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Mamãe com açúcar

Mamãe com açúcar





Quando eu nasci, não sabia nada do mundo. Tudo era muito claro, muito seco, muito barulhento, muito estranho. Tudo era muito diferente de onde eu vinha, um lugarzinho só meu, onde eu passava o tempo todo nadando no escuro, dando cambalhotas e pontapés e ouvindo uma voz carinhosa que dizia me amar. Eu estava lá, confortável, e então estava aqui: me arrancaram de onde eu vinha, limparam meus ouvidos, aspiraram meu nariz, me deram tapas no bumbum. Eu quis voltar, quis muito! Mas não deixaram. E então eu ouvi aquela voz, senti aquele amor, me dizendo ' bem-vindo!' E eu comecei a me sentir melhor.

Os dias se passaram e o lugar estranho passou a ser a minha casa. A voz carinhosa, agora, era a voz dos meus dias e noites. Era a voz da minha fome, do meu sono, do meu conforto. Era a voz que resolvia todos os meu problemas, que me acariciava, me acarinhava, me dava de mamar. A voz da mamãe. Logo eu aprenderia a chamar por ela. Primeiro com um chorinho baixo, depois um grito forte. E finalmente, 'mamã'. Como ela ficou feliz em ouvir isto!

Tinha sempre, junto com esta voz, uma mão forte. Que parecia segurar a nós dois: mamãe e a mim. Sempre disposto a nos acolher, a nos proteger. Uma outra voz, por quem eu também aprendi a chamar. 'Papá' era o nome dele.

Estas duas vozes, estas quatro mãos, estavam sempre comigo. Me levavam para o berço na hora de dormir. Estavam lá quando eu acordava. Me levavam para passear, para brincar, para conhecer o mundo. E me davam broncas também.

E eu tinha outras vozes, outras mãos comigo. E tinha aquelas, aquelas vozes muito especiais. Aquelas mãos que me cobriam de abraços. Aquelas pessoas que me enchiam de beijos. Me deixavam fazer bagunça, riam disto. Broncas, nunca houve. Mas os carinhos, sem fim. E tanto, mas tanto amor, que eu achava que era uma outra mamã. Mas que esta tinha açúcar...

Quando eu cresci, eu entendi. Mamãe, só há uma. E só uma pode mesmo haver. O amor incondicional e a entrega total são da mamãe. E também são dela as bronquinhas. Muitas e muitas! Mexer no fogão é perigoso, não pode pegar a faca para brincar, não pode atravessar a rua correndo. Por vezes, ela me deixava irritado. Por que não posso brincar com a faca de carne, afinal? Eu batia o pé, me jogava no chão. Ela me olhava séria e dizia 'está de castigo, senta aqui para pensar no que você fez.' Ai, como eu ficava danado com os castigos! Eu não queria pensar no que eu tinha feito, queria sair logo para brincar e pronto! Precisei crescer muito para entender que aqueles castigos eram outra forma da mamãe demonstrar o seu amor. Uma forma importantíssima, que me fez crescer saudável e feliz.

Mas aquelas outras vozes, aquelas outras mãos, não aplicavam castigos. O amor, da mesma forma, era infinito. E o carinho tinha um jeito todo especial. E era ali, com aquelas pessoas de açúcar, que eu podia ser levado, malcriado e até mal educado. Não tinha castigo. Tinha, quando muito, um muxoxo : 'meu filho, não faz assim...' E eu não fazia. Porque eu queria vê-los sorrindo o tempo todo. Porque o sorriso deles me aquecia a alma, embora eu ainda não soubesse disto.

Quando eu cresci eu descobri. Mãe só há uma, sempre. Pai, só há um – na maioria da vezes. Mas avós... Avós são muitos, e quanto mais melhor! São os pais dos pais, os pais dos padrastos e madrastas, são os irmãos dos avós... São todas estas mãos que nos guiam, na infância, nos acolhem, nos enchem de alegria.

Ter mãe e pai é bom demais. Mas ter avós é ainda melhor! Porque a vovó é a mamãe com açúcar: o mesmo amor com o dobro da doçura! E melhor que isto, só dois disto! Por isso que mãe é una, e avó são duas, pelo menos...



Para todas as vovós e vovôs com açúcar, um beijo muito especial! Feliz dia dos avós!!!!

3 comentários:

Aretusa disse...

Olha que a Sophia sabe bem o que é ter esses avôs e avós cheios de açúcar!! Teve uma época, Dadá, que eu não podia falar mais sério com Sophia, que ela já ia correndo pedir abrigo pros avós e isso com menos de 2 anos!!! Hoje em dia, ela pede pra ligar pra eles e eles ficam mais derretidos ainda!!
Bom d+ !
Beijocas,
Aretusa, mamãe da Doce Sophia

Dadá disse...

Sossô manipulando os avós, hein? Que danadinha!!!

Are, o Davi está fazendo a mesma coisa, nós estamos arrancando os cabelos! Porque os avós... Já sabe, né? Atendem as vontades mesmo, nem pensam que a criança está fazendo birrinha! ;)

Beijão para vocês!!!!

carol disse...

Eneida,

Adorei seu texto, cheio de amor e ternura como sempre. Um beijo na sua avó e na sua mãe !
Letícia

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