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Um dia feliz!

Um dia feliz!



Parecia ser um dia comum, destes dias ensolarados de inverno em que o ventinho gelado no faz sorrir. O perfume das flores parecia mais intenso, as nuvens pareciam mais azuis, os passarinhos cantavam mais bonito. Um lindo dia comum.

Ela acordou, como todas as manhãs, e correu até o quarto do príncipe, que já estava sentado em seu bercinho lhe chamando:

  • Mamã! Mamã!

  • Bom dia, bom dia, como é que vai você? Estou muito bem, prá lá de bem, como ninguém! - cantarolou como de costume.

Pegou o príncipe em seus braços e deu-lhe um beijo estalado. Que delícia sentir um cheirinho de príncipe logo no comecinho do dia! Isto a fazia tão feliz...

Desceram, os dois, tomaram o café da manhã juntos. Brincaram, brincaram. Leram uma história linda, de uma fadinha chamada Clara Luz. Ela conhecia a história muito bem, quase podia contá-la sem ler. Tinha a lido muitas e muitas vezes quando era criança. E agora era a vez do pequeno príncipe conhecer esta fada, sua mãe, a rainha das fadas e todo o universo daqueles que tem boas e novas ideias.

O livro acabou, foram até o quintal, continuaram brincando. Então príncipe quis almoçar e mostrou que estava com sono. Era natural. Correra muito atrás das irmãzinhas de quatro patas, todas elas. E eram muitas!

O príncipe voltou para o seu bercinho, para descansar. Ela, então, notou, estranhamente, que também estava cansada. Muito cansada. Um estranho cansaço que lhe parecia familiar.

Desceu as escadas, sentou-se no sofá, pensativa.'O que estará acontecendo?' E foi, então, que ouviu um ruído. Alguém se aproximava... voando!

Correu para abrir a janela antes que a pobre ave se espatifasse no vidro. Ela entrou esbaforida, pediu um copo d'água e anunciou:

  • Olá, olá! Cheguei!

Ela levou um susto! Conhecia bem aquela ave... Dona Cegonha já havia lhe visitado antes!

  • Bom dia, Dona Cegonha, o que fazes aqui?

  • Trago boas novas! Preparem-se para meu retorno – em março eu volto, trazendo uma encomenda para esta casa!

  • Que encomenda?

  • Ainda não sei dizer... Davi precisa de um irmão, talvez venha o João. Por outro lado, com um laço de fita o papai sonhara, talvez venha a Lara.

  • O que vier será bem-vindo! - disse feliz.

  • Então prepare-se! Volto num piscar de olhos.

Dona Cegonha saiu voando pela janela e ela sorriu. O sol sorria no céu, os passarinhos sorriam ao cantar, as flores sorriam no jardim. O mundo todo sorria. E o dia comum deixou de ser um lindo dia comum para se tornar um dia feliz. Um dia muito feliz!!!!



Nossa primeira foto de família com o bebê a caminho!!!! Um lindo presente que minha prima Carol Horácio me deu de surpresa!!!! Amei, amei, amei, e por isso quis dividi-lo com vocês!!!! Querem um também?


www.bonequinhosdepalito.com.br

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A historinha do dia

Gente,

para não estragar a surpresa, a explicação veio depois da história!

Há algum tempo venho me sentindo extremamente cansada, sonolenta... desconexa! Tenho várias historinhas escritas que ainda não consegui finalizar, um livrinho lindo de um Menino de Chocolate (um herói que vem de uma família de heróis e vão acabar com o mau-humor, o marasmo, a monotonia) que está praticamente pronto, faltando só eu editar, histórias que me pediram e eu já tenho na cabeça, mas não consigo colocar no papel... Enfim, estou super desconcentrada. Esqueço as coisas facilmente, perco textos. Um horror! E aí, na quinta-feira passada eu descobri a razão de estar assim. E é um motivo maravilhoso: estou grávida!!!

Eu e o Felipe queríamos já encomendar o segundo filho. Começamos a querer tentar e pronto! Veio, no susto, igualzinho ao Davi: super rápido! Estamos muuuuito felizes!!! E eu, que já disse aqui que a felicidade é para ser partilhada, estava doida para dividir isto com vocês!

Aproveito para me desculpar pelas minhas desatenções. Sei que tem sido muitas... Não consigo lembrar a vez mais recente em que disse :'seja bem-vindo', para alguém que adicionou o facebook do blog. Mas eu AMO vocês estarem lá, assim como AMO todos os comentários aqui no blog! Eu estou mesmo com a cabeça no ar. Mas prometo, logo, logo, parar de flutuar. E dar uma atençãozinha extra a todos vocês! No meio tempo, peço um pouquinho de compreensão e paciência. Nem sempre é fácil conseguir escrever algo estando enjoada, com tonteiras - foi o que aconteceu ontem, por isso postei uma historinha da Ruth Rocha para vocês. O blog continuará a todo vapor, sempre com uma historinha nova por dia, mas talvez eu demore um pouco a responder comentários, estas coisas. Se for como na gravidez do Davi, é beeem passageiro mesmo. Fiquei fora do ar durante o primeiro trimestre, depois fiquei super focada. Espero que desta vez aconteça o mesmo! :)

Bom, ainda não sabemos o sexo, não sabemos nada. A previsão do bebê é para março. Como disse na história, João se for menino, Lara se menina. Não tenho palite, nem preferência. O Felipe acha que é menina, minha maẽ acha que é menino. O Davi levanta minha blusa, olha para a barriga e ri - o Felipe me assusta dizendo que ele consegue ver o bebê! Será que consegue?\o/

É isto! Quero ver todo mundo feliz junto comigo, hein?!? Vamos comemorar!!!!

Milhões de beijos

ps: o livro mencionado na historinha, da fadinha Clara Luz, é A FADA QUE TINHA IDEIAS, da FERNANDA LOPES DE ALMEIDA, da ED. ÁTICA. Amooooo!!!!!! :))

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Faca Sem Ponta Galinha Sem Pé- RUTH ROCHA


Faca Sem Ponta Galinha Sem Pé

Esta é a história de dois irmãos.
Com eles aconteceu uma coisa muito esquisita, muito rara e difícil de acreditar.
Pois eram dois irmãos: um menino, o Pedro. E uma menina a Joana.
Eles viviam com os pais, seu Setúbal e dona Brites.

E os problemas que eles tinham não eram diferentes dos problemas de todos os irmãos.
Por exemplo...

