Sumiço
A historinha do dia
A historinha do dia
A pituchinha
A Pituchinha
Numa loja de brinquedos, moravam muitas bonecas e bonecos bem juntinhos nas prateleiras. Durante o dia, a loja ficava cheia de gente: mães, tias, avós e amigos procurando presentes para dar às crianças.Quando a noite chegava, as luzes se apagavam, as portas se fechavam para só abrir novamente na manhã seguinte.Todos os brinquedos deviam ficar bem quietinhos para não fazer bagunça na loja.O problema é que nem todos conseguiam...- Olá! Eu sou a Pituchinha, uma boneca muito levadinha, que vive se metendo em confusão. Hoje queria ficar bem quietinha na noite, mas vi quando chegou aquele maravilhoso doce de leite, que foi guardado lá na cozinha... Mmmm, que fome! O que fazer?
Olhei para um lado e para outro da prateleira onde estava, e logo achei meus melhores amigos: Pompom e Polichinelo.
- Vamos dar um passeio na cozinha para comer só um pouquinho de doce de leite?
- Eu quero, disse Pompom.
- Eu também, disse Polichinelo. Mas como vamos enganar o guarda?
É verdade: os brinquedos eram proibidos de sair da estante, e durante toda a noite o guarda tomava conta da loja. A tudo ele vigiava e, quando dormia, era com um olho aberto e o outro fechado. Depois trocava: um olho aberto e o outro fechado... Não parava nunca, nem deixava de ver nadinha!
- Já sei! Vamos bem de mansinho, andando só quando ele fechar um dos olhos, depois paramos todos juntos.
E assim foram bem devagarinho: pé cá, pé lá... pé cá, pé lá ... pé cá, pé lá ...
E chegaram à cozinha escura. O guarda não viu nada.
Todos procuraram pelo pote de doce de leite, mas acabaram descobrindo que ele foi guardado lá no alto, dentro do armário.
Pompom esticou bem seus bracinhos, mas suas mãos não alcançavam a porta de cima do armário da cozinha.
Polichinelo também tentou, se esticando todo, mas não conseguiu chegar perto.
A Pituchinha então disse:
Cada um de nós sozinho nunca vai provar aquele delicioso doce de leite que está lá em cima. Meu plano é subirmos uns nos ombros dos outros para alcançá-lo, e então...
Todos gostaram da idéia, e foram logo fazendo. Primeiro foi Polichinelo, que era o mais forte. Depois Pompom subiu em seus ombros, e por último subiu a Pituchinha, que esticou bem os bracinhos e abriu a porta de cima do armário. O pote de doce de leite estava lá no fundo, e sua mãozinha estava quase conseguindo agarrá-lo. Deu mais uma esticadinha, tentou uma puxadinha e então...
O pote de doce de leite escorregou, voou na parede e ...
Bum!
Espalhou doce para todo lado. E o pior, com o barulhão, na certa o guarda iria pegá-los...
E pegou. Ficou muito zangado com aquela bagunça toda, que ele não queria limpar.
Foi então que teve uma idéia: guardou cada bonequinho em sua caixinha, bem preso por uma fita, para só se soltar na casa da criança que ganhar aquele brinquedo.
Desse dia em diante, as lojas de brinquedo passaram a guardar seus bonecos bem fechadinhos em caixinhas - para que não façam bagunça na loja de noite. Já reparou como eles vêm bem embaladinhos?
FIM
A historinha do dia
O livro da semana
Maluquinho por Carnaval
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A historinha do dia
O homem cheio de risada - Alexandre Rampazo
Do espetáculo da noite anterior só havia restado sacos de pipoca vazios e chicletes colados nos assentos, papéis de bala, palitos de algodão-doce e todo resto de diversão daquelas pessoas que foram ao circo à procura de um punhado de alegria.
Da fenda da lona listada em vermelho e branco, por trás do picadeiro e indo em direção à plateia vazia, surge uma vassoura que ia e voltava recolhendo aqueles restos de felicidade espalhados pelo chão.
