Alecrim dourado
Tinha passado o dia das crianças e todos tínhamos ganhado presentes. Eu ganhei livros dos meus pais, e ganhei outras coisas também. Minha tia me deu um caminhão que andava sozinho, empinava a parte da frente, tocava uma sirene. Um barato! E aí o Luca disse que tinha ganhado um brinquedo que era uma rampa para você colocar os carrinhos. E nós ficamos pensando se será que dava para colocar o caminhão na tal da rampa.
Dissemos que queríamos nos encontrar e as mães logo ajeitaram tudo. As mães são a minha, a do Luca, a da Carol e a do Enzo. Minha mãe e minhas tias. Que não são minhas tias de verdade, mas que são como se fossem, porque minha mãe diz que família a gente tem a de sangue, e tem a de coração. E eu curto um bocado sair com
estes meus primos de coração!No dia em que nós marcamos, fomos todos para a casa do Luca. A Ana, que toma conta dele, estava lá. E aí a mãe do Luca falou assim:
Ana, você acha que dá conta das crianças para nós sairmos um instantinho?
E a Ana disse que dava conta, sim, Dona Juliana, de tomar conta da gente.
E é claro que ela dava conta! De pequenininho, mesmo, só tinha a Lara! Minha irmã é mais nova que a gente, e a única que ainda usa fraldas. Nós todos já sabemos ir ao banheiro e sabemos nos comportar muito bem, imagina! Não iríamos dar trabalho nenhum!
Ficamos no chão da sala sentados com nossos brinquedos novos. Eu, com meu caminhão. O Luca, com a rampa e os carrinhos. Enzo levou um carro conversível. A Carol levou uma Barbie, e a Larinha uma boneca que dava cambalhotas dizendo 'mamãe'.
Colocamos a Barbie dirigindo o carro esportivo – ela não tinha muita pinta de andar em caminhão, Carol disse. Daí prendemos uma fita no caminhão, que puxava o carro. E ia o comboio subindo a rampa, até que no alto capotavam e caíam. Era muito, muito engraçado! Fizemos isto milhares de vezes, rindo muito. Só a Larinha que não ligou muito, mas a Ana ficou brincando com ela e ela nem reclamou.
Estávamos distraídos na nossa brincadeira quando a Ana disse:
Tenho que trocar a fralda da Lara. Vou ajeitar um lachinho para vocês. Vocês comam bonitinhos enquanto eu cuido da neném, está bem?
Está bem! - respondemos todos.
A Ana colocou pãezinhos e biscoitinhos e suco na mesa e nos chamou. Sentamos os quatro, dois de cada lado da mesa da cozinha. Bem no meio da mesa, tinha um prato com uns pedacinhos de um pão quadrado e cheiroso.
O que é isto? - Enzo perguntou?
Foccacia – o Luca respondeu. - Meu pai que fez.
E este negócio verde aqui. Não é orégano! - eu disse, porque conheço e adoro o sabor do orégano.
É alecrim – Luca explicou.
Ah, não é mesmo! - A Carol disse. Alecrim é dourado!
Não é não! É verde, olha aí! - Luca retrucou.
Alecrim é dourado! - disse a Carol. Você não sabe?
Alecrim é dourado mesmo – Enzo continuou. Eu também sei disto.
Eu também lembro de alecrim ser dourado – concordei.
Mas aqui é verde – Luca disse.
Na Galinha Pintadinha é dourado! - a Carol prosseguiu.
É mesmo! - concordamos todos.
Será que a gente consegue fazer este alecrim ficar dourado? - Enzo perguntou?
Como? - o Luca quis saber.
Acho que se colocar no forno fica dourado. O frango fica! - eu disse, lembrando da minha mãe dizendo que ia dar uma dourada no frango ao colocá-lo no forno.
No microondas é mais rápido, né? - Carol opinou.
É – dissemos os três.
Vamos tentar! - sugeriu Enzo.
Pega aí o alecrim – disse o Luca.
Eu e a Carol catamos todos os galhinhos de alecrim que tinha em cima da foccacia e demos para o luca. Ele pegou o pratinho dele, de inox, que tinha escrito ' Luca ' na borda e vinha com um desenho de um leão. Colocou todos os galinhos bem espalhados e disse:
Pronto, vamos lá!
A Carol abriu a porta do microondas e o Luca colocou o pratinho lá dentro.
E agora? - perguntei.
E só apertar 'mais um! - disse o Enzo, apertando uma tecla com o número 1.
Ficamos olhando para ver o que aconteceria. Será que conseguiríamos ter o alecrim dourado, igual na musiquinha?
Não precisamos esperar quase nada. Em um segundo, ouvimos um barulho. Levamos um susto e corremos para sala. Foi a nossa sorte.
O alecrim não ficou dourado, mas a cozinha do Luca, sim. Dourado, cor de fogo mesmo. O tal pratinho de inox explodiu dentro do micrrondas, foi um barulhão e um fogo que queimou até o teto! A Ana apareceu na mesma hora, com a Lara no colo, desesperada. Correu, jogou um balde d'água em tudo. Tudo aconteceu tão, tão rápido, que quando vimos já tinha queimado e apagado. Levamos uma bronca tremenda e ficamos de castigo um tempão. Só a Lara escapou.
Isto aconteceu ano passado. Depois do dia das crianças, este ano, pedimos para nos encontrar, e as mães deixaram. Mas ficaram todas as mães e todos os pais do nosso lado o tempo todo. Vigiavam a gente tão de perto que nem os carrinhos nos deixaram capotar!
E o pior de tudo é que já passou este tempo todo, e, até hoje, ainda não descobrimos como fazer o tal do alecrim dourado! O Enzo sugeriu que talvez se a gente fritasse, igual batata, desse certo. Queríamos tentar. Mas eu acho que tão cedo não nos deixam chegar perto de uma cozinha novamente...
A IMAGEM DESTA HISTORINHA É DA WWW.BONEQUINHOSDEPALITO.COM.BR
1 comentários:
Oi Dadá,
linda a historinha. Me deu vontade de tentar fritar o alecrim dourado. Será que dá certo?
beijos
Chris
http://iventandocomamamae.blogspot.com/
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