Pedro pegava a bola para ir jogar futebol, lá vinha Joana:
- Eu também quero jogar!
Pedro danava:
- Onde é que já se viu mulher jogar futebol?
- Em todo lugar.
- Eu é que não vou levar você! O que é que meus amigos vão dizer?
- E eu estou ligando pro que os seus amigos vão dizer?
- Pois eu estou. Não levo e pronto!

Joana ficava furiosa, batia as portas, chutava o que encontrasse no chão, fazia cara feia.
Dona Brites ficava zangada:
- Que é isso, menina? Que comportamento! Menina tem que ser delicada, boazinha...
- Boazinha? Pois sim! - respondia Joana de maus modos.

Ás vezes Pedro chegava da rua todo esfolado, chorando.
- Que é isso? - Espantava-se seu Setúbal. - O que foi que aconteceu?
- Foi o Carlão! foi o besta do Carlão! Me pegou na esquina - choramingava Pedro.
Seu Setúbal ficava furioso:
- E você? O que foi que você fez? Por acaso fugiu? Filho meu não foge! Volte pra lá já e bata nele também. E vamos parar com essa choradeira!
Homem não chora!

Pedrinho desapontava:
- Eu estou chorando é de raiva! É de ódio! Joana se metia :
- Homem é assim mesmo! Quando a gente chora é porque é mole, é boba, é covarde. Agora, homem quando chora é de ódio...

Pedro ficava furioso, queria bater na irmã.
Dona Brites entrava no meio:
- Que é isso, menino? Numa menina não se bate nem com uma flor...
Pedro ia embora, pisando duro:
- Só com um pedaço de pau...
E as brigas se repetiam sempre.

Quando Joana subia na árvore para apanhar goiaba, Pedro implicava:
- Mãe, olha a Joana encarapitada na árvore.
Parece um moleque!
- Moleque é o seu nariz! - gritava Joana. - Você toda hora está em cima de árvore, por que é que eu não posso?
- Não pode porque é mulher! Por isso é que não pode. E não adianta vir com conversa mole, não! Mulher é mulher, homem é homem!

Quando Pedro botava camisa nova e se olhava no espelho, Joana já implicava:
- Olha a mulherzinha! Como está vaidoso...
Ou então quando Pedro ficava comovido com alguma coisa, como filme triste, que tem menininha sozinha, sem ninguém para cuidar dela, Joana já começava a caçoar:
- Vai chorar, é? E agora é de ódio, è?

Mas nas outras coisas eles eram bem amigos:
Jogavam cartas, viam televisão juntos, iam ao cinema...

Um dia...
Tinha chovido muito e os dois vinham voltando da escola.
De repente, Pedro gritou:
- Olha só o arco-íris!
- É mesmo! - disse Joana. - que grandão! Que bonito!
- Puxa! - espantou-se Pedro. - Parece que está pertinho! Vamos passar por baixo? Vamos!

Joana se riu:
- Tia Edith disse que se a gente passar por baixo do arco-íris, antes do meio-dia, homem vira mulher e mulher vira homem...
- Que besteira! - disse Pedro. - Quem é que acredita numa coisa dessas?
E os dois se deram as mãos e correram, correram, na direção do arco-íris. E de repente pararam espantados.

Eles estavam se sentindo esquisitíssimos!
- O que aconteceu? - perguntou Joana.
E a voz dela saiu diferente, parece que mais grossa...
- Sei lá! - disse Pedro.
Mas parou de pressa, porque ele estava falando direitinho como uma menina.
- Aconteceu comigo uma coisa muito estranha... - resmungou Joana.
- Comigo também... - reclamou Pedro.
E os dois se olharam muito espantados...
E correram para casa.

Vocês podem imaginar o reboliço que foi na casa deles quando contaram o que tinha acontecido.
No começo ninguém estava acreditando.
- Que brincadeira mais idiota! - falou seu Setúbal.
- Vamos parar com isso? - disse dona Brites.
Mas depois tiveram que se convencer...
E naquele dia, no jantar, ninguém brigou para saber se menina podia ou não podia fazer isso ou aquilo.
Afinal ninguém sabia direito quem era quem...

O pai e mãe de Joana e Pedro ficaram conversando até de madrugada.
- Acho melhor nem contarmos pra ninguém - dizia seu Setúbal.
- Mas como é que vai ser? - argumentava dona Brites.
- Todo mundo vai notar! E podem até pensar coisa pior...
- E o nome deles? - perguntou seu Setúbal.
- Como é que fica?
- É mesmo! - choramingou dona Brites. - A Joaninha, meu Deus, que tinha o nome da minha mãe. Que Deus a tenha em sua glória, agora vai ter que se chamar Joano! Joano, Setúbal! Isso é lá

nome de gente? E o Pedro, que horror! Vai ter que se chamar Pêdra. Pode uma coisa dessas?
- E tem um outro problema em que estou pensando - disse seu Setúbal. - Está bem que a gente vista o Joano de homem... afinal as mulheres hoje em dia só querem se vestir de homem... mas vestir a Pêdra de mulher... não sei, não! E se ele, quer dizer, ela, virar homem outra vez?
- Ah, sei lá! - disse dona Brites. - Jà nem sei o que pensar. Acho melhor a gente ir dormir...

No dia seguinte o problema da roupa foi resolvido com facilidade. Foi só vestir calça de brim nos dois, mais camiseta e tênis.
Joano e Pêdra estavam brincando e rindo, como se nada estivesse acontecido, disfarçando para que os pais não se preocupassem ainda mais do que já estavam preocupados. Mas assim que saíram de casa ficaram sérios. Eles não sabiam como é que iam fazer na escola.
Logo na esquina, Pedro, quer dizer Pêdra, que agora era menina, deu o maior chute numa tampinha de cerveja que estava no chão.

- Vamos parar co isso? - disse Joano. - Menina não faz essas coisas.
- E eu sou menina? - reclamou Pêdra.
- É, não é?
- Ah, mas eu não me sinto menina! Tenho vontade de chutar tampinha, de empinar papagaio, de pular sela...

- Ué, eu também tinha vontade de fazer tudo isso e você dizia que menina não podia - reclamou Joano.
- Mas é que todo mundo diz isso - disse Pêdra. - que menina não joga futebol, que mulher é dentro de casa...
- Pois é, agora agüenta! Não pode, não pode, não pode...

- Ah, mas agora eu posse chorar a vontade, posse dizer fita, posso ter medo de escuro...
Quando tiver que ir buscar água de noite você é que tem que ir... e quando eu quiser ver novela ninguém vai me chatear...