Quem guia a vassoura é um magro e tristonho palhaço. Seu sapato é grande e vermelho, seu macacão é longo e colorido, e no rosto pálido coberto de maquiagem, tem pintado logo abaixo do olho direito uma lágrima, que nunca desliza, e fica ali, lembrando-o de sua tristeza. Ele é o palhaço mais triste do mundo por que não sabia fazer rir e se sentia vazio por isso. O dono do circo, já zangado por ter o palhaço mais sem graça do mundo, lhe deu uma vassoura e o serviço de faxineiro do circo.
Naquela noite, enquanto varria, notou algo diferente entre os restos de lixo no chão. Olhou encantado por toda a volta, e se perguntou como não havia visto antes o monte de risos e sorrisos ali soltos, espalhados pelo chão. Correu para recolher aquela porçado de felicidade em forma de risada. Eram risadas ardidas e explosivas. Outras baixinhas e contidas. Tinha até algumas risadas que pareciam soluçar.
Pegou algumas e juntou em suas mãos. As risadas tinham cheiro doce. Comeu, e tinha gosto de felicidade. Comeu, comeu e comeu até se encher de risadas. Apagou a lágrma em seu rosto e desenhou uma estrela.
Na noite seguinte, quando as cortinas se abriram, o palhaço fez sua melhor palhaçada. As risadas da platea lotada lotaram o picadeiro e eram sem fim.
Sentada assistindo ao maior espetáculo da Terra e com a barriga doendo de tanto rir, a menina apontou para o palhaço e disse bem alto, sem pensar em mais nada: “Vejam! O palhaço é um homem todo cheo de risada”.
Alexandre Rampazo
Escritor e ilustrador de diversas obras - como A Menina que Procurava - deixou o trabalho como diretor de arte para se à paixão pela literatura infantil
HISTORINHA PUBLICADA NA REVISTA CRESCER
A historinha do dia
Narciso quer ir à lua - parte final
Narciso quer ir à lua - parte final
Narciso acordou antes do despertador tocar. Estava ansioso, ansiosíssimo! Contava os segundos para chegar à lua. Correu até o armário do pai e pegou outro cinto. Era preciso instalar mais um, para que Júlia pudesse viajar em segurança. Desceu as escadas voando até o quintal. Olhou sua nave, e só então reparou. As bombinhas não fizeram a nave levantar voo, mas queimaram parte da pintura. Pegou as tintas e, rapidinho, fez os retoques. Pronto. A nave estava tinindo de nova outra vez! Mal ele terminou e Júlia chegou sorridente.
Nossa, Narciso. Como a sua nave tá bonita!
Acabei de pintá-la de novo. Trouxe os biscoitos?
Trouxe. Posso pintar umas flores, para verem que eu também estou na nave?
Pode. Mas só duas flores, para saberem que a nave é de menino!
Quatro!
Três!
Está bem, três. Mas na parte de trás!
Eu pinto do lado. É mais bacana.
Está bem, mas anda logo. Temos que ir e voltar antes do almoço.
Tá, tá. Então me ajuda aqui.
Os dois viraram a nave de lado e a menina pintou três flores: uma rosa, uma vermelha e uma amarela. Em cima delas, escreveu: Nave do Narciso e da Júlia. O menino reclamou:
A nave é só minha, Júlia!
Se não for minha também, não te dou o combustível!
Os olhos do pequeno viajante brilharam. O combustível! Ela conseguira, afinal?
Você trouxe?
Claro que sim! Não disse que ia trazer?
Qual é o combustível?
Gasolina, claro.
Você acha que é o combustível certo?
Ora, Narciso, se faz carro andar, vai fazer a nave andar também!
E como você conseguiu gasolina?
Peguei da mobilete da minha irmã. Mas, olha... se ela te perguntar, não fui eu não, hein!
Tá, tá.
Promete?
Prometido! - disse Narciso, esticando a mão para outro aperto de mãos. Ele e Júlia tinham muitos acordos e segredos e um nunca seria capaz de trair o outro.
Então. Onde colocamos a gasolina? - continuou Júlia.
As bombinhas eu colei na parte de baixo da nave...
Mas a gasolina não dá, né, mané! Tem que ter um tanque.
Tanque? A gente vai lavar roupa ao invés de comer queijo, é? - debochou o menino.
Não, não. Ai, você não sabe de nada, mesmo. Tanque de combustível, óbvio!
Eu não tinha nem pensado nisto... - confessou Narciso.
Pois trate de pensar! A gente tem que colocar a gasolina em algum lugar, senão não saímos do chão.
