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O passarinho cantor

O passarinho cantor




Ele já saiu do ovo cantando. Sim, cantando – nunca deu um pio sequer na vida! Já nasceu entoando lindas melodias. Era mais que um passarinho. Era um passarinho cantor.

O passarinho cantor cresceu e tornou-se conhecido em toda a vizinhança. Seu canto encantava todos que passavam pelo parque do bairro. Do alto de uma árvore, o passarinho cantava e cantava, todos os dias, sem parar. Alguns casais gostavam de sentar em um banquinho no parque para ficar ouvindo a cantoria. Como se fosse uma serenata, encomendada especialmente para celebrar aquele amor. As crianças passavam correndo, tentavam imitá-lo. Ele parecia gostar disto. Quanto mais gente por perto, quanto maior a algazarra, melhor ele cantava. Era um passarinho feliz.

Só que a felicidade é para ser dividida com todos. Não pode ser só de um, porque ninguém é feliz sozinho. Mas ele não sabia disto. Ele, um homem que se chamava José.

José era um homem simples, que tinha esposa e um filho e morava em uma casinha muito longe do seu trabalho. José acordava cedo, bem cedo, atravessava a cidade de ônibus para chegar à construção. Na construção, era mestre de obras, fazia de tudo um pouco. Trabalhava o dia inteirinho debaixo do sol. No final do dia, atravessava a cidade de volta para casa. Sua vida era assim, e ele estava satisfeito. Tinha emprego, tinha uma esposa que o amava, tinha um filho que o adorava. Era, também ele, feliz.

Um dia, José ficou na construção até muito tarde. Naquele dia tinham tido tantos problemas que ele não percebeu a hora passar. E não se deu conta do dia: era o aniversário do seu filho! José queria muito comprar um presente, mas não tinha dinheiro para isto. Queria dar algo especial para o filho, mas não sabia o que. Caminhava para o ponto do ônibus quando ouviu. Ele, o passarinho, no seu canto feliz. José deu um sorriso. Era isto. O presente ideal!

José voltou até a construção. Como era muito habilidoso, juntou algumas ripas de madeira e, em menos de meia hora, construiu uma gaiola. Foi até o parque, levando um pedacinho de pão. Chamou pelo pasarinho, mostrando o pão. O passarinho veio, pousou em seu ombro. Ele o pegou com carinho e o prendeu na gaiola. Foi para casa, mais feliz do que nunca.

Chegou em casa tão tarde que o filho estava dormindo. Foi até o quarto, deu-lhe um beijo e sussurou: 'amanhã te dou seu presente.' O dia seguinte era domingo, ele poderia aproveitá-lo com o filho.

No domingo, pela manhã, José acordou num pulo. Estava doido para ver a reação do seu filho ao seu presente. Correu até o quarto e o acordou: 'filho, venha ver o seu presente!' O menino levantou rápido da cama, curioso para ver o que seu pai lhe trouxera.

Foram até a cozinha e o pai apontou a gaiola:

  • Veja, meu filho, o passarinho cantor que lhe trouxe!

O menino foi feliz ver seu passarinho. Esticou-lhe o dedo, deu-lhe um pedacinho de pão. O passarinho, alheio ao menino, estava encostado em um canto da gaiola.

  • Canta, passarinho! Queremos ouvir! - pediu José.

Mas o passarinho não se mexia. Olhava a tudo com indiferença. José ficou um pouco irritado, foi até a gaiola e a sacudiu:

  • Eu te trouxe para cantar para o meu filho! Trate de cantar, farsante!

Sua ira era inútil. O passarinho, imóvel, não parecia ser o mesmo da véspera. Quanto mais calado ele permanecia, mais zangado José ia ficando. Seu filho, temendo que seu pai se aborrecesse ainda mais, resolveu intervir:

  • Pode deixar, papai. Eu vou fazê-lo cantar! - e, dizendo isto, abriu a porta da gaiola.

O pai deu um salto em direção ao menino, tentando impedi-lo. Ele começou a dizer: 'não faça isto, que...' , mas não conseguiu terminar.

O passarinho deu duas voltas sobre as cabeças do pai e do filho, numa velocidade impressionante. Pousou, então, no ombro do menino. E entoou a mais linda melodia, durante quase uma hora, sem parar. Pai e filho ouviam, maravilhados, o canto do passarinho.

Quando terminou de cantar, o passarinho deu outra volta sobre a cabeça dos dois e saiu voando pela janela. O pai, ainda surpreso com tudo o que acontecera, olhou para o filho:

  • Meu filho! Você soltou o passarinho, agora não tem mais presente!

O filho riu. Riu com a sabedoria ingênua e verdadeira das crianças. E ensinou ao pai uma lição valiosa:

  • Papai, quem está preso não tem voz! Meu presente foi o canto do passarinho, e ter podido dividir este momento com você o tornou ainda mais especial.

O pai então entendeu. Ninguém deve ser engaiolado, ninguém pode perder a voz: todos devem poder dizer o que pensam. Só assim aprendemos uns com os outros. E a verdadeira felicidade é poder dividir, com que amamos, os melhores momentos de nossas vidas. Mesmo que seja algo tão singelo quanto o canto de um passarinho.

1 comentários:

carol disse...

Eneida,
Linda história, realmente as crianças sabem das coisas. Por que mudamos tanto quando viramos adultos ? Temos muito que aprender com as crianças que não são materialistas e sabem valorizar a amizade e a alegria nas pequenas coisas.

Bjos
Letícia

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