E eles ficaram ali, uma porção de tempo, discutindo a situação.
De repente Pêdra lembrou-se de que precisava ir para o colégio.
- Sabe de uma coisa? - disse Joano. - Eu é que não vou para escola desse jeito ridículo.
- Não sei por que ridículo. Ridículo estou eu, aqui, virado em mulher.
- E você quer ir para escola? - perguntou Joano.
- Eu não - respondeu Pêdra.
E sentou num murinho, muito desanimada.
Joano sentou também.
- Sabe de uma coisa? - disse Pêdra. - Nós temos é que encontrar o arco-íris pra passar por baixo outra vez.
- Mas não está nem chovendo - choramingou Joano, que agora era menino mas bem que estava com vontade de chorar...
- É, mas se a gente não procurar não vai encontrar. E se não encontrar vai ficar desse jeito o resto da vida!

Então Joano tomou uma decisão:
- Olha aqui. Eu vou mas não vou levar você, não! Vou é sozinho! Menina só serve pra atrapalhar.
Pêdra ficou danada da vida:
- Ah, é? Então vire-se! Eu também vou procurar sozinha e não quero conversa com você.
Vamos ver quem encontra primeiro.
E cada um foi para o seu lado, sem nem olhar para trás.
Os dois rodaram o dia inteirinho, mas não tinha caído nem uma chovinha, de maneira que não havia jeito de encontrar o arco-íris. E no outro dia foi a mesmo coisa, e no outro, e no outro.

E em casa as coisas estavam piorando cada vez mais. Um implicava com o outro, caçoava, proibia:
- Menino não pode!
- Menina não faz!
- Onde é que já se viu?
- Coisa mais feia!
- Vou contar pra mamãe!
Se o arco-íris não aparecesse logo...

Até que um dia eles acordaram e estava chovendo a maior chuva que já tinha visto.
Trovão, relâmpagos, água que não acabava mais.
Os dois ficaram torcendo para a chuva passar. E quando passou, saíram, como sempre um para cada lado, procurando o arco-íris.

Joano chegou para lá da escola, num lugar onde ele nunca tinha ido.
E já vinha voltando, desanimado, quando viu, bem na sua frente, o arco-íris.
Joano correu e passou por baixo.
Mas não aconteceu nada.
Joano continuava Joano...

Com Pêdra aconteceu mais ou menos a mesma coisa.
Andou, andou, até fora da cidade. E só quando vinha voltando é que encontrou o arco-íris, passou por baixo e nada!

Na porta de casa os dois se encontraram:
- Nada, hein? - perguntou Pêdra.
- Nadinha! - respondeu Joano.
- Que será que aconteceu? - disse um.
- Que será que não aconteceu? - disse o outro.
E os dois se sentaram - tão amigos! - e contaram, um ao outro, como é que eles tinham passado por baixo e nada tinha acontecido...
De repente Pêdra se levantou animada:
- Espere um pouco! A tia Edith disse que tinha que passar embaixo do arco-íris antes do meio-dia, não foi? Então, pra desvirar tem que ser

Depois do meio-dia, é ou não é?
- É mesmo! - disse Joano. - E tem mais uma coisa. Pra mudar de sexo nós passamos de lá pra cá, não foi? A gente vinha voltando da escola, não vinha? Pois agora a gente tem que passar daqui pra lá, pra desvirar.

Pêdra ficou olhando para Joano:
- Sabe que você é bem esperta para uma menina?
Joano respondeu:
- Você também é bem esperta... pra uma menina.
Os dois se riram como há muito tempo não faziam. E juntos saíram á procura do arco-íris.

E de repente lá estava ele.
Grande, brilhante, colorido, como um desafio.
Joano e Pêdra deram-se as mãos.
E correram, juntos, em direção do arco-íris.
E finalmente perceberam que alguma coisa, novamente, tinha acontecido.
Então riram, se abraçaram e abraçados começaram a voltar para casa.
Então Joana viu uma tampinha de cerveja na calçada.
Correu e chutou a tampinha para Pedro.
Pedro devolveu e os dois foram jogando tampinha até em casa...
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A historinha do dia

Gente,

eu tenho duas avós que cozinham bem! Comigo, ainda, uma. Outra me guia lá do Céu! Mas tive a sorte de poder tê-las bastante presentes quando era criança, me ensinado a fazer bolo, brigadeiro, tortinhas... Muito bom! Porque o melhor de tudo não era a delícia que fazíamos. Era o tempo delicioso que passávamos juntas. E a historinha de hoje é falando exatamente disto.

É isto. Espero que gostem! Estou correndo porque hoje eu vou mesmo cozinhas! ;)

Mil beijos e bons sonhos!!!!
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Receita de bolo

Receita de bolo



Do alto dos seus três anos e meio de idade, sabia bem o que queria, e anunciou:

  • Vou fazer um bolo!

A avó, com toda a paciência e docilidade típica das avós, sorriu e concordou de imediato:

  • Está bem, vamos fazer um bolo!

  • Não, vovó, você, não! Quero fazer sozinha!

Chamava-se Nina e era a princesinha de toda a família. Filha única, neta única, afilhada e sobrinha única: em tudo ela era única. Até no jeito faceiro de dizer e desdizer as coisas. A avó, que se chamava vovó mesmo, conhecia o temperamento da netinha. E sabia como lidar com ela.

  • Mas Nina, você precisa de uma ajudante! Todo chef tem um ajudante. Deixa a vovó brincar também, vai!

  • Tá bom, mas você vai ser ajudante! E não é brincadeira: eu quero fazer um bolo de verdade!

  • Eu sei, meu anjo, eu sei – a avó continha-se para não rir da neta.

Um por um, a vovó foi colocando todos os ingredientes na bancada da cozinha. Pegou ainda a batederia e o seu velho livro de receitas. Já fizera tantos bolos na vida que não precisava da receita. Mas queria que a neta visse o livro, conhecesse os ingredientes, soubesse fazer uma receita seguindo o livro.

  • Pronto, Nina! Está tudo aqui. Vamos começar?

  • Sim, vovó! - a neta estava felicíssima.

  • Primeiro nós vamos bater os ovos com o açúcar. Pegue os ovos, Nina.

A menina pegou os ovos. Olhava-os fixamente. Perguntou:

  • Vovó, como que a gente sabe qual ovo vira ovo e qual ovo vira pinto?

A avó coçou a cabeça. Que perguntas ela andava fazendo estes dias! Crescia rápido demais e suas dúvidas iam ficando cada vez mais difíceis de serem respondidas.