Aguenta aí que eu já volto ! - disse Narciso, correndo para dentro de casa.
O menino foi até seu quarto e revirou tudo. Achou, enfim, o que buscava. Pegou e voou de volta para o quintal.
Pronto, tá aqui! - anunciou.
O que é isso? - Júlia não sabia o que era aquele brinquedo.
É meu batmóvel! Olha só, ele tem um tanque bem grande aqui atrás – disse Narciso, virando o carro para mostrar à amiga.
Então tira ele e põe do lado da nave.
É pra já!
Narciso tirou o tanque do batmóvel, um carro enorme no qual ele conseguia subir e pilotar até o ano anterior. Agora crescera mais e o brinquedo se tornara pequeno. Mas o tanque ainda serviria, com certeza. Pegou mais fita durex e, sob o atento olhar de Júlia, pregou o tanque na lateral da nave. A lateral sem as flores, claro!
- Pronto. Tá instalado – comunicou o menino.
- Então abre a tampa que eu vou colocar a gasolina – disse Júlia, tirando de dentro de sua mochila uma garrafinha de água cheia do combustível.
A menina despejou devagar todo o líquido dentro do tanque improvisado. Sem que precisassem dizer uma única palavra, os dois amigos se olharam. 'A hora é esta', era a frase dita no silêncio do olhar. Narciso puxou os dois cintos, pegou o menor e estendeu para Júlia. A menina afivelou-se sem problemas, enquanto o amigo fazia o mesmo. Num piscar de olhos a nave estava pronta para decolar, com o tanque cheio de combustível e a tripulação a bordo.
E agora, Narciso? - perguntou Júlia
Agora a gente liga a nave.
Como?
Bom, era para ser uma chave, mas eu instalei a lanterna. Serve de farol extra e chave de ignição.
Ah, tá. Liga, então.
Vou ligar, se prepara!
Narciso ligou a lanterna. Nada. Desligou, ligou de novo. Nada. Tentou uma terceira vez. Júlia ficou impaciente.
Esta chave de ignição não funciona. Melhor a gente tentar outra coisa.
Como o que?
Não sei...
E se a gente jogasse uma bombinha de São João dentro do tanque?
Será que funciona?
Acho que sim.
É, não custa tentar.
Espera aí rapidinho que eu vou lá no meu quarto buscar e já volto.
Vai logo!
Narciso pegou a última bombinha que tinha, uma caixa de fósforos e foi para o quintal. Júlia já tinha tirado o cinto e o esperava do lado de fora da nave, com o tanque de combustível aberto e o forte cheiro de gasolina exalando pelo ar. O menino aproximou-se dela, mostrando a bombinha e os fósforos e...
Foi justamente neste minutinho que a mãe de Narciso chegou do mercado.
Chegou e levou um susto: de onde vinha aquele cheiro? Ao encontrar o filho e sua amiga à beira de tacar fogo na gasolina, perdeu a cor por um segundo. Apenas por um segundo, porque no seguinte ela já estava de fôlego refeito lhes dando uma tremenda bronca:
Vocês estão doidos? Querem incendiar tudo? Se jogarem fogo aí dentro não vai ter foguete indo pro espaço, vai ter vocês dois e a casa inteira junto, picadinhos pelos ares!
E foi só então que as duas crianças se deram conta do perigo que estavam correndo. Gasolina causa incêndios horríveis. Como não tinham pensado nisto antes? Envergonhado, Narciso disse timidamente:
Desculpa, mamãe, nós não pensamos direito. Tudo o que queríamos era ir até a lua para comer queijo...
Comer queijo na lua? - perguntou Dona Lúcia, mãe de Narciso.
Comer o queijo da lua – corrigiu Júlia.
Que história é esta?
E então Narciso e Júlia contaram para Dona Lúcia que a lua era feita de queijo – pelo menos foi isto que o primo da Júlia lhe dissera – e que estavam construindo uma nave espacial para ir até lá tirar umas lasquinhas.
Ao final da história, a mãe de Narciso já havia se esquecido do perigo, da bronca, de tudo. Estava às gargalhadas.
