Teo foi ficando cada vez mais agressivo com Gabriel.

Lily resolveu, então, ter uma conversa definitiva com Luciana. A mãe de Teo, desta vez, não disse que iria tomar uma providência. Disse apenas ' Lily, por favor. Você vem com este papo há tempos. Mas os dois são crianças, deixa que eles se entendem. É normal criança bater! Ou você vai me dizer que o Gabriel nunca bateu em um amiguinho da escola? É assim mesmo!'

Lily não acreditava no que estava ouvindo! Então a mãe de Teo defendia as agressões do filho? Respirou fundo e, calmamente, respondeu: 'Luciana, é normal que as crianças disputem coisas, sim. É normal que às vezes se estranhem um pouco. Realmente acontece isto na escola. E as professoram intervém: dizem que não pode haver briga entre amigos. Além disto, na turma do Gabriel todos tem a idade dele. Só que o Teo é mais velho, maior que ele. É uma disputa desleal. Tudo o que peço é que você converse com ele e explique isso.' Luciana riu e disse que 'é fase, já, já passa, você vai ver! Deixa que eles se entendem.'

Para não brigar com Luciana, Lily não retrucou. Intimanente, já tinha solucionado o problema: não deixaria mais Gabriel brincar com Teo e ponto final.

E assim foi. Luciana convidou Gabriel para ir brincar com Teo em sua casa algumas vezes. Em todas, Lily dava uma desculpa para não reunir os dois. Quando se encontravam na pracinha, Lily ficava colada aos dois e, logo que dava, pegava o filho e ia embora. Teo, com o tempo, começou a sentir a falta do amigo, e pediu que sua mãe convidasse o Gabriel para que pudessem brincar juntos.

Nesta mesma época, a prima de Lily, Margarida, veio ficar hospedada em sua casa junto com o filho, Gael. Gael tinha cinco anos e adorava o priminho: ele e Gabriel passavam as tardes juntos, brincando.

Um dia, Luciana ligou para Lily dizendo que Teo estava com muitas saudades do Gabriel, e convidou-o para passar a tarde em sua casa. Lily explicou que o seu sobrinho estava passando uns tempos lá, e marcou que todos se encontrassem na pracinha, ao invés. Teo ficou contente quando sua mãe avisou que ele e Gabriel passariam a tarde brincando juntos na pracinha.

Às três da tarde em ponto, lá estavam os três meninos e suas mães. Teo tinha levado uma bola, Gabriel e Gael levaram carrinhos. Brincaram de bola, primeiro. Brincaram de pique. Pareciam estar se divertindo bastante. Mas, na hora em que foram brincar com os carrinhos, Teo cismou que queria todos os carrinhos para si. Quando Gabriel pegou o seu carrinho favorito, Teo tomou da mão dele e empurrou-o com força, que caiu com o rostinho no chão.

O que aconteceu, então, foi numa fração de segundos. Mal deu tempo das mães chegarem até os meninos. Assim que Teo empurrou o Gabriel no chão, Gael voou para cima do menino! Deu-lhe um empurrão com toda sua força. Teo caiu estatelado no chão, com Gael em cima dele dizendo: 'devolve o carrinho do meu primo!'

Quando as mães os alcançaram, Gabriel, já refeito do susto, assistia a cena impávido, enquanto Teo, choroso, devolvia-lhe o seu carrinho azul.

Maragarida estava pálida! Puxou o filho pelo braço e, morta de vergonha, disse: 'Gael, peça desculpas pro Teo agora! Assim que você se desculpar, vou te levar para casa. Você está de castigo!'

Gael não teve tempo nem de dar um suspiro. Lily interveio na mesma hora.

' De jeito nenhum! A Luciana outro dia mesmo estava me dizendo que é normal criança bater. O Teo vive batendo no Gabriel. Desta vez, por acaso, o Gael estava junto para defender o primo. Mas se a Luciana acha normal o filho bater, também tem que aceitar que o filho apanhe, não é, Luciana?'

Luciana espumava de raiva! Queria argumentar que Gael era maior que Teo, mas sabia que seu argumento não era válido – não era Teo mais velho que Gabriel também? Engoliu em seco e, respondeu 'sim, é verdade. Eles são crianças, Margarida, deixa que se entendam.'

Margarida respondeu, então: 'pode ser a sua opinião, Luciana, mas não é a minha.' Olhou para o filho e disse: 'por ter defendido o seu primo, não vou te colocar de castigo. Mas você tem que se desculpar com o Teo e prometer que não fará mais isso'.

O menino foi de uma espontaneidade pueril: 'desculpa, Teo. Prometo não te machucar de novo. Se você não bater mais no meu primo'. Lily sorriu para o sobrinho.

O resto da tarde brincaram sem problemas. Dividiram carrinhos, a bola e até um pacote de biscoitos, sem brigas. No dia seguinte, Luciana desculpou-se com Lily por não ter tomado as providências que deveria. Lily, com a mesma suavidade de sempre, respondeu: ' amar também é dar limites, Luciana. Ser mãe é fácil, difícil é educar.'

Daquele dia em diante, nunca mais houve brigas entre Teo, Gabriel e Gael. Luciana estava sempre atenta às atitudes do filho que, num piscar de olhos, tornou-se obediente e carinhoso. Lily estava certa, afinal. Amar também é impor limites...

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