  • Bom, quem decide é o dono da granja. A galinha põe os ovos, ele corre e pega. Estes ficam sendo ovos, mesmo. Os que ele não pega a galinha choca. E aí viram pintos.

  • E a galinha não diz nada?

  • Não, não que eu saiba!

  • Isto é meio injusto, hein, vovó! A galinha devia poder dizer o que deveria ser feito de seus ovos.

  • É, eu sei, meu anjo, mas infelizmente as galinhas não falam. Você quer continuar fazendo o bolo?

  • Sim, claro!

  • Vamos lá. Misture o açúcar. Pode colocar a xícara toda. Muito bem. Agora é só bater um instantinho.

  • Quanto tempo dura um instantinho, vovó?

  • Depende.

  • Do que?

  • Da sua referência.

  • Qual o instantinho do bolo?

  • É o tempo do ovo ficar bem misturadinho com o açúcar. Pronto, viu? Acabou este instantinho.

  • E agora?

  • e a manteiga.

A vovó ia explicando e Nina ia fazendo tudo direitinho. Claro que com milhões de pergunta. A vovó levava todas as perguntas da neta muito a sério. Conhecia a sabedoria das crianças e tratava de tirar proveito do tempo que passava com a netinha. Ficaram durante quase meia hora fazendo a massa do bolo, e então a avó o colocou no forno – explicou que criança não pode mexer em fogo sob o risco de se queimar.

  • Pronto, Nina. Enquanto o bolo assa, vamos fazer a cobertura. Que tal de caramelo?

  • Eu gosto de caramelo!

  • Muito bem, vamos fazer, então.

  • Vovó, que árvore dá o caramelo?

A avó, distraída, não prestou atenção à pergunta.

  • Que, Nina?

  • O caramelo. Ele nasce em qual árvore? A laranja é na laranjeira, o limão no limoeiro, a banana na bananeira. Mas eu nunca vi um pé de caramelo!

Desta vez a avó não conseguiu se conter e soltou uma gargalhada. Nina franziu os olhos, contrariada. Não gostava que rissem dela. A vovó se desculpou:

  • Desculpe, meu anjo, mas sua pergunta foi muito engraçada!

  • Por que?

  • Porque caramelo não dá em árvore nenhuma! Vou te mostrar.

A avó pegou um tantinho de açúcar e colocou numa panelinha. Em segundos começaram a surgir umas bolinhas e em um minuto uma linda calda havia se formado.

  • Viu, Nina? Caramelo é açúcar derretido!

A menina soltou, também ela, uma gargalhada. Tinha entendido a graça da pergunta.

Terminaram a calda, o bolo estava assado. A avó o tirou com cuidado do forno, jogou a calda sobre ele. Nina quis enfeitar o bolo, e avó deu-lhe uns confeitos coloridos. O bolo estava pronto, afinal.

A vovó fez um suco para Nina e um café para ela. Sentaram-se as duas à mesa. Comeram, cada qual, duas fatias. Passaram o resto da tarde conversando.

Nina foi embora e a vovó pegou o livro de receitas. De todos os bolos que fizera na vida, este tinha sido, de longe, o mais gostoso. Achou que deveria fazer uma anotação. Onde estava escrito 'bolo para o lanche', ela riscou. Escreveu, por cima: 'bolo para a Nina'. E acrescentou, entre os ingredientes: adicionar uma pitada de curiosidade infantil e uma xícara de amor. Sorriu, fechou o livro.

Como era bom poder dividir as coisas boas da vida com quem amamos, pensou. E começou a contar os minutos para a próxima visita da neta.

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A historinha do dia

Gente,

ontem passei a tarde em uma oficina da contação de histórias. Acho que não preciso dizer o quanto me diverti, né? :)

As professoras Sonia Sampaio e Deka Teulb contaram-nos histórias, falaram da importância da contação, do papel do contador. E, o que eu mais gostei: propuseram algumas dinâmicas. Em uma delas, dividiram a turma - éramos cerca de 20 pessoas - em grupos, e deram um saquinho de pano para cada grupo. Dentro de cada saco, um conjunto de objetos. A intenção era pegarmos os objetos e criarmos uma história, que contaríamos aos demais. O meu grupo pegou os seguintes objetos: um 'rei' (era um boneco plástico do Sultão do Alladin), três pedrinhas verdes, um anjo, uma cobra Naja, um frasquinho de perfume. Decidimos a história e a contamos. Gostei bastante do resultado final. Tanto que hoje trouxe a história para cá. Mudei um pouco o modo como a contamos ontem - afinal, ontem éramos 5, cada um tinha uma opinião e uma narrativa diferente. Contei do jeito que eu contaria sozinha.

É isto. Espero que todos se divirtam com a historinha - tanto quanto eu me diverti ao 'criá-la' com meu grupo!

Mil beijos e bons sonhos!!!!
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O ovo da sabedoria


O ovo da sabedoria



Havia, há muitos e muitos anos, um rei muito ganancioso que vivia em um lindo palácio. O rei, com uma ambição sem limites, oprimia seu povo, que via-se obrigado a trabalhar e trabalhar para cobrir as despesas reais. Os impostos e taxas altíssimas fazia com que o povo fosse muito pobre, contrastando com a riqueza de seu soberano.

Dentre os tesouros do rei, havia aquele que ele considerava seu bem mais valioso. Ele havia roubado, muitos anos antes, três pequenas pedras, donas de enorme poder. As pedras eram mágicas, e poderiam realizar quaisquer desejos que seu dono fizesse. O rei orgulhou-se em ter estas pedras durante muitos anos.

Um dia, chegou aos ouvidos do rei a notícia de um grande tesouro culto. Este tesouro encontrava-se muito longe dali, era protegido contra invasores. Sua fortuna, diziam, era de valor inigualável. O rei, no momento em que soube deste tesouro, quis tê-lo para si. Resolveu, então, sair numa expedição em busca dele. Sabendo que enfrentaria perigos e adversidades no meio do caminho, pegou suas três pedras mágicas, como garantia de que conseguiria chegar ao lugar de destino.

O rei pôs-se a viajar e, logo no primeiro dia, viu-se obrigado a usar uma de suas pedras. Havia, no meio da estrada, um enorme abismo. O rei não seria capaz de pulá-lo, e contorná-lo adiaria sua viagem em semanas. Pegou, então, uma de suas pedrinhas e ordenou:

  • Que seja construída uma ponte para que eu atravesse o abismo em segurança.