Só vocês, mesmo... - disse, rindo. - Em primeiro lugar, a lua não é feita de queijo, e sim de uma matéria rochosa. Em segundo, ainda que fosse feita de queijo, para chegar lá vocês precisariam estudar muito, tornarem-se astronautas e viajar numa nave apropriada. E em terceiro, para comer queijo vocês não precisam ter tanto trabalho. Eu acabo de trazer um queijo delicioso do mercado e vocês podem comer o quanto quiserem. Contanto que prometam se comportar e não se meter mais em confusão!
Nós prometemos! - disseram os dois, ao mesmo tempo.
Então Narciso e Júlia entraram e comeram queijo e queijo e queijo até se cansarem, sem nem precisar sair de casa.
E este seria o fim desta história, não fosse Narciso, além de guloso, curioso até não poder mais...
Ele ficou na dúvida entre quem estaria falando a verdade e resolveu tirar sua teima. Cresceu, sempre muito estudioso, e tornou-se um grande astronauta. Um dia ele chegou lá, na lua. Tocou no solo, viu do que era feito. Sorriu satisfeito e voltou para casa feliz...
Você quer saber se a lua é feita ou não de queijo? Então você pode ser um astronauta, como o Narciso. E, quando você descobrir, me conta!
Não gostou deste final? Tem outro:
E este seria o fim desta história, não fosse Narciso realmente o menino que mais gosta de queijo no mundo. Narciso cresceu sabendo distinguir os diferentes tipos, a origem, a
a consistência certa dos queijos. Tornou-se um renomado chef de cozinha, aplaudido no mundo todo por suas receitas de queijo. E Júlia, sua amiga de infância, continua sendo sua parceira. Até hoje é ela quem está ao seu lado, opinando na hora de decidirem o cardápio do restaurante que os dois montaram juntos...Quer mais um final?
Crie você! Coloque Narciso e Júlia na nave e os leve à lua; faça com que eles tenham uma dorzinha de barriga de tanto comer queijo; que eles se tornem amigos dos ratos de toda a vizinhança e dividam com eles todo o queijo do bairro. Invente o que quiser! E depois me conte como ficou! :)
A historinha do dia
Narciso quer ir à lua - Parte 1
Narciso quer ir à lua
Narciso acordou com uma vontade danada de ir até a lua. Estava com esta vontade desde a tarde do dia anterior quando, no recreio, Júlia lhe disse que a lua era todinha feita de queijo. E Narciso era o menino que mais gostava de queijo no mundo: branco, amarelo, cremoso e até aqueles bem fedidinhos –
Narciso devorava todos! Quando soube, então, que a lua era feita de queijo, nasceu nele uma vontade grande, grande, grande, de ir até lá.
Depois do café da manhã – onde sempre comia um queijo-quente, como era de se esperar -, começou a arrumar sua bagagem. Pegou uma mochila e abasteceu-a com tudo o que precisaria para sua viagem: um pacote de torradinhas, um pãozinho francês, três fatias de pão de forma e meio pacote de biscoito cream cracker. 'Vou ter bastante coisa para acompanhar aquele queijo todo', pensou. Abriu a geladeira e pegou ainda duas caixas de toddynho. Porque queijo dá um pouquinho de sede, vocês sabem.
Narciso saiu de casa e, logo na esquina, parou no ponto de táxi. Os motoristas conversavam distraídos, mas um logo reparou no menino. Foi até ele:
Olá, filho. Você quer ir para algum lugar?
Quero sim, senhor, e tenho pressa!
Sua mãe sabe que você está aqui na rua, sozinho?
Sabe, sim. Deixei um bilhete dizendo que daria uma saída e já voltava.
Muito bem. E para onde você quer ir?
Para a lua!
Para a lua?
Sim, eu quero ir para a lua! Me leva lá?
Desculpa, filho, mas eu não posso levá-lo até a lua.
Por que não? Eu tenho dinheiro, olha! - disse Narciso, catando várias moedinhas do bolso.
O problema não é este, garoto. O problema é que meu táxi não pode te levar até a lua.
Não pode?
Não. Não pode. Para isso você precisa de um táxi espacial.
E onde fica o ponto do táxi espacial?
Ih, rapaz, nesta você me pegou! Olha, eu acho que fica longe, em outro país.
Em outro país?
Pois é. E não sei se levam meninos, não. Acho que você teria que crescer mais um bocado...
