Aquele era um enorme, um lindo, colorido jardim. Mas, como todo jardim, nem sempre tinha sido assim. Primeiro ele tinha sido terra, só terra. Depois vieram a grama, as sementes. E ela foi a primeira. Durante muito tempo foi não apenas a primeira, mas a única. Uma rosa no meio do jardim vazio.
Ela floresceu muito antes das outras flores. Não havia explicação, além do fato que era um tantinho exibida. Creceu exatamente no meio do jardim, e ali cismou de ficar. Era uma rosa que não era cor- de- rosa. Era uma rosa vermelha, muito vermelha, como estas que os apaixonados se dão em ocasiões especiais. Brilhava à luz do sol, com suas enormes pétalas balançando no ar, como se acenasse para alguém. E acenava. Para ela, a dona do jardim.
Chamava-se Ella, a rosa vermelha. Quem deu este nome foi a dona do jardim. Na época em que só havia Ella ali. A dona do jardim ficava horas diante de sua rosa solitária, conversando. A rosa agradecia ao carinho dançando: jogava suas folhas ao vento, fazendo movimentos delicados que lembravam os passos de uma pequena bailarina. E a dona do jardim encantava-se com sua florzinha que dançava.
Um dia, floresceu outra rosa. E outra flor, e outra e outra. Ella não cabia em si de tanta felicidade! De uma hora para outra, estava rodeada de amigas. Todas admiravam o jeito suave com que balançava suas folhas pelo ar. Ella exibia-se com orgulho para as outras rosas.
A dona do jardim, agora, não tinha mais apenas Ella para cuidar. Tinha um jardim inteiro que dependia dela. Passou a dividir seu tempo. E quanto mais nasciam novas flores, menos tempo tinha para cada uma. As flores não reclamavam, tinham umas às outras. Além disto, não estavam acostumadas a ficar conversando horas a fio com a dona do jardim. Estavam satisfeitas, então. Todas, menos Ella. Ella sentia falta da dona do jardim.
As outras flores faziam companhia a Ella. Pediam-lhe que lhes mostrasse sua dança. Ella, de início, adorava dançar para as outras flores. Adorava conversar com elas. Mas, com o passar dos dias, começou a sentir muita falta da dona do jardim.
A dona do jardim continuava muito aterefada. Preocupava-se, agora, com as pequenas mudas que tinham sido recentemente plantadas. Parecia ter se esquecido de Ella, que fazia tudo para tentar chamar sua atenção.
As outras flores começaram a ver Ella murchando, pouco a pouco. A dança, outrora tão alegre, ia se tornando triste, até quase desaparecer. As flores inistiam para que Ella dançasse, faziam tudo para animá-la. Mas Ella ia, pouco a pouco, perdendo o brilho. Foi ficando murchinha, murchinha. Sentia muitas saudades da dona do jardim.
Ella foi ficando cada vez mais triste, e as outras flores cada vez mais preocupadas. Acharam que deveriam fazer alguma coisa. Decidiram, juntas, que deveriam chamar a atenção da dona do jardim.
Na primeira oportunidade que tiveram, colocaram seu plano em ação. Uma por uma, começaram a despetalar lentamente. A dona do jardim levou um susto ao chegar em seu belo jardim, uma manhã, e deparar-se com um caminho de pétalas. Sem saber o que significava aquilo, entrou devagar pelo jardim e começou a caminhar. Caminhava seguindo as pétalas coloridas no chão. Caminhou até o final do caminho, que terminava em Ella. A dona do jardim olhou sua rosa tão querida, a primeira de todas, e percebeu sua tristeza. Deu-se conta do tanto de tempo que não parava ali, para vê-la. Foi até ela e, suavemente, deu-lhe um beixo. Cochichou junto a Ella:
Eu nunca deixei de te amar! A saudade que você tem das horas que passamos juntas é a mesma que eu tenho. Divido agora o tempo entre as outras flores, por isso mal venho aqui. Mas não preciso vir até aqui para ter você comigo, Ella. Você está guardadinha comigo, num lugarzinho especial dentro do meu coração...
Isto era tudo que Ella precisava ouvir. Percebeu, então, que a dona do jardim a amava intensamente, mesmo tendo menos tempo para passar com ela. Mas isto não importava. Saber que era tão amada já era o suficiente.
Ella voltou a brilhar. Dançava todos os dias para as outras flores do jardim, que gostavam de assistir seus movimentos no ar.
A dona do jardim percebeu como sentia falta de sua florzinha dançarina. Voltou a parar ali, junto a Ella, para ver a sua dança. Não ficava mais horas e horas com Ella. Mas todo o tempo em que estava ali, deixava transparecer o seu amor. E saía do jardim sempre feliz, cheia do amor que Ella e as outras flores tinham para lhe dar...
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