Mal o rei acabou de pronunciar as palavras, zimpt! A ponte surgiu em sua frente, ligando os dois lados do abismo. O rei atravessou a ponte com calma e em minutos estava do outro lado, satisfeito de ter tido seu desejo atendido.

O rei caminhou durante o resto do dia. Ao cair da noite, exausto, o rei queria descansar. Como era, além de tudo, preguiçoso, não levou os itens suficientes para montar um acampamento. O rei não estava preocupado com isto. Pegou a segunda pedra e ordenou:

  • Que seja construída uma confortável tenda, com comidas e bebidas, cama quente e travesseiros macios para eu repousar.

Na mesma hora, zimpt! Num passe de mágica, estava armada a barraca, com um banquete à espera do rei e uma enorme cama rodeada de travesseiros.

O rei sorriu, comeu e bebeu tudo o que tinha vontade e então deitou na cama. Adormeceu na mesma hora,e só levantou quando o sol já brilhava alto no céu.

O rei continuou andando durante todo o outro dia, até que deparou-se com um enorme palácio. Um palácio que era dez vezes maior que o seu, tinha as paredes feitas em ouro e as janelas cravejadas de brilhantes.

  • 'É aqui', o rei pensou. ' Só pode ser!'

Os olhos do rei brilhavam. O palácio era esplendoroso, e o rei pensava que tomaria toda aquela fortuna para si. Aproximou-se do grande portão de entrada e tentou empurrar a porta. Para sua surpresa, levou um choque.

  • 'O portão é enfeitiçado!', exclamou o rei. 'Eu preciso entrar para ver que tesouros este pacio esconde', pensou.

O rei pegou a última pedra mágica que tinha e disse:

  • Que os feitiços que protegem este palácio se quebrem, para que eu possa nele entrar e conhecer seus tesouros.

Ouviu-se um ruído sem som, como uma cortina de papel que cai. Zimpt! O portão abriu-se devagar, permitindo ao rei entrar no palácio.

Quando atravessou o portão, o rei ficou maravilhado! A beleza externa do palácio não era nada comparada ao seu interior. Ouro, diamantes, peças em prata e cobre, luxuosas tapeçarias: o rei estava extasiado com tamanha riqueza. Começou a pegar os diamantes e enfiá-lo em seus bolsos. Separava as peças de ouro e prata, pensando em quão rico ficaria. Estava tão distraído contando a fortuna que não percebeu, no fundo do salão principal, uma pequena saída para outra sala.

O rei já havia pego todo o ouro que era capaz de carregar, os maiores diamantes e várias peças de prata. Estava pronto para retornar ao seu palácio quando, finalmente, percebeu a saída no fundo do salão principal.

  • Que outros tesouros haverão ali? - o rei pensou. - Para estar escondido, deve ser algo ainda mais valioso! E, com sua ganância desmedida, atravessou a saída e entrou na outra sala.

Para sua surpresa, na outra sala não havia ouro, prata, diamantes. Havia um pequeno ovo, em um altar, que tinha um leve brilho. E, na frente deste ovo, uma gigantesca cobra para protegê-lo.

O rei enfiou as mãos no bolso, tentando pegar uma de suas pedras mágicas. Mas ele já as tinha usado, não tinha mais nada que pudesse protegê-lo. A cobra, rápida, deu um salto em direção ao rei. Bastou uma pequena mordida para que o rei caísse frente à cobra, dormindo o mais profundo dos sonos.

Para sorte do rei, passava, neste momento, um anjo por ali. E, ao ver o que acontecera, entrou no castelo para ajudar ao soberano. Com um sopro mágico, o anjo transformou a cobra em uma pequena minhoca, ao mesmo tempo em que o rei despertava de seu sono.

O rei, sempre ganancioso, levantou e correu para o ovo. 'Se este era o único bem protegido em todo este palácio, deve mesmo ser de valor inestimável', pensou. Pegou o ovo em suas mãos e... zimptzumptzamptzim! Um enorme clarão cercou o rei e ele caiu, tonto, no chão.

O anjo correu para acudi-lo. O rei estava aos prantos.

  • O que eu fiz? O que eu tenho feito?

O grande tesouro que o palácio escondia era mesmo o ovo. Só que seu valor não estava em ouro ou prata. Aquele pequeno ovo era especial, era o ovo da sabedoria. Tão logo o rei o teve em suas mãos, teve consciência de todo o mal que fazia ao seu povo com sua ambição desmedida.

E assim foi que, com a ajuda do anjo, o rei voltou ao seu palácio. Assim que chegou, distribuiu toda a sua riqueza a quem a merecia: o povo.

Naquele reino distante, hoje, não há mais palácio luxuoso, rei ambicioso. Há um soberano justo, e um povo feliz. Como deveria ser em todos os reinos que existem por aí...

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A historinha do dia

Gente,

hoje eu trago uma historinha que eu, sinceramente, gostei muito de escrever. Ontem, de repente, me veio uma frase à cabeça: 'quem está preso não tem voz'. E eu quis contar uma historinha dizendo isto.

Nós nos impomos muitas prisões, diariamente. A prisão social, do 'que os outros vão pensar?' é apenas uma dela. Muitas outras existem, e muitas vezes não nos damos conta disto. Já as crianças... Que sabedoria, que esperteza! Nada as prende, nada as detém! Eu ando numa fase muito boa da vida, querendo voar cada vez mais alto. Mas voar sozinho não tem graça, e eu quero trazer todo mundo comigo! Por isso a historinha. É um convite para todos vocês, meus amigos, ficarem felizes junto comigo. Um jeito meu de dizer: 'vamos voar juntos!' E aí, vamos? :-)

Mil beijos e bons sonhos!!!!
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O passarinho cantor

O passarinho cantor




Ele já saiu do ovo cantando. Sim, cantando – nunca deu um pio sequer na vida! Já nasceu entoando lindas melodias. Era mais que um passarinho. Era um passarinho cantor.

O passarinho cantor cresceu e tornou-se conhecido em toda a vizinhança. Seu canto encantava todos que passavam pelo parque do bairro. Do alto de uma árvore, o passarinho cantava e cantava, todos os dias, sem parar. Alguns casais gostavam de sentar em um banquinho no parque para ficar ouvindo a cantoria. Como se fosse uma serenata, encomendada especialmente para celebrar aquele amor. As crianças passavam correndo, tentavam imitá-lo. Ele parecia gostar disto. Quanto mais gente por perto, quanto maior a algazarra, melhor ele cantava. Era um passarinho feliz.