Narciso voltou para casa triste. Como faria para pegar o tal táxi espacial? Como chegaria neste outro país onde fica o ponto? Pensou e pensou. Viu que era muito difícil pegar o táxi espacial, então teve uma ideia: construiria sua própria nave para ir até a lua!
O menino juntou tudo o que precisava para construir uma boa nave espacial. Pegou algumas caixas bem grandes de papelão, muitas tintas – era importante fazer uma nave bem colorida, para que os passarinhos saíssem de seu caminho – um farol quebrado de bicicleta, uma buzina, sua lanterna de escoteiro, tachinhas, fita durex e, claro, algumas bombinhas de São João.
A tarefa era dura, mas Narciso estava empenhado. Começou cortando as caixas de papelão. Com a fita durex, unia as pontas – que pregava com tachinhas, para ter certeza que aguentariam a viagem. Pintou a nave bem bonita, cheia de cores. Na parte da frente, colocou o farol (ele conseguiu ajustá-lo usando um tantinho de papel alumínio e nem dava para ver que estava
quebrado); acima dele a lanterna. Por dentro, instalou a buzina. Em toda a lateral, as bombinhas de São João. Agora só faltava zarpar rumo à lua! Pegou um cinto de seu pai, amarrou-o em volta da nave e se colocou dentro dele. Era muito importante estar com um cinto de segurança em uma viagem à lua, como vocês devem imaginar. Acendeu as bombinhas e…tec, tac, tec! As bombinhas estouraram, sem que a nave levantasse nem mesmo um tiquinho do chão.
Narciso, vem almoçar! Anda, senão você se atrasa para a escola!
Já vou, mamãe!
Narciso estava arrasado! Uma nave tão bonita, mas que não levantava voo. E agora já estava na hora da escola, hoje não conseguiria chegar até a lua.
Foi para a escola, cabeça baixa e ar distraído. Não prestou muita atenção ao que a professora dizia. Seu pensamento estava muito distante dali. Na lua...
Na hora do recreio, sentou num canto da quadra. Júlia chegou num pulo, perguntando de uma vez:
Ei, que bicho te mordeu hoje?
O menino contou, tintim por tintim, tudo o que acontecera. A amiga riu:
Você é bobo mesmo, hein, Narciso! Você acha que bombinha de São João é combustível de foguete?
Eu achei que dava para...
Deixa de falar besteira! Tem que ter algo que funcione de verdade.
Como o que?
Não sei... Vou pensar em alguma coisa e amanhã de manhã eu vou lá para tua casa. Mas você tem que prometer que me leva junto!
Eu te levo. Mas se você levar mais biscoitos, para podermos comer o queijo todo!
Combinado!
Os dois apertaram as mãos, selando o acordo. Amanhã, enfim, viajariam até a lua...
A historinha do dia + poesia
Quero morar num sorvete - Penélope Martins
Penélope Martins (autora)e Rebeca Drumond (ilustradora)
Quero morar num sorvete
Pobre do Jacaré que míngua
Encolhido vai virar lagartixa
Parece mentira a fala minha
Mas até suor brota da língua!
Eis que surge uma ideia fabulosa
Refrescante, genial e gostosa
Uma explosão de contente:
QUERO MORAR NUM SORVETE!
Brisa suave, camisa de algodão
Chinelos de dedo, bermudão
Uma casinha de sorvete.
Sem calda de caramelo ou chantilly Sem confeito que derreta por aqui Uma casinha de sorvete
Não quero nada chique,
complicado
Tralhas que deixam tudo
melecado
E até vem bronca por ser
desleixado...
Gelado, simples, com sabor natural Pequenos flocos prismáticos
Casinhas de tamanho exato
Nada de fenomenal
Sem sofisticação
Um simples sorvete de limão.
Conto publicado na REVISTA CRESCER
Filhos - Ivone Jorge
É o melhor bem do mundo
o essencial do nosso ser
são sangue do nosso sangue
nosso ventre os viu crescer
o dia mais feliz
a alegria assim o diz
é amor a tempo inteiro
não se pode imaginar
que os podemos ver sofrer
todo instante só queremos
sua vida proteger
por eles morreriamos
um momento para sempre
a benção dos conceber
é o seu maior presente
Ivone Jorge
Sociedade Portuguesa de Autores nº124378
A historinha do dia
A partida de futebol
A partida de futebol
Era um domingo de sol e, como em todos os domingos, dia de futebol. Naquele domingo, no entanto, não haveria apenas uma partida: seria a decisão do campeonato! As duas maiores torcidas, cada uma de um lado do arquibancada, veriam seus craques correndo atrás da bola, deslizando pelo campo, buscando o tão sonhado gol. Todos estavam eufóricos!
