Ela nasceu no meio de caldeirões borbulhantes. Seu pai era um famoso feiticeiro, respeitado em todo lado. Sua mãe, uma bruxa consagrada, capaz de curar qualquer mal. E ela, como não poderia deixar de ser, era uma bruxinha.
Chamava-se Paçoca, a bruxinha. Não que este fosse o nome certo para uma bruxinha, mas era este que ela tinha escolhido. Seus pais tinham lhe nomeado Santiaga, mas ela comia tanta e tanta paçoca, desde pequena, que acabou resolvendo mudar de nome. E assim foi que se tornou Paçoca aos três anos de idade e nunca mais voltou a ser Santiaga.
Paçoca era, em verdade, uma menina comum. Ia a escola, como todas as outras crianças, e era uma aluna aplicada. Tinha um montão de amigos! Todos gostavam de ir até a sua casa, ver os truques que seu pai fazia e tomar o refresco de jabuticaba de sua mãe. Quando era época de provas, seus amigos insistiam sempre com ela:
Paçoca, faz uma poção prá gente ficar inteligente!
Não existe poção assim! - respondia a alegre bruxinha.
Não dá, minha mãe deixa a bola bem turva para que eu não consiga ver nada. Mas podemos estudar juntos lá em casa, se vocês quiserem. - convidava Paçoca.
E lá ia a turma toda para a casa da Paçoca estudar, comer torta de abóbora e tomar refresco.
Paçoca gostava de todos da sua turma. Até que, na metade do ano, sua vida mudou. Quer dizer, primeiro quem mudou foi ele. Depois é que ele mudou a vida dela.
Ele era o Cris e acabara de se mudar de outra cidade. Era muito tímido, falava baixinho, quase não olhava as pessoas de frente. Parecia estar sempre se desculpando por algo, parecia estar sempre envegonhado. Talvez por isso a falante bruxinha tenha se sentido atraída por ele. Logo que o viu pela primeira vez, soube estar apaixonada.
Paçoca fazia de tudo para chamar a atenção do Cris. Convidadva-o para tomar refresco em sua casa, para ver os truques mágicos de seu pai, para enfeitar abóboras com ela. Até para dar uma volta em sua vassoura voadora ela o chamou! Mas a resposta era sempre a mesma. Olhando para baixo, fazendo riscos no chão com os pés, respondia baixinho:' não posso, tenho que ir para casa.'
A bruxinha insistia e insistia, mas Cris só lhe dava respostas negativas. Ela estava convencida que ele não gostava dela, então teve uma ideia. Resolveu criar uma poção do amor.
Paçoca achou que não deveria ser muito difícil criar uma poção assim. Imaginou que era só reunir um montão de coisas boas e pronto! A poção funcionaria. E então, numa tarde em que seus pais não estavam em casa, começou a fazer sua poção.
Claro que a bruxinha já tinha visto sua mãe fazer milhares de poções antes, então resolveu seguir os mesmos passos. Começou pegando um caldeirão pequeno, ligando o fogo, e colocando um tanto de água. Foi até o armários de ingredientes mágicos, e começou a pesnar no que poderia fazer uma poção bem boa.
Sementes de girassol... sim, gosto. Entra na poção. Asinhas de morcego... Blergh! Isto é para a poção espanta-rato, não serve para a poção de amor!
Paçoca ia escolhendo os ingredientes e imaginando sua poção. No final, tacou tudo o que escolhera dentro do caldeirão e recitou:
Poção de amor, do amor sem fim, faça já o Cris, gostar de mim!
Quando ela terminou de recitar... nada! Ela esperava que a poção explodisse um pouquinho, ou soltasse uma fumaça colorida, mas nada aconteceu. Estava se perguntando o que fizera errrado quando sua maẽ chegou.
Paçoca, o que é isto? Você está mexendo no fogo sem eu ou o seu pai estarmos do lado? Você sabe as regras da casa, mocinha, e está encrencada!
Mamãe, eu estou fazendo uma poção muito muito muito muito importante! Não podia esperar vocês.
E que poção é esta, posso saber? - a mãe ficou curiosa.
Uma poção de amor para o Cris gostar de mim. Mas não está dando certo, vou ter que começar tudo de novo...
Oh, minha filha, não adianta – falou a mãe. O amor não tem fórmula mágica.
Mas eu não quero fórmula mágica, mamãe, eu preciso é de uma poção do amor! - respondeu Paçoca.
Isto não existe, minha querida. Não existe poção do amor e não existe fórmula mágica. O que existe é sinceridade e franqueza. Você já disse ao Cris como se sente?
Eu já o convidei para várias coisas, eu acho que ele não gosta de mim!
Se você não perguntar, não vai saber. Pergunte, com todas as letras, se ele gosta de você. Não tenha medo. E, se ele não gostar... paciência! Daqui a pouco aparece outro que goste!
Está certo, mamãe, obrigada! - Paçoca agradeceu o conselho da mãe e saiu saltitando feliz.
No dia seguinte, na escola, Paçoca não conseguiu esperar a hora do recreio. Assim que viu o Cris, antes de entrarem na sala de aula, puxou-o pelo braço e disse:
Cris, eu preciso te perguntar uma coisa. Eu gosto de você. E você, gosta de mim?
Cris ficou vermelho igual a um pimentão. Olhou Paçoca nos olhos e disse, tremulando:
Eu gosto, mas tenho medo de altura e não quero voar de vassoura. E também tenho alergia a jabuticaba, não posso tomar refresco...
Paçoca riu. Foi até ele e deu-lhe um beijinho na bochecha. Ele riu de volta e pegou a sua mão. Entraram assim na sala de aula.
Cris e Paçoca começaram a namorar e continuam seu namorinho até hoje, muitos anos depois. Não voam de vassoura e nem tomam refresco, mas vão ao cinema e andam de mãos dadas no parque. Paçoca aprendeu uma valiosa lição. No amor, a única fórmula que existe é a honestidade. Nunca mais tentou entender o que Cris pensava – se estava na úvida, perguntava. E é por isso que eles continuam sendo um casal tão mágico, mesmo depois de tantos anos.
1 comentários:
Ah, tive uma fase em que eu queria muito uma poção de amor, ou simpatia, ou feitiço, ou qualquer coisa do tipo, mas ainda bem que foi só uma fase! Mas confesso que quando conheci meu grande amor, o Universo conspirou ao nosso favor!!
Bjks!
Aretusa, mamãe da Doce Sophia, fruto de muito amor!
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