Só que a felicidade é para ser dividida com todos. Não pode ser só de um, porque ninguém é feliz sozinho. Mas ele não sabia disto. Ele, um homem que se chamava José.

José era um homem simples, que tinha esposa e um filho e morava em uma casinha muito longe do seu trabalho. José acordava cedo, bem cedo, atravessava a cidade de ônibus para chegar à construção. Na construção, era mestre de obras, fazia de tudo um pouco. Trabalhava o dia inteirinho debaixo do sol. No final do dia, atravessava a cidade de volta para casa. Sua vida era assim, e ele estava satisfeito. Tinha emprego, tinha uma esposa que o amava, tinha um filho que o adorava. Era, também ele, feliz.

Um dia, José ficou na construção até muito tarde. Naquele dia tinham tido tantos problemas que ele não percebeu a hora passar. E não se deu conta do dia: era o aniversário do seu filho! José queria muito comprar um presente, mas não tinha dinheiro para isto. Queria dar algo especial para o filho, mas não sabia o que. Caminhava para o ponto do ônibus quando ouviu. Ele, o passarinho, no seu canto feliz. José deu um sorriso. Era isto. O presente ideal!

José voltou até a construção. Como era muito habilidoso, juntou algumas ripas de madeira e, em menos de meia hora, construiu uma gaiola. Foi até o parque, levando um pedacinho de pão. Chamou pelo pasarinho, mostrando o pão. O passarinho veio, pousou em seu ombro. Ele o pegou com carinho e o prendeu na gaiola. Foi para casa, mais feliz do que nunca.

Chegou em casa tão tarde que o filho estava dormindo. Foi até o quarto, deu-lhe um beijo e sussurou: 'amanhã te dou seu presente.' O dia seguinte era domingo, ele poderia aproveitá-lo com o filho.

No domingo, pela manhã, José acordou num pulo. Estava doido para ver a reação do seu filho ao seu presente. Correu até o quarto e o acordou: 'filho, venha ver o seu presente!' O menino levantou rápido da cama, curioso para ver o que seu pai lhe trouxera.

Foram até a cozinha e o pai apontou a gaiola:

  • Veja, meu filho, o passarinho cantor que lhe trouxe!

O menino foi feliz ver seu passarinho. Esticou-lhe o dedo, deu-lhe um pedacinho de pão. O passarinho, alheio ao menino, estava encostado em um canto da gaiola.

  • Canta, passarinho! Queremos ouvir! - pediu José.

Mas o passarinho não se mexia. Olhava a tudo com indiferença. José ficou um pouco irritado, foi até a gaiola e a sacudiu:

  • Eu te trouxe para cantar para o meu filho! Trate de cantar, farsante!

Sua ira era inútil. O passarinho, imóvel, não parecia ser o mesmo da véspera. Quanto mais calado ele permanecia, mais zangado José ia ficando. Seu filho, temendo que seu pai se aborrecesse ainda mais, resolveu intervir:

  • Pode deixar, papai. Eu vou fazê-lo cantar! - e, dizendo isto, abriu a porta da gaiola.

O pai deu um salto em direção ao menino, tentando impedi-lo. Ele começou a dizer: 'não faça isto, que...' , mas não conseguiu terminar.

O passarinho deu duas voltas sobre as cabeças do pai e do filho, numa velocidade impressionante. Pousou, então, no ombro do menino. E entoou a mais linda melodia, durante quase uma hora, sem parar. Pai e filho ouviam, maravilhados, o canto do passarinho.

Quando terminou de cantar, o passarinho deu outra volta sobre a cabeça dos dois e saiu voando pela janela. O pai, ainda surpreso com tudo o que acontecera, olhou para o filho:

  • Meu filho! Você soltou o passarinho, agora não tem mais presente!

O filho riu. Riu com a sabedoria ingênua e verdadeira das crianças. E ensinou ao pai uma lição valiosa:

  • Papai, quem está preso não tem voz! Meu presente foi o canto do passarinho, e ter podido dividir este momento com você o tornou ainda mais especial.

O pai então entendeu. Ninguém deve ser engaiolado, ninguém pode perder a voz: todos devem poder dizer o que pensam. Só assim aprendemos uns com os outros. E a verdadeira felicidade é poder dividir, com que amamos, os melhores momentos de nossas vidas. Mesmo que seja algo tão singelo quanto o canto de um passarinho.

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A historinha do dia

Gente,

hoje, dia 26 de julho, comemoramos o dia dos avós. E é claro que a historinha do dia é para eles.

Tem um ditado que diz que 'mãe só tem uma, porque duas ninguém aguenta.' Mãe só tem uma mesmo. Pai, às vezes tem mais de um. Mas avós... quantos mais melhor! O Davi tem dois avôs e duas avós, uma bisavó e um batalhão de tias-avós. E adora fazer bagunça com todos eles!

A imagem foi uma linda homenagem ao dia dos avós, que minha prima fez para seus pais. Ela ainda vai fazer o Davi com os meus pais, também. Por hoje, fica a priminha e os tios-avós do Davi! :) Uma tia, aliás, que controlava bastante a nossa bagunça quando éramos crianças. Mas que, no domingo, deixou o Davi fazer uma farra na casa dela! Porque avó é assim... A imagem apaixonante é obra da Carol Horácio. Para conhecer mais e encomendar este trabalho original, divertido e lindo, passem no http://bonequinhosdepalito.blogspot.com. Vocês vão se apaixonar, podem apostar!!! ;)


Um beijo muito especial para a minha avó e para os avós do Davi. Espero que todos estejam cobrindo seus avós de beijos também!!! :)


Mil beijos e bons sonhos!!!!
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Mamãe com açúcar

Mamãe com açúcar





Quando eu nasci, não sabia nada do mundo. Tudo era muito claro, muito seco, muito barulhento, muito estranho. Tudo era muito diferente de onde eu vinha, um lugarzinho só meu, onde eu passava o tempo todo nadando no escuro, dando cambalhotas e pontapés e ouvindo uma voz carinhosa que dizia me amar. Eu estava lá, confortável, e então estava aqui: me arrancaram de onde eu vinha, limparam meus ouvidos, aspiraram meu nariz, me deram tapas no bumbum. Eu quis voltar, quis muito! Mas não deixaram. E então eu ouvi aquela voz, senti aquele amor, me dizendo ' bem-vindo!' E eu comecei a me sentir melhor.