Pouco depois das três o estádio já estava cheio. Os jogadores, na concentração,
combinavam o modo de ataque, a melhor defesa. Cada movimento contava, eles sabiam. Futebol é um jogo de equipe: precisavam estar bem afinados, todos no mesmo tom, para saírem vencedores. Dois times, dois concorrentes e a mesma vontade de levantar a taça.
Às quatro em ponto o juiz apitou e o jogo começou. E começou bem começado, com Dedé correndo direto entre seus oponentes, na gana de alcançar o gol. Conseguiu passar ligeiro e deu um chute forte...que foi parar nas mãos de Diego, o goleiro do outro time. Este foi apenas o primeiro de muitos lances ousados. Todos os jogadores, naquele domingo, viraram atacantes: todos eles queria fazer um gol, para desespero dos goleiros, que viravam e se reviravam como dava, tentando impedir a redonda de tocar o lado de dentro da rede.
Em uma jogada não ensaiada, Thiago conseguiu vencer a barreria inimiga e, para desespero de Fernando, o goleiro, marcou o primeiro ponto do jogo. Um a zero, a arquibancada do lado de cá quase veio abaixo! Gritos de 'é campeão' faziam tremer o estádio inteiro, enquanto o jogador, orgulhoso, jogava beijos para a plateia.
A disputa continuava acirrada e, não demorou muito, foi a vez da outra torcida comemorar. Alex conseguiu vencer a barreira de Diego e empatou o jogo, sob o grito de 'Vamos virar!' de sua torcida.
Bernardo passando para Felipe, Leandro impedindo, se jogando na frente da bola.
É falta! Foi no calcanhar dele! - gritava a torcida de cá.
Foi na bola! Foi na bola! - gritava a torcida de lá.
O juiz correu para o lance, mas não tinha visto o que acontecera. Lançou um olhar de súplica para o bandeirinha, que acenou. Foi falta, sim. Marcada na hora, o jogo seguiu.
Vieram outras faltas, veio um pênalti – perdido, para desespero do batedor e da torcida inteira! - vieram muitos lances. Gol, mesmo, não vinha. E então, de repente, veio, sem ser convidada, uma presença inesperada.
No meio daquela confusão de ataque e defesa, caiu o primeiro pingo sem que ninguém sentisse. Por pouco mais de um segundo, porque em seguida ela veio forte e impiedosa. A chuva!
A chuva encharcou os jogadores em minutos. A arquibancada esvaziou rapidamente, com muitos procurando abrigo. Os fanáticos continuaram ali, torcendo, empurrando os times para a frente. Os jogadores caíam no campo molhado, levantavam imundos. E continuavam correndo atrás da bola.
Os jogadores poderiam ter suportado a chuva o resto da partida. Era uma decisão de campeonato, afinal, não deveriam desistir por conta de um tantinho de água a cair do céu. Mas nem todo mundo pensava assim...
A primeira a aparecer, exatos seis minutos depois do começo da chuva, foi a Dona Almerinda. De capa e segurando um guarda-chuva, gritou para o artilheiro Dedé:
André, sai da chuva agora! Não quero você resfriado! Vamos embora para casa!
O menino não teve tempo de argumentar:
Mas, mamãe...
Nem mas, nem meio mas. AGORA! - disse, firme, obrigando o menino a deixar o campo.
Em seguida vieram a Dona Laura, a Dona Estela, a Dona Carmela... uma a uma, todas as mães do bairro correram até o campinho para levar seus campeões para casa.
A arquibancada improvisada com cadeiras de praia logo deixou de existir e o campinho de terra batida virou uma enorme poça de lama. Que triste fim para um campeonato... Mas só até domingo que vem, porque aí já é outro dia, com novos ânimos, muita animação e a vontade de ver seu time ser campeão de novo. Porque quando se é criança, todo domingo é dia de campeonato. E todo mundo que sabe aproveitar isto já é um campeão.