Os dias se passaram e o lugar estranho passou a ser a minha casa. A voz carinhosa, agora, era a voz dos meus dias e noites. Era a voz da minha fome, do meu sono, do meu conforto. Era a voz que resolvia todos os meu problemas, que me acariciava, me acarinhava, me dava de mamar. A voz da mamãe. Logo eu aprenderia a chamar por ela. Primeiro com um chorinho baixo, depois um grito forte. E finalmente, 'mamã'. Como ela ficou feliz em ouvir isto!

Tinha sempre, junto com esta voz, uma mão forte. Que parecia segurar a nós dois: mamãe e a mim. Sempre disposto a nos acolher, a nos proteger. Uma outra voz, por quem eu também aprendi a chamar. 'Papá' era o nome dele.

Estas duas vozes, estas quatro mãos, estavam sempre comigo. Me levavam para o berço na hora de dormir. Estavam lá quando eu acordava. Me levavam para passear, para brincar, para conhecer o mundo. E me davam broncas também.

E eu tinha outras vozes, outras mãos comigo. E tinha aquelas, aquelas vozes muito especiais. Aquelas mãos que me cobriam de abraços. Aquelas pessoas que me enchiam de beijos. Me deixavam fazer bagunça, riam disto. Broncas, nunca houve. Mas os carinhos, sem fim. E tanto, mas tanto amor, que eu achava que era uma outra mamã. Mas que esta tinha açúcar...

Quando eu cresci, eu entendi. Mamãe, só há uma. E só uma pode mesmo haver. O amor incondicional e a entrega total são da mamãe. E também são dela as bronquinhas. Muitas e muitas! Mexer no fogão é perigoso, não pode pegar a faca para brincar, não pode atravessar a rua correndo. Por vezes, ela me deixava irritado. Por que não posso brincar com a faca de carne, afinal? Eu batia o pé, me jogava no chão. Ela me olhava séria e dizia 'está de castigo, senta aqui para pensar no que você fez.' Ai, como eu ficava danado com os castigos! Eu não queria pensar no que eu tinha feito, queria sair logo para brincar e pronto! Precisei crescer muito para entender que aqueles castigos eram outra forma da mamãe demonstrar o seu amor. Uma forma importantíssima, que me fez crescer saudável e feliz.

Mas aquelas outras vozes, aquelas outras mãos, não aplicavam castigos. O amor, da mesma forma, era infinito. E o carinho tinha um jeito todo especial. E era ali, com aquelas pessoas de açúcar, que eu podia ser levado, malcriado e até mal educado. Não tinha castigo. Tinha, quando muito, um muxoxo : 'meu filho, não faz assim...' E eu não fazia. Porque eu queria vê-los sorrindo o tempo todo. Porque o sorriso deles me aquecia a alma, embora eu ainda não soubesse disto.

Quando eu cresci eu descobri. Mãe só há uma, sempre. Pai, só há um – na maioria da vezes. Mas avós... Avós são muitos, e quanto mais melhor! São os pais dos pais, os pais dos padrastos e madrastas, são os irmãos dos avós... São todas estas mãos que nos guiam, na infância, nos acolhem, nos enchem de alegria.

Ter mãe e pai é bom demais. Mas ter avós é ainda melhor! Porque a vovó é a mamãe com açúcar: o mesmo amor com o dobro da doçura! E melhor que isto, só dois disto! Por isso que mãe é una, e avó são duas, pelo menos...



Para todas as vovós e vovôs com açúcar, um beijo muito especial! Feliz dia dos avós!!!!

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Dia da Vovó!!!

Gente,

hoje é dia de Santa Ana, mãe de Maria. Por isso, hoje, 26 de julho, comemoramos o dia da Vovó! Eu sou abençoada em ter minha avó, aos 95 anos de idade, lúcida e feliz, querendo comemorar o dia dela. Abençoada duplamente pelo Davi ter a minha mãe, avó querida, sempre por perto. Abençoada triplamente pelo Davi ter a minha sogra, a outra avó querida, sempre por perto também - embora às vezes eu tenha que lhe dar um puxão de orelhas porque ela chega a passar duas semanas sem vir aqui em casa! :)

Eu estou saindo agora para comprar uma lembrancinha para estas três pessoas maravilhosas - a minha avó e as avós do Davi. A historinha do dia vai ser postada atrasadinha em função disto, mas sei que vocês entenderão o justo motivo! ;)

Dêem muitos beijos e abraços nas vovós que tem em suas vidas!!! Eu farei isto o dia todo!!!

Mil beijos, Dadá
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A historinha do dia

Gente,

quem tem a mesma idade que eu, um pouco mais ou um pouco menos, conhece esta imagem aqui ao lado. Quantas e quantas vezes não o ouvimos rugir no cinema? E era o máximo, não é?

Hoje a história trata de um leão. Um leão que, como todos os outros, é o rei da floresta. Ele tem que governar todos os outros animais. E pretende fazê-lo de forma justa, mas encontra dificuldades no meio do caminho. Então ele parte para a solução mais fácil: rugir alto.

Esta historinha tem uma razão de ser. O Davi entrou na fase da birra, está meio egoísta. Ontem, não queria emprestar um brinquedinho - que não era nem dele, por sinal- fez escândalo. A mãe da outra criança, com peninha, queria que a filha ( de uns três aninhos) devolvesse o brinquedo ao Davi. E eu bati pé firme: 'de jeito nenhum! Ele tem que aprender a dividir.'

Toda mãe passa por isso, né? É brabo... Educar não é fácil, mas é preciso. Quero que o meu filho cresça sabendo dividir, querendo ajudar ao próximo. Porque de gente rugindo alto o mundo já está cheio! Precisamos de mais abraços do que rugidos...

É isto. Espero que gostem!

Mil beijos e bons sonhos!!!!
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O Leão

O Leão





Assim que ele nasceu, trataram de lhe avisar: 'você é o rei de tudo, aqui.' Sim, ele mesmo. O Leão. Que, ao nascer, era um leãozinho fofinho, peludo, que mais parecia um bichinho de pelúcia do que o rei do que quer que fosse. Mas ninguém fica bebêzinho para sempre e também o leãozinho logo cresceu.

O leão não sabia o que significava ser o rei dos animais, o rei da floresta. Nunca lhe disseram exatamente a sua função, apenas que deveria cuidar de tudo. E ele ficava encafifado com isto. Como deveria cuidar de todos? O que era o melhor para todos?

Assim que cresceu um pouquinho, o leãozinho começou a andar pela floresta perguntando aos outros animais o que eles achavam que era o melhor para todos. Ao invés de ajudá-lo, sua pesquisa só lhe deixou mais confuso. Cada animal tinha uma opinião diferente do que era melhor para todos. Na verdade, cada um só dizia o que era melhor para si, não pensavam na coletividade.

O pai do leãozinho, o Sr. Leão, vendo que seu filho não sabia como agir, chamou-lhe para uma conversa séria.

  • Meu filho, em breve, eu me aposento. Eu e sua mãe vamos viajar, conhecer o mundo. Você irá assumir minhas funções.

  • Eu sei, papai – respondeu o leãozinho.

  • Sabe, mas não age como tal. Você é o rei da floresta!

  • Eu sei, papai.

  • Pois então pare de perguntar o que os outros pensam. Você é o rei, você decide o que é o melhor para todos!

  • Mas... e se eu achar errado? E se o que eu penso que é o melhor não é?

  • Tanto faz. Você é o rei, você decide e pronto. Eu vou te mostrar a mesma coisa que o meu pai me mostrou quando eu tinha a sua idade e as suas dúvidas.

E então o Sr. Leão levou o leãozinho para muito além da floresta. Andaram durante alguns dias até chegarem bem perto de uma cidade. O Sr. Leão avisou que só poderiam andar à noite, porque ninguém poderia vê-los. E foi numa noite que ele levou o leãozinho para um lugar mágico. Nele, havia um grande estacionamento, com carros parados uns ao lado dos outros. E, na frente de todos os carros, uma enorme tela branca. De repente, a tela iluminou-se. No meio dela, surgiu um enorme rosto de leão. Ele rugia alto, virando a cabeça. Parecia a criatura mais forte de todo o mundo. O leãozinho assistiu encantado àquela cena.

De volta para casa, o Sr. Leão deu seu conselho 'seja sempre como o leão que ruge alto!', que tinha sido o mesmo conselho que recebera de seu pai, muitos anos antes.

O leãozinho começou a treinar seu rugido. Em pouco tempo, rugia tão alto quanto o leão do filme. E estava grande o suficiente para assumir o comando da floresta.

O sr. e a sra. Leão arrumaram as malas, despediram-se do filho e colocaram o pé na estrada. Estavam querendo viajar há muito tempo e agora, finalmente, tinham a oportunidade.

E assim o leãozinho virou o Leão, o rei da floresta. De início, tudo permaneceu igual, sem que nenhum animal se desse conta de que ele agora comandava a bicharada. Até que um dia o lobo brigou com o macaco e os dois foram reclamar com o rei, pedindo que ele resolvesse o problema.

O Leão não sabia o que fazer, então fez a única coisa que sabia: rugiu alto, muito alto. O lobo e o macaco levaram um susto tremendo e saíram correndo dali. O leão ficou satisfeito. 'Resolvi a desavença', pensou.

Mais problemas surgiram, mais rugidos. O Leão achava que bastava rugir alto e forte que tudo se resolvia. Mas isto não era verdade. E foi assim que, uma hora, os problemas pararam de surgir.

Na verdade, os problemas continuavam acontecendo, como sempre acontecem. Mas os animais tinham tanto medo do Leão que não se aproximavam dele. Nomearam a girafa, que era justa, como 'juíza das causas florestais' e pronto. Surgia um problema, lá iam os animais consultar Dona Girafa. Ela pensava, ponderava, às vezes levava a questão ao rinoceronte, pedia opinião. E então solucionava o problemas. Todos ficavam muito felizes, sempre, com suas resoluções.

Todos, menos o Leão. Conforme o tempo foi passando, ele começou a se sentir muito sozinho. Não tinha amigos, não tinha com quem brincar, conversar: ninguém se aproximava dele. E ele foi ficando cada vez mais triste.

Um dia, o Leão saiu para dar uma volta. Foi até o riacho se refrescar. Chegando lá, encontrou o Elefante, que brincava de jogar jatos d'água no ar. Ao vê-lo, o Elefante fez cara de espanto, e já ia saindo de fininho, quando o Leão o chamou:

  • Elefante, não vá embora, por favor.

  • Sim, majestade – o Elefante estava azul de medo.

  • Podemos nos refrescar juntos, bater um papo.

  • Sim, majestade.

O Leão começou a contar das dificuldades de ser o rei da floresta, ter que tomar conta de todos. Contou de como treinava o seu rugido, e do quanto todos estavam satisfeitos, que não havia mais problemas na floresta.

E foi aí que o Elefante, mesmo com medo, resolveu contar a verdade ao Leão. Contou que todos o temiam, mais do que respeitavam. Contou dos problemas da floresta, da Dona Girafa e suas soluções.

O Leão ficou estupefato! Tudo aquilo acontecendo debaixo do seu nariz sem que ele tomasse conhecimento. Resolveu marcar uma audiência com a Dona Girafa. Conversaram durante horas. E então o rei da floresta convocou todos os animais à sua presença. E decretou:

  • A partir de hoje, todos governamos esta floresta! Eu sou o rei, e minha função é impedir que alguém de fora nos faça mal. Para isto é que serve o meu rugido.

Os animais entreolharam-se, sem saber o que pensar. Estaria ele falando a verdade? O Leão continuou o seu discurso:

  • A Dona Girafa e a Dona Coruja formam a junta da resolução. Todos os problemas deverão ser levados a elas. Elas analisarão e resolverão todos os problemas. Os que forem de difícil solução, irão encaminhar ao Sr. Rinoceronte, que emitirá um parecer. O Sr. Tigre será o chefe da segurança, que contará com a ajuda dos senhores Lobo, Hiena, Urso. Todos deverão defender a nossa floresta dos invasores...

E assim, um por um, o Leão foi dando função aos outros animais. Até as minhocas tinham uma função: manter o solo fértil. Todos ficaram muito satisfeitos com suas novas atribuições.


Ao final do discurso, o Leão disse:

  • E é assim que tem que ser. Todos nós tomando conta uns dos outros, pensando sempre no bem-estar do próximo. Todos cresceremos, produziremos juntos e seremos felizes assim.

O Leão estava certo. A floresta tornou-se um lugar único, onde todos ajudavam uns aos outros. Ninguém pensava só em si mesmo, todos queria o bem-estar geral. E foi assim que aquela pequena floresta, perdida no meio de tantas outras, tornou-se um lugar onde todos eram amigos e só faziam o bem. O lugar mais feliz do mundo, que deveria servir de exemplo para